A BAF Capital, um fundo de investimento “estrela” no mundo financeiro argentino, acaba de demitir quase todo o seu pessoal no país; está passando por uma situação financeira sensível e o futuro de seus investimentos está se tornando cada vez mais incerto.
É um importante ator, com investimentos diversificados em diferentes setores, incluindo agronegócios, energia, infra-estrutura, construção, biotecnologia e tabaco, entre outros.
Sediada em Amsterdam (Holanda), a BAF Capital é hoje uma empresa global de serviços financeiros, incluindo gestão de ativos, soluções de capital de giro e consultoria em finanças corporativas, mercados de capitais e bancos de investimento.
Na Argentina, fornece serviços de consultoria em fusões e aquisições e reestruturação a partir de seus escritórios localizados em Puerto Madero e emprega 200 executivos, juntamente com escritórios em Montevidéu (Uruguai) e São Paulo (Brasil).
A filial local é dirigida por seu CEO, Jorge Frávega, e no mercado doméstico financiou mais de 80 empresas e foi um dos principais investidores e credores da SanCor e Vicentín.
Desastre financeiro
Precisamente, ambas as apostas teriam ajudado a causar o colapso financeiro que a filial local deste fundo europeu parece ter começado a sofrer e que está vindo à luz com a saída de cerca de 80 funcionários.
Além disso, teria deixado uma dívida milionária contraída com fornecedores e investidores e enfrentaria um duro conflito com o fundo de investimento Apollo, também de origem holandesa.
Na verdade, alguns dos trabalhadores demitidos expressaram que a crise que levou a esta saída maciça de pessoal do fundo poderia ter sido evitada com um esquema de investimento mais lógico e menos arriscado.
“Mas Fravega gosta de apostar o dinheiro de outras pessoas em aventuras sempre ligadas a crises financeiras ou de alto impacto político”, argumentaram eles.
Como exemplo, eles lembraram que no caso da SanCor, o fundo cedeu à empresa leiteira o controle de uma unidade de sobremesas, flãs e iogurtes como forma de garantir a cobrança de uma dívida de u$s118 milhões.
Mas a estrutura financeira e comercial da empresa ainda é muito complicada e sem contribuições do governo nacional ou do fundo privado criado no ano passado para enfrentar uma operação de resgate da empresa de laticínios.
Suspeita de esvaziamento
Com relação à empresa de cereais Santa Fé, ela assumiu a fábrica de frigoríficos Friar, um dos principais ativos desta empresa, que sofre um prejuízo de mais de US$ 200 milhões, está em processo de reorganização e os planos estabelecidos por empresas privadas para recuperar sua estrutura também não foram bem sucedidos.
De fato, a participação da Frávega e da BAF Capital neste negócio teve seu lado legal, uma vez que a operação de compra da FRIAR através da subsidiária uruguaia do fundo desencadeou uma ação judicial por esvaziamento.
A ação foi movida pelas autoridades do Banco Nación e foi ouvida pelo tribunal criminal econômico encabeçado por Julián Ercolini com o fundamento de que se tratava de uma venda sob suspeita de desvio de fundos. O promotor no caso, Gerardo Pollicita, solicitou que os bens de todo o grupo econômico fossem restringidos, incluindo Friar, uma medida que foi indeferida por Ercolini e que permitiu a transferência do frigorífico para a BAF Capital por uma quantia próxima a US$ 200 milhões.
Na ocasião, Eduardo Hecker, presidente do Banco Nación, advertiu que “a empresa falida de cereais continua com a alienação de seus ativos, em uma manobra clara para evitar o cancelamento dos créditos, o que constitui um dano significativo ao patrimônio do Banco”.
Brincando no limite
O mercado também atribui esta queda do fundo de investimento BAF Capital na Argentina à forma como Frávega aposta o dinheiro do fundo. “Ele sempre gosta de jogar no limite, investindo em negócios arriscados e contra a lógica para avançar no mundo dos negócios”, descrevem alguns especialistas do setor.
Outro destes negócios de risco que se destaca é a IMPSA, a empresa de Mendoza que em 2017 comprou a participação na usina hidrelétrica de Potrerillos, e que teve que ser resgatada com fundos públicos depois que o estado nacional assumiu uma participação no capital da antiga empresa de propriedade da família Pescarmona.
O fundo também tem uma base forte no setor do agronegócio através de sua participação na Bioceres, uma empresa local orientada principalmente para o desenvolvimento de sementes transgênicas e pesticidas, que está listada na Bolsa de Valores de Nova Iorque.
Mas seu esquema comercial é baseado principalmente em operações de financiamento com injeções de capital em empresas com graves dificuldades financeiras ou afetadas pelo ruído político, e depois tentando tomar o controle dessas empresas.
“Entretanto, seu cálculo de risco está claramente longe de ser eficaz e deixou um rastro que ameaça se tornar o escândalo financeiro da década”, dizem aqueles que conhecem Frávega de perto.
Outra das operações mencionadas no mercado como conflituosas foi a aterrissagem fracassada de Molino Cañuelas, que passou por uma grave crise financeira.
Em sua página Linkedin, a empresa afirma que “ao longo dos anos, desenvolveu sua própria metodologia para avaliar o risco de crédito e estruturar empréstimos garantidos”. A preservação do capital e a transparência são dois dos princípios fundamentais que a BAF constantemente reforça. Entretanto, o mercado não acredita nesses preceitos, a julgar pelos resultados e pelo presente da subsidiária local.