O setor de laticínios ora sobe ou ora baixa os preços, tanto para quem produz o leite de vaca como quem o transforma.
Em alguns momentos quando está bem para os dois aí vem reclamações dos consumidores de preços altos. E sempre tem os que defendem “o baixar preço a qualquer custo”.
Para complicar, importam de países até soro de leite e leite em pó para reconstituir o leite. Priorizam “equilibrar” os preços para consumidores e esquecem o resto do setor lácteo.
No Uruguai e na Argentina o leite vem de produtores subsidiados, aqui não. E não foi pouco que veio de fora: mais de 1,2 bilhões de litros. Porém, ainda exportamos cada vez mais produtos lácteos.
Não me lembro do momento em que pensaram no produtor e na vaca. Afinal ela é chave da produção leiteira. A relação com o animal é de 365 dias não importando o clima, um precisa do outro e nós consumidores deles. O consumo médio de leite e derivados por dia não chega a meio litro por brasileiro.
O trabalho começa de madrugada com a primeira ordenha e se estende por todo o dia. Limpeza das instalações, alimentação, medicação, higienização do local do leite, deixar resfriado, aguardar o transporte. Enfim, todas as atividades que a família possa desenvolver.
Vou lembrar que a mulher produtora acompanha a maior parte das atividades, quando não é a principal responsável, e se tiver filho ou filha na idade de ajudar estarão juntos também. Ao anoitecer tem a segunda ordenha e segue o ritual de cuidados dos animais. Há propriedades que fazem uma terceira ordenha, produção conseguida pelo cuidado, capricho, investimentos nas instalações e genética.
A notícia desta semana mostra que o setor lácteo fechou 2022 com receita de 6,6%, chegando a quase R$ 17 bilhões. Um detalhe: 60% exportado para outros estados. Aí tem mais uma pedrinha no caminho: o imposto tributário, que precisa ser revisto há muito tempo, pois ele desequilibra a competição do RS.
O valor de referência do preço do leite feito pelo Conselho Paritário Produtores Indústrias de Leite do RS – Conseleite – para o mês de janeiro é de R$ 2,1592 o litro. Se o custo calculado é R$2,4512 (Cepea) por litro, o que se faz? Não sei como chegaram a estes valores se tudo está subindo.
Verão, calor, silagem com pelo menos 33% de quebra, milho já pela metade, soja perdendo produtividade a cada dia sem chuva. Milho, soja, ração, minerais, medicamentos, combustível todos subindo de preço. Sim, tem alguns que recebem bonificações pela qualidade, quantidade e fidelização. Ótimo! É por merecimento e reconhecimento principalmente das cooperativas.
Falam de “demanda enfraquecida” no verão por isto não dá para aumentar o preço, enquanto muitos dos consumidores estão por aí tomando cerveja de R$ 10, R$ 20 ou mais reais o litro sem reclamar. E o leite longa vida em 2022 ficou ao redor de 26% mais caro. Dá para entender?
Resta ao produtor fazer acordo com as vacas, dar menos ração, um pasto pouco mais seco, menos milho, “muita água” se tiver, para enganar a fome. A vaca entende e produz um pouco menos e conseguem fechar no preço de referência. Mesmo com quebra ao redor de 30%.
Como tantas outras vezes o produtor sabe que vem as promessas, discursos, programas de valorização que terminam com poucos resultados ou desaparecem. Resta abraçar a vaca e saírem os dois satisfeitos quando chega no “zero a zero” ao final deste jogo.
Enquanto isso, os consumidores devem comprar leite da nossa região para dar uma mãozinha para o produtor, para os laticínios e, claro, para a vaca.
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