A indústria de laticínios precisa aprimorar a comunicação, apostar em novas categorias e no valor agregado para os consumidores, cada vez mais exigentes. Saiba como enfrentar essa crise.
leite

leite está consolidado há muito tempo como um dos itens mais básicos da dieta dos brasileiros, amplamente consumido em todas as regiões do país, seja puro ou em produtos derivados. Apesar disso, a indústria nacional de lácteos tem passado por grandes instabilidades nos últimos anos, decorrentes sobretudo de efeitos da pandemia e outros movimentos macroeconômicos que têm impactado negativamente os hábitos de consumo desses produtos.

No último ano, o preço dos insumos para a produção do leite subiu significativamente, o que estreitou a margem dos produtores e os desencorajou a trabalhar com o produto. Os motivos para a alta incluem a desorganização das cadeias produtivas, que resultou da covid-19, e a guerra no Leste Europeu, que tem impactado o preço de fertilizantes, combustíveis e commodities agrícolas no mundo.

Com a queda na oferta, o leite e seus derivados encareceram significativamente, com uma alta acumulada que superou 60% em um ano – entre os meses de julho de 2021 e de 2022 –, tornando o produto um ícone da inflação no mercado alimentício. Naturalmente, os consumidores reagiram a este movimento por meio de suas escolhas nas gôndolas: segundo um estudo recém-publicado pela Mintel sobre o consumo de leite de vaca e leites alternativos no Brasil, 25% dos brasileiros estão consumindo menos leite este ano em comparação com 2021 e migrando para produtos mais baratos. É claro que este impacto é particularmente intenso entre classes com menor poder aquisitivo, que são mais vulneráveis às flutuações de preços.

Embora recentemente a alta de preços do leite tenha desacelerado, com o aumento na produção do campo em função da chegada do período de chuvas e a queda na demanda, o impacto negativo deixado pelo último ano tende a continuar surtindo efeitos no curto prazo, demandando soluções inovadoras por parte da indústria de lácteos – tanto em termos de comunicação, com um reforço aos atributos nutricionais da categoria e sua adequação a diferentes momentos e situações de consumo, como em termos de diversificação de portfólio.

O estudo da Mintel aponta diferentes – e complementares – caminhos para a superação dos desafios pelos quais a indústria está passando. A aposta em leites vegetais seria um deles, mas precisaria ser dirigida e comunicada a uma parcela de consumidores das classes A e B que têm sustentabilidade e saudabilidade como prioridade, visto que são ainda mais caros que o leite de vaca tradicional (embora o encarecimento deste esteja encurtando a distância de preço das categorias). Leites saborizados são um caminho para a nutrição infantil, mas com preferência para produtos de rótulo limpo e saudáveis, visto que os pais estão cada vez mais críticos em relação aos produtos que oferecem aos seus filhos. Leites semidesnatados podem se apresentar e comunicar como opções que entregam saudabilidade sem perda de sabor, textura ou nutrientes.

Em resumo, inovar em portfólio é a chave, o que também passa por fabricantes ampliarem seus horizontes para além do leite puro, considerando desbravar segmentos com boa rentabilidade, tais como iogurtes, bebidas lácteas com alto teor de proteína, queijos e outros. Na Tetra Pak, já temos sentido o crescimento dessa busca por novos caminhos dentro do universo de produtos lácteos: no que diz respeito às embalagens, de 2018 para cá, registramos um crescimento de 36% no volume de embalagens vendidas para categorias novas e emergentes, que incluem queijo em caixinha, bebidas à base de whey protein, leites fermentados etc.

Muitos são os caminhos, mas todos partem de uma certeza: a de que, em tempos de instabilidade e grandes oscilações de preço, a indústria de lácteos não pode ficar inerte e achar que sua segurança está dada pela tradição do leite. Os hábitos de consumo estão mudando e, para atendê-los, a indústria deve inovar, acompanhando as transformações, aproximando-se das novas demandas de produtos, com novas formulações e aposta em novas categorias, e de comunicação, reforçando os atributos dos produtos lácteos e sua relevância para as nossas dietas.

Em um cenário de recuperação econômica, estimado para daqui três a cinco anos, se navegarmos por essa instabilidade com consciência e fazendo as escolhas certas, tenho certeza de que teremos preços mais estáveis e mais espaço no mercado, tanto para o leite de origem animal como para, cada vez mais, derivados e alternativas. Até lá, marcas devem aprimorar sua comunicação, apostar em novas categorias e formas de levar valor agregado para os consumidores, que estão cada vez mais informados, críticos e suscetíveis aos movimentos macroeconômicos.

Bryce Cunningham, um produtor de leite escocês, proprietário de uma fazenda orgânica em Ayrshire (Escócia), lançou um produto lácteo para agregar valor ao leite de sua fazenda, que é um produto de ótima qualidade, sem aditivos, e é um exemplo de economia circular.

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