Na semana passada, fui surpreendida quando a mulher do caixa de uma grande rede de supermercado em Buenos Aires me fez devolver dois dos seis sachês de leite que eu queria comprar.
O relato da crise argentina por uma brasileira radicada em Buenos Aires
Argentinos protestam contra medidas econômicas de Macri, em Buenos Aires. 4 de abril de 2019 Foto: Claudio Santisteban / picture alliance via Getty Image
Argentinos protestam contra medidas econômicas de Macri, em Buenos Aires. 4 de abril de 2019 Foto: Claudio Santisteban / picture alliance via Getty Image

Na última sexta-feira o país doRelatos Selvagens viu sua grande obra cinematográfica ganhar vida em uma briga de trânsito nas ruas de Buenos Aires. Eram 11h de uma manhã tranquila e ensolarada quando um taxista parou no sinal, desceu do seu veículo e começou a dar pontapés na porta do carro de trás e depois pôs-se a socar o motorista pela janela. O condutor do outro automóvel desceu para brigar com o taxista. Não foi sem esforço que transeuntes conseguiram apartar os dois homens. Parecia finalmente que os condutores iam seguir seus caminhos. Uma mulher com um bebê de colo entrou no taxi. Quando abriu o sinal, o taxista ainda deu marcha ré para bater com força no carro de trás antes de sumir cantando pneus. Sim, com uma nutriz e um lactante no banco dos passageiros. Soube-se depois que os dois eram mulher e filho do taxista.

De fato, a vida na Argentina não está fácil . Na semana passada, fui surpreendida quando a mulher do caixa de uma grande rede de supermercado em Buenos Aires me fez devolver dois dos seis sachês de leite que eu queria comprar. O produto estava em racionamento e cada cliente podia levar um máximo de quatro sachês. Tentei argumentar que com duas crianças pequenas em casa quatro litros de leite não durariam uma semana. A caixa, uma venezuelana simpática, foi irredutível. E comentou que eu ainda tinha sorte. Em alguns locais da cidade o racionamento já estava limitado a uma única unidade por pessoa. Naquele mesmo dia, imagens de cartazes anunciando que clientes só podiam levar um saco de leite por pessoa viralizaram, criando polêmicas nas redes sociais argentinas.

Com a explosão inflacionária no país , que chegou a cerca de 50% no ano passado e permanece em nível alto (4,7% apenas no mês de março), os supermercados se viram obrigados a racionar a venda de alguns produtos, especialmente os que fazem parte do programa Precios Cuidados. Lançado na tentativa de moderar a inflação em janeiro de 2013, ainda na gestão de Cristina Kirchner (2007-2015), o Precios Cuidados consiste num acordo com os supermercados para que estes mantenham inalterados, durante certo período de tempo, os preços de uma lista de produtos da cesta básica. Claro que doce de leite, media luna e cerveja constavam na lista de necessidades básicas argentinas. Atualmente, a diferença de preço entre os produtos que pertencem ao programa e aqueles fora é substancial, o que quase leva ao colapso do mesmo. Na semana passada, o governo Macri anunciou que 64 dos cerca de 500 produtos do Precios Cuidados, os mais essenciais, ficarão com seus preços congelados nos próximos 180 dias. O fim desse prazo coincide praticamente com o primeiro turno das eleições presidenciais.

A China disse na sexta-feira que ampliaria o escopo de sua investigação antissubsídios sobre as importações de laticínios da União Europeia para abranger outros programas de subsídios da UE, bem como os da Dinamarca, França, Itália e Holanda.

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