Mal passou o susto do consumidor com o aumento dos preços de derivados lácteos-como o leite e a muçarela, que vinham recuando nos últimos meses-e a projeção é de inversão de tendência, com possibilidade de novas altas, segundo o Centro de Estudos em Economia Avançada (Cepea, Esalq/USP).
A análise foi apresentada no mais recente boletim setorial do órgão. Os preços de lácteos subiram principalmente no primeiro semestre do ano passado, com pico em julho, quando a inflação do leite longa vida medida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) chegou a 25% em apenas um mês.
A baixa oferta de leite cru, causada pela alta dos insumos (adubos, grãos, combustíveis), explica o cenário. Ao longo do segundo semestre, porém, os preços recuaram mês a mês-à medida que a chegada da safra aumentou a oferta de leite no campo -, até fecharem o ano em deflação.
Uma pesquisa do Cepea feita com a Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB) mostra que, entre novembro e dezembro de 2022, queijo muçarela e leite UHT recuaram entre 6% e 7% no Estado de São Paulo, registrando R$ 28/quilo e R$ 4/litro. Os dados são deflacionados pelo IPCA e referem-se às vendas dos laticínios aos canais de distribuição.
Considerada a inflação oficial brasileira de dezembro do ano passado, o índice do leite longa vida recou quase 4%, enquanto todo o grupo de leite e derivados registrou deflação de 1,69%, de acordo com o IBGE.
Desse modo, as possíveis novas altas partirão de um patamar mais alto. “O movimento de queda dos preços dos derivados pode ter chegado ao fim, visto que o início de 2023 aponta uma inversão dessa tendência”, afirma o pesquisador do Cepea João Vitor Araujo, que assina análise divulgada há poucos dias. É que os estoques de produtos estão mais baixos por causa da menor captação de matéria-prima nas fazendas.
“A safra foi um pouco limitada, ou seja, a produção no campo não veio como esperado”, continua a pesquisadora Natália Grigol, também do Cepea. Ela lembra que o país caminha para uma entressafra precoce, afetado pelo clima. A falta de chuvas no Sul e o excesso delas no Sudeste tem prejudicado os pastos neste momento e, consequentemente, a produção.
Em um estudo divulgado na semana passada, a pesquisadora Kennya Siqueira, da Embrapa Gado de Leite, projeta que a produção de leite nas fazendas brasileiras no ano passado pode ter ficado 4,4% abaixo do patamar de 2021, quando o volume produzido totalizou 25 bilhões de litros, segundo o IBGE.
Apesar do clima adverso, não se espera que a oferta de leite cru em 2023 seja “ruim” como foi a do ano passado. Há expectativa de que os preços de insumos cedam um pouco e não oscilem tanto, o que traz melhor possibilidade de planejamento para o pecuaristae uma recuperação em volume nas fazendas. Isso explica por que também não se espera, ao menos por ora, uma nova explosão de preços de derivados lácteos.
“Neste ano [2023], não deve ter um pico [de preços de derivados] como o do ano passado. Não há expectativa de novos recordes de preços porque esperamos que a produção seja maior do que em 2022. A queda de oferta do ano passado foi muito forte”, diz ela.
Natália reitera, no entanto, ser “complicado” fazer projeções neste momento. “Mudou o governo [federal]”, acrescenta. Alterações de rota na economia podem afetar a demanda, por exemplo, reforça.
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