A proteína adicionada se tornou protagonista nas prateleiras brasileiras.
Ela aparece em quase tudo: massas, cafés prontos, sobremesas, bebidas e até águas gaseificadas. O discurso é tentador — mais proteína significa mais força, mais energia, mais saúde. Mas, segundo médicos e pesquisadores, o que há por trás desse fenômeno pode interessar mais à indústria do que ao corpo humano.
De acordo com levantamento da plataforma AgriBiz, o mercado brasileiro de produtos enriquecidos com proteína já movimenta cerca de R$ 2 bilhões por ano. É um crescimento que reflete uma nova mentalidade de consumo, na qual os alimentos deixaram de ser apenas fonte de prazer para se tornarem ferramentas de desempenho e bem-estar.
O motor da nova onda proteica
O aumento da demanda por produtos “funcionais” vem transformando a cadeia agroindustrial. Grandes marcas reformulam processos e fórmulas para atender ao desejo do consumidor moderno. O leite é um dos principais pilares dessa mudança: indústrias buscam matéria-prima com teor proteico mais alto, e produtores rurais recebem bonificações e suporte técnico para melhorar a qualidade.
Segundo a AgriBiz, empresas como Danone e Nestlé lideram esse movimento. Só em 2024, a Danone destinou R$ 100 milhões a programas de qualificação do leite, resultando em ganhos de produtividade e composição nutricional. Assim, o interesse pela proteína ultrapassou as academias e passou a mover o agronegócio, a tecnologia e o marketing.
A visão médica: essencial, mas com limites
A medicina reconhece a importância da proteína. O nutriente é vital para formar e reparar tecidos, produzir enzimas e hormônios e garantir o bom funcionamento do sistema imunológico. No entanto, especialistas alertam: o corpo humano tem um limite para metabolizar proteína. O que ultrapassa essa necessidade não se transforma em “mais músculo”, e sim em sobrecarga para órgãos como fígado e rins.
Pesquisas médicas apontam que o excesso proteico pode aumentar o trabalho desses órgãos. Em pessoas saudáveis, o corpo tende a se adaptar, mas em indivíduos com doenças renais, hipertensão ou diabetes, o cuidado deve ser redobrado. O desequilíbrio também pode prejudicar a absorção de outros nutrientes e afetar o metabolismo.
Por outro lado, há situações em que o reforço é benéfico. Em idosos, pessoas em recuperação de doenças ou com alimentação insuficiente, o aumento de proteína pode ajudar a preservar a massa muscular e a força física. “A necessidade deve ser avaliada individualmente. O exagero, sem indicação médica, não traz ganhos reais”, reforçam especialistas ouvidos pela AgriBiz.
O que o consumidor precisa saber
O fascínio por produtos com proteína adicionada reflete o desejo legítimo por saúde, mas também um desequilíbrio de informação. Muitos desses produtos “fit” ou “proteinizados” escondem altas quantidades de açúcar e aditivos ultraprocessados, mascarando uma composição que nem sempre é saudável.
A recomendação médica é priorizar fontes naturais de proteína, como ovos, carnes, peixes e derivados lácteos. A dependência de produtos ultraprocessados para atingir metas nutricionais pode ser contraproducente. O acompanhamento de um nutricionista ou médico é essencial antes de incluir suplementos ou produtos fortificados na rotina.
Tendência ou necessidade?
O avanço do mercado de proteínas adicionais é inegável. Ele movimenta o agronegócio, cria oportunidades e estimula inovação. Mas, do ponto de vista da medicina, a boa nutrição continua baseada no equilíbrio. A proteína é indispensável — mas não isoladamente.
Uma dieta saudável depende da variedade, moderação e qualidade dos alimentos. A saúde não deve ser construída sobre um único nutriente, e sim sobre a harmonia entre todos.
A personalização é o futuro
Cada corpo tem suas próprias necessidades e ritmos metabólicos. Por isso, não existe uma recomendação única que sirva para todos. A avaliação médica individualizada é o que define quando aumentar o consumo de proteína faz sentido — e quando é desnecessário.
Em última análise, a medicina reforça que a personalização é o verdadeiro caminho para a saúde. A febre da proteína adicionada revela o poder do marketing e a força do agronegócio, mas também nos lembra de algo simples: mais importante do que seguir tendências é entender o próprio corpo.
*Escrito para o eDairyNews, com informações de VEJA RIO






