Comemorado por algumas cadeias produtivas do agronegócio brasileiro, o acordo Mercosul-União Europeia, concluído na sexta-feira (28), deixou ainda mais apreensivos os produtores de leite

 

Comemorado por algumas cadeias produtivas do agronegócio brasileiro, o acordo Mercosul-União Europeia, concluído na sexta-feira (28), deixou ainda mais apreensivos os produtores de leite, setor que está em crise há alguns anos. O Movimento Construindo Leite Brasil teme, por exemplo, que o tratado de livre comércio entre os dois blocos possa agravar a situação do segmento, que tem cerca de 1,2 milhão de produtores.

Integrante do Movimento Construindo Leite Brasil, o produtor gaúcho Joel Dalcin diz que o país deveria se preocupar antes de tudo em ‘arrumar a casa’. “Já temos problemas de sobra internamente. Só depois de resolvê-los é que deveríamos pensar em liberalismo.”

Segundo o produtor do município de Doutor Maurício Cardoso, no noroeste gaúcho, na fronteira com a Argentina, há inúmeros problemas no setor de leite que exigem respostas rápidas do governo para não tornar o cenário ainda mais drástico quando o acordo entre os dois blocos passar a vigorar efetivamente, num prazo estimado de dois anos.

“Hoje, já sofremos com a entrada do leite da Argentina e do Uruguai por conta do Mercosul. Os produtores desses dois países têm um custo de produção inferior ao nosso, o que os torna mais competitivos. Imagine como ficaremos com a importação de leite da União Europeia, igualmente com custo de produção menor que o do Brasil, livre de tarifa e subsidiado.”

Redução drástica da renda do produtor

Se nada for feito para fortalecer a cadeia brasileira de lácteos, Joel Dalcin prevê uma situação catastrófica. “Esse acordo pode resultar em uma redução drástica da renda do pecuarista de leite, porque haverá oferta maior do produto, o que influenciará na formação de preço do leite ao produtor. Estamos abrindo as portas para debilitar de vez o produtor nacional.”

Joel Dalcin acredita que parte do problema pode ser resolvido com a reforma tributária, que deve começar a ser discutida logo após a aprovação da PEC da Previdência. “Hoje, cerca de 30% do custo de produção de um litro de leite dentro da porteira são referentes a impostos. Isso tira a competitividade de qualquer nação frente ao mercado externo.”

Na sua opinião, o acordo Mercosul-União Europeia acabará beneficiando as grandes multinacionais, que já importam matéria-prima de outros países mesmo com taxação. “Quando elas estiverem livres de tarifas, vão inundar o Brasil de leite e derivados importados.  Não adianta querer gerar empregos nas cidades dizimando as propriedades no campo, onde milhares de pessoas produzem alimentos para a nação.”

Solução para os problemas internos

“Se resolvermos os problemas internos, vamos esbanjar em eficiência, em qualidade”, afirma o integrante do Movimento Construindo Leite Brasil.    “Não existe milagre.  A vaca precisa estar bem alimentada e com saúde para poder produzir leite de qualidade.”

Para tanto, acrescenta, o produtor tem que investir na compra dos insumos adequados e de equipamentos para modernizar a propriedade. “Mas, como esses itens têm alta tributação no Brasil, a situação é quase insustentável.”

Para ele, o país já deveria ter buscado soluções para esses gargalos que estão prejudicando a cadeia de lácteos há anos. “Atualmente, ainda temos outro problema: a perda de renda da população, que está procurando leite mais barato, de qualidade inferior.”

O pecuarista de leite alerta que a perspectiva para o segundo semestre não é animadora. “Começamos 2019 com preços baixos, que estavam se recuperando lentamente. Nos últimos dois meses, chegamos a ter preços razoáveis, e gente pôde se organizar para pagar os compromissos atrasados. Porém, já estão dizendo que haverá nova queda do preço ao produtor. Há laticínio falando em baixar até 25 centavos de real por litro. Não tem cabimento. Não tem quem não desanime.”

Ele acredita que só uma forte mobilização será capaz de sensibilizar os governantes para a necessidade de adotar medidas urgentes de apoio ao setor de lácteos. “Está na hora de sairmos da toca, de ter brio, de bater na mesa e de exigirmos de nossos representantes e representações que defendam nossos legítimos interesses. Por onde andam os políticos que na campanha se diziam defensores dos produtores de leite?”

De acordo com Joel Dalcin, “o produtor precisa ter atitude e participar para influenciar nas decisões políticas da porteira para fora, porque é ele quem paga o preço da ineficiência governamental. Isso não é de hoje: faz muito tempo que esta situação vem se agravando. Precisamos dar um basta. Juntos somos mais fortes”.

Companhia do interior de São Paulo deve faturar mais de R$ 1 bilhão e descarta boatos de venda; mirando um eventual IPO, o plano é crescer com M&As, com dois negócios já no gatilho.

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