A crise econômica que vem passando a cadeia láctea na Argentina, não somente provoca paulatino desaparecimento de fazendas leiteiras, mas também a pulverização da indústria, a ponto de, segundo os últimos boletins setoriais, 64,3% da produção é dividida entre nada menos do que 33 empresas.
Por outro lado, fatores econômicos e, em alguns casos climáticos, estão conspirando contra a sustentabilidade da atividade primária desenvolvida pelos produtores de leite, o que provocou o desaparecimento de 43% das fazendas do país nos últimos 20 anos. Hoje são 10.287 estabelecimento o que representa variação negativa anual de 8,7%, segundo o Observatório da Cadeia Láctea (OCLA). Do outro lado, o ranking das indústrias de laticínios da Argentina segue rumo à atomização como mostra dados elaborados pelo OCLA.
São 670 indústrias, dentre as quais 47 processam mais de 100.000 litros de leite por dia, mas, nenhuma empresa tem mais de 15% de participação na produção local. De fato, as duas empresas que encabeçam o ranking são Mastellone e Saputo, com 11,8% e 11,5% de participação do mercado, respectivamente. Logo depois aparece um pelotão de 8 empresas que ficam entre 4,9% e 2,2%. Na ordem decrescente são Williner-Ilolay, SanCor, Noal, Verónica, García, Nestlé, Milkaut e Danone.
Um grande player, a SanCor, conta a história de uma forte inflação, da exorbitante elevação das taxas de juros e, sobretudo, a brutal queda na demanda de lácteos registrada nos últimos anos, que colocou o setor em terapia intensiva. Como ingrediente adicional, a crise provocou o avanço da atividade informal, trazendo junto o aumento do risco em qualidade e segurança alimentar, maior sonegação fiscal, insegurança e precarização do trabalho.
Este conjunto de fatores, somado à perda do poder aquisitivo de parte da população determinou a queda de 20% no consumo de leite por habitante nos últimos cinco anos, voltando aos níveis de 2002: 170 litros/per capita/ano. Em outras categorias, como o iogurte, o consumo per capita caiu 35% de 2008 para cá.
O setor lácteo na Argentina, que produz por volta de 10.343 milhões de litros é responsável por 1% do Produto Interno Bruto (PIB), e representa 11% do setor agrícola.
É preciso considerar que da produção total do país, mais de 20% vai para exportação, enquanto que o mercado interno é o principal destino do leite fluido.
Um dado relevante é o fato do preço do leite ao produtor ter subido 110% em 2019, diante de um Índice de Preço ao Consumidor (IPC) de 53,8%. Os aumentos continuam em 2020, e em janeiro o valor teve reajuste de 2,62% em relação a dezembro.
A maior parte dos custos da fazenda são dolarizados. A alimentação, que corresponde a 70% das despesas correntes (principalmente porque os grãos são commodities), além de outros itens que são estabelecidos em dólar, como terras, vacinas e alguns serviços profissionais.