A culpa não é só do presidente Bolsonaro. Nem só do Paulo Guedes. Nem do FHC, do Lula e da Dilma… É de todos eles. A ausência de uma política industrial de longo prazo, desastrosamente confundida por distribuição seletiva de subsídios nas últimas três décadas, tem levado o Brasil a um agressivo processo de desindustrialização. Ano após ano, de forma imperceptível aos olhos da maioria, as empresas que demandam alta tecnologia em seus parques de produção dão lugar a fabricantes de produtos de baixo valor agregado. E o nível está caindo. Exportamos minério de ferro, importamos aço. Exportamos petróleo, importamos lubrificantes. Exportamos soja, compramos farelo. Isso para exemplificar o nível de primarização da nossa indústria – chapas de aço, óleo de motor e farelo são produtos que não simbolizam nenhuma modernidade industrial.
Se você é um negacionista da desindustrialização, só porque seu amigo parece bem de vida naquela antiga metalúrgica do ABC paulista, deveria analisar alguns números da economia brasileira. Segundo o IBGE, nos últimos dez anos o PIB do País cresceu a um ritmo médio de 1% ao ano. No mesmo período, a indústria encolheu 1,6% anualmente, em média. Já a agricultura, na mesma comparação, avançou a uma velocidade de 3,6%. Ou seja, estamos aplaudindo as lavouras – indiscutivelmente importantes – e virando as costas para as linhas de produção. Em 25 anos, a participação da indústria no PIB, que era de 50%, caiu pela metade. A indústria de transformação desabou de 20% para 11%.
No ano passado, 5,5 mil fábricas encerraram suas atividades em todo o País. Em 2015, o Brasil tinha 384,7 mil estabelecimentos industriais e, no fim do ano passado, a estimativa era de que o número tinha caído para 348,1 mil. Em seis anos, foram extintas 36,6 mil fábricas, o que equivale a uma média de 17 fábricas fechadas por dia no período. Os números são da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC).
Como tudo isso afeta você? Sem a riqueza gerada pela indústria, o Brasil se consolida como um produtor de alimentos, importador de carros, de eletrônicos e, principalmente, de serviços ligados à alta tecnologia. O País mergulhou num processo de enfraquecimento da produção, natural em economias maduras, muito antes de ficar rico. Com isso, ficaremos ainda mais pobres. O salário per capita continuará baixo, e você terá cada vez mais dificuldade em encontrar um emprego que te pague o suficiente. O pior é que a desfragmentação do setor produtivo é, diretamente, turbinada pelo governo. O chamado IPI, imposto que incide apenas sobre produtos industrializados, é um anabolizante da primarização. Com essa aberração, é melhor vender frango do que o nuggets. Há mais lucro no leite do que no queijo. Além de assistir de braços cruzados a morte lenta da indústria, o Brasil tem observado, sem esboçar reação, a explosão de novas empresas de serviços mundo afora. O fluxo global de mercadorias está diminuindo, e gradualmente sendo trocadas por produtos digitais. Livros, filmes, música e até cartão do banco hoje chegam em nossas casas pela fibra ótica, vindos de alguma empresa no Vale do Silício – e até nisso o País está fora do jogo. Parte dos brasileiros não se importa com o que está acontecendo, e parece estar feliz. Afinal, vamos bater novo recorde de exportação de soja neste ano.
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