África voltou a ocupar o centro das atenções no comércio lácteo internacional ao se consolidar, em 2025, como o principal destino do leite em pó integral (WMP) exportado pelo Uruguai.
Segundo levantamento narrado por analistas setoriais, quase dois de cada três quilos embarcados pelo país ao longo deste ano tiveram como destino o continente africano — um movimento que redefine a geografia das vendas externas e reforça a força estrutural da demanda africana.
Entre janeiro e meados de novembro, o Uruguai exportou 147 mil toneladas de WMP. Desse total, 93,5 mil toneladas — o equivalente a 64% — seguiram para a África. A presença dominante da região, já percebida em anos anteriores, se intensificou em 2025 devido às mudanças no comportamento de outros grandes compradores, como Brasil e China, que reduziram significativamente suas importações nesse período.
A Argélia permanece como o destino mais relevante dentro do continente africano e, de longe, o principal parceiro comercial do Uruguai no segmento de WMP.
Foram 73 mil toneladas enviadas ao país do norte da África, volume que supera em várias vezes o de qualquer outro destino. Fontes de mercado observam que a Argélia combina programas de abastecimento alimentar estruturados, demanda interna crescente e uma tradição consolidada de compras no Cone Sul, o que explica sua posição dominante.
Outros mercados africanos também aparecem no radar, ainda que em menor escala. Mauritânia absorveu cerca de 7 mil toneladas, enquanto a Nigéria importou 2,5 mil toneladas.
O que chama atenção, segundo analistas que acompanham o fluxo comercial, é a capilaridade crescente das vendas: 25 países africanos compraram WMP uruguaio em 2025, sendo quatro na região MENA (Médio Oriente e Norte da África) e outros 21 distribuídos pelo restante do continente.
Essa pulverização indica não apenas diversificação, mas também que a competitividade uruguaia encontra boa receptividade em vários perfis de mercado.
A América do Sul aparece como o segundo destino mais relevante, mas em posição distante. Foram 42 mil toneladas, o equivalente a menos de 30% das exportações uruguaias.
Dentro do bloco, o Brasil — tradicional comprador e historicamente responsável por um “equilíbrio” entre os envios para a África e a região — registrou forte queda e acumulou 36 mil toneladas no período analisado. A Venezuela aparece em seguida, com quase 3 mil toneladas, enquanto outros oito países sul-americanos adquiriram volumes marginais.
A Ásia ocupa a terceira colocação como destino, com 7 mil toneladas de WMP. Dentro do continente, os países do Oriente Médio somam 4,2 mil toneladas, com destaque para Emirados Árabes, Qatar, Líbano e Arábia Saudita.
Fora dessa sub-região, Singapura se consolidou como principal destino asiático, com 1,6 mil toneladas — volume que triplica o registrado pela China. O gigante asiático, que há poucos anos figurava entre os principais compradores de lácteos uruguaios, reduziu drasticamente sua presença no mercado e importou apenas 500 toneladas ao longo de 2025.
América do Norte, América Central, Caribe e Europa completam o panorama, com apenas 2% das exportações totais de leite em pó do Uruguai. Esses percentuais modestos têm explicação lógica: os Estados Unidos dominam o abastecimento lácteo em sua região, enquanto a Europa segue como grande produtora e exportadora, reduzindo as oportunidades para terceiros países.
A escalada africana também é consequência direta da retração brasileira. A queda das importações do Brasil — tradicional pilar da demanda regional — abriu espaço para uma reconfiguração do mapa exportador uruguaio.
Analistas observam que, se essa tendência persistir, o Uruguai pode reforçar ainda mais sua dependência dos mercados africanos, ao mesmo tempo em que o Mercosul terá de repensar seus fluxos comerciais e sua competitividade frente a novos destinos emergentes.
*Escrito para o eDairyNews, com informações de Tardáguila






