A Danone aposta em uma parceria com produtores de leite de Minas Gerais para atingir, até 2050, a neutralidade de carbono em suas operações.
Por meio de técnicas sustentáveis aplicadas nas propriedades leiteiras e da assistência técnica e gerencial, a gigante de lácteos de origem francesa pretende, além de neutralizar suas emissões de gases do efeito estufa, proporcionar maior rentabilidade aos pecuaristas fornecedores de matéria-prima e bem-estar aos animais, e, por tabela, elevar mais ainda a qualidade do leite fornecido à companhia.
Todas essas metas estão embutidas no Projeto Flora, de agricultura regenerativa – desenvolvido pela unidade da empresa em Poços de Caldas (MG), a única no País -, no qual a Danone aplica R$ 1 milhão por ano. O “embrião” da iniciativa começou a se desenvolver em 2019, conta com exclusividade ao Broadcast Agro o diretor de Compras de Leite da Danone Brasil, Henrique Borges.
“Começamos a conversar sobre o tema (de redução das emissões) naquele ano”, diz. “Na época, fizemos parcerias com produtores para implementação, nas propriedades, do sistema de integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF)”, continua o executivo, acrescentando que a intenção, naquele momento, era colocar “leite embaixo de floresta”.
Entretanto, ao longo do tempo, a Danone Brasil percebeu que, embora o projeto tenha sido bem-sucedido e continue sendo aplicado até hoje em propriedades que adotam o sistema de pastagem, não alcançaria as metas de redução das emissões, mesmo se implementado em 100% das fazendas aptas a receber ILPF. “O leite ‘extensivo’ (ou seja, com vacas criadas a pasto) representa apenas 30% do total captado pela Danone”, diz Borges. “O restante da matéria-prima vem de criatórios intensivos (com vacas confinadas ou semiconfinadas).”
Desta forma, o Projeto Flora teve de partir também para incluir sistemas intensivos, em que as vacas vivem a maior parte do tempo em galpões refrigerados e se alimentando predominantemente de ração e, por vezes, em sistema misto (ração no cocho e no pasto).
Agora, segundo Borges, o projeto “visa uma transformação para a agricultura regenerativa em todos os sistemas produtivos de leite, do extensivo ao intensivo”. Mesmo tendo começado somente com ILPF – que se insere nas técnicas agora incentivadas pela Danone, de agricultura regenerativa, como manejo de solo e dejetos, recuperação de áreas degradadas e conservação de água, bem-estar animal e viabilidade socioeconômica do pecuarista de leite -, o Flora superou expectativas. “Atualmente, 1.400 hectares nas propriedades leiteiras estão abrigadas no projeto, de uma meta inicial, para 2023, de 188 hectares”, diz o executivo. “Superamos em mais de sete vezes o objetivo primário.”
Entre pequenos, médios e grandes produtores fornecedores de leite para a Danone no sul de Minas Gerais, no entorno de Poços de Caldas, o Projeto Flora conta com 33 fazendas participantes, que, juntas, entregam 14% do leite captado diariamente pela Danone, de 400 mil litros/dia. No total, 287 fazendas vendem leite à empresa láctea. “Com a conclusão dessa primeira fase de expansão, esperamos atingir já este ano uma redução de emissão de carbono de mais de 10% em relação a 2020”, comenta Borges, acrescentando que o objetivo “não é apenas contribuir para as metas climáticas, mas redesenhar processos em todo o ecossistema produtivo e fomentar mais eficiência e rentabilidade no campo”.
Junto aos produtores, o trabalho de “convencimento” para aderir ao Projeto Flora passa principalmente pelo sucesso dos dados de rentabilidade das propriedades leiteiras que já adotam práticas eficientes de gestão, de manejo da propriedade e de sustentabilidade ambiental.
Para provar, em números, que uma fazenda sustentável é também mais rentável, a Danone tem divulgado, aos produtores, estudo do Educampo Sebrae e do Departamento de Inteligência do Trabalho Rural, feito em fazendas fornecedoras da empresa entre junho de 2021 e maio de 2022, e uma tabela simplificada, desenvolvida pela Universidade Federal de Viçosa (UFV).
Borges comenta que aquelas mais eficientes conquistaram produtividade três vezes maior de leite (em litros por hectare/ano), além de um resultado entre oito e nove vezes maior na margem líquida por hectare e, consequentemente, 34,5% menos emissões de carbono por litro de leite produzido em relação às fazendas menos eficientes. “Ou seja, quanto menor a pegada de carbono, mais eficiente o produtor é. E, quanto mais eficiente, maior lucro na atividade.”
Borges relata ainda que, independentemente do sistema adotado, seja ele intensivo ou extensivo, esses resultados puderam ser auferidos. “Quando vemos os números do estudo, notamos que o que determina a sustentabilidade nem sempre é o modelo adotado – isto diz mais respeito, aliás, à vocação do produtor em relação a um modelo ou outro”, justifica Borges. “Importante é ver o quão bom o produtor é no modelo escolhido”, prossegue. “Ou seja, se você escolhe o modelo a pasto tem de ser eficiente no modelo a pasto e o mesmo vale para os sistemas intensivos.”
Agora, no sul de Minas, o executivo da Danone comenta que tem crescido muito um sistema intensivo chamado compost barn – em que as vacas passam a vida em estábulos espaçosos e refrigerados, confortavelmente instaladas em “camas” de serragem ou outro material orgânico e seco e se alimentando basicamente de ração à base de milho e farelo de soja.
Assim, nesta nova etapa do Projeto Flora, a Danone pretende abarcar também essas propriedades que intensificaram a produção, com auxílio do Educampo Sebrae, que, entre outras iniciativas, ensina técnicas de gestão aos pecuaristas e “faz um plano diretivo e de longo prazo”, cita Borges. Já a assistência técnica fica a cargo da Danone nas propriedades atendidas pelo Projeto Flora e é gratuita.
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