A presença da mulher no setor lácteo |Muitos dos consumidores assíduos do leite não sabem que, por trás deste líquido tão requisitado, existe um grande processo.
A atividade leiteira requer dedicação diária, investimento e, muitas vezes, resiliência. E, por muito tempo, foi realizada apenas por mãos masculinas.
Entretanto, cada vez mais o setor lácteo tem contado com a força e presença feminina na produção. As mulheres têm conquistado diversos lugares e no setor leiteiro não poderia ser diferente.
De acordo com a produtora de leite e cooperada da empresa Selita desde 2013, Sara Bueno Pinheiro, dentro do setor leiteiro elas ainda são minoria, mas, quando o assunto é valorização e qualidade, a produção feminina não fica para trás.
“Nossa cooperativa vem abraçando as mulheres e a tendência para os próximos anos é que o quadro possa evoluir”, contou.
“Um dos nossos desafios, acredite se quiser, é encontrar mão de obra qualificada para nos auxiliar na atividade”, disse.
Segundo ela, como ainda um é um setor dominado por homens, o público feminino acaba encontrado algumas barreiras.
“Apesar disso, a chave é se posicionar e, rapidamente, eles veem nossa capacidade e nos apoiam. Na Selita sempre tem mulheres nos conselhos, somos ouvidas e respeitadas, e sei que esse quadro pode aumentar, depende mais de nós do que da cooperativa”, ressaltou.
Números da produção
Segundo o Ministério da Agricultura e Pecuária, o Brasil é o terceiro maior produtor mundial de leite, com mais de 34 bilhões de litros por ano, com produção em 98% dos municípios brasileiros, tendo a predominância de pequenas e médias propriedades, empregando perto de 4 milhões de pessoas.
Dados da Secretaria Estadual de Agricultura (Seag) apontam que, atualmente, são produzidos 991,2 mil litros por dia no Espírito Santo. A produtividade de litros de leite por vaca ordenhada é de 1.453 litros por ano. O valor bruto da produção do leite em 2021 foi de R$ 727 milhões.
Origem, rotina e desafios de uma mulher do campo
Antes do dia clarear, elas já estão no campo. A rotina é pesada, de segunda a segunda, sem direito a feriado, e inclui higienização dos galpões, alimentação dos animais, trato das pastagens, entre outros afazeres. De acordo com a produtora rural Rozangela Quinta, de 53 anos, a infância não foi um período fácil, mas de muito aprendizado.
“Aos nove anos eu já mançava cavalos bravos, com o auxílio do meu pai. Aos 10 anos, já cortava cana, napie, guatemala, ambos cortados nas máquinas antigas, funcionadas a gasolina”, relembrou.
Ela conta que, apesar de a chuva, era responsabilidade dela encher a carroça para dar conta da comida para o gado. “Era do leite que vinha o sustento da família. Eu estudava, mas desde de criança aprendi a lidar com os animais”, contou.
Ainda muito nova, aos 15 anos, Rozangela se casou e com 16 já era mãe. “Após o casamento, a jornada não acabou. Continuei cuidando dos animais, tinha que fazer silo, ração para alimentá-los, também fazia partos sozinha e, às vezes, acompanhada”.
A produtora contou em entrevista que o trabalho no campo é constante e árduo e, por conta disso, muita das vezes a sociedade acha que não é lugar para os público feminino, o que ela considera um verdadeiro equívoco. “Já senti o preconceito na pele, mas, com muita luta, venho ganhando o meu espaço. O nosso lugar é aonde a gente quiser!”, frisou.
Quando se trata das mulheres, é inevitável não pensar na pressão que a sociedade impõe a este grupo. A cobrança na vida profissional, amorosa, maternidade, beleza e vida doméstica são inúmeras. Por isso, para elas tudo é mais desafiador.
“Não vou dizer que viver do campo não é um trabalho complexo, porque é, e, quando o assuntos somos nós, mulheres, somos multitarefa. Sou produtora rural e, ao mesmo tempo, dona de casa. Um desafio, mas eu sigo vencendo”.
Há três meses, devido ao trabalho pesado, Rozangela acabou desenvolvendo um problema de coluna e, por conta disso, foi obrigada o diminuir o ritmo. “Aos meus 53 anos, com muitas dores, três filhos e sete netos, tento passar para eles tudo que aprendi com o trabalho rural, de onde vem o nosso ganho, que é o leite”, pontuou.
O campo também é delas: as mulheres do agronegócio
Seja dentro ou fora da porteira, no agronegócio brasileiro cada vez mais mulheres têm trabalhado ativamente para a evolução do setor, servindo de inspiração para outras mulheres avançarem.
Uma pesquisa produzida pela Agroligadas, entidade formada por mulheres ligadas ao agronegócio, em parceria com a Associação Brasileira do Agronegócio (ABAG), mostrou que, apesar das dificuldades, a atuação da mulher na agricultura e na pecuária tem se tornado cada vez mais ampla.
O estudo mais recente, publicado em 2021, que ouviu 408 mulheres da área, com média de idade de 40 anos, habitantes de norte a sul do país, revelou que a representatividade feminina tem ganhado um destaque considerável para “dentro da porteira”.
Os números mostraram que, enquanto em 2018 cerca de 44% da mulheres, atuantes da área, eram proprietárias ou sócias, em 2021 o número saltou para 69%.
Ainda segundo o estudo, do total de mulheres que compõem o setor, 54% atuam na agricultura, 32% na subsistência, 27% na bovinocultura, 7% na bovinocultura de leite, 2% na avicultura galináceos, 1% na piscicultura e 5% nos demais animais.
Cabe destacar que 41% das mulheres atuantes da área possuem cursos de pós-graduação e 29% superior completo dentro da área, evidenciando uma preocupação com o preparo acadêmico e profissional.
Entretanto, apesar dos grandes avanços, os desafios ainda existem e merecem atenção. De acordo com o estudo, para 64% das entrevistadas a desigualdade de gênero ainda é fortemente presente no agronegócio, mesmo com 79% afirmando que a situação de hoje é melhor do que há 10 anos.
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