A crise hídrica no Ceará, que já dura sete anos, trouxe não apenas dificuldades ao agronegócio, mas também possibilitou avanços e instigou mudanças de cultivos. Enquanto alguns produtos ainda estão em fase de experimentação, outros já são considerados consolidados e devem começar a ser exportados.
É o caso da pitaya, que passou a ser cultivada no Estado em meados de 2017 por demandar um volume bem menor de água e ter um alto valor agregado. Segundo o secretário de agronegócio da Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Trabalho do Ceará (Sedet), Silvio Carlos Ribeiro, alguns países da Europa já demonstraram interesse em comprar a fruta produzida no Ceará.
“Devemos começar a exportar ainda este ano. Uma parte da produção já é escoada, principalmente, para estados do Sudeste, apesar do ainda baixo volume de plantio”, afirma. Atualmente, existem não mais do que 20 hectares da fruta-dragão, como também é conhecida a variedade, no Ceará.
Ribeiro aponta que esse volume só não é maior porque a cultura exótica requer técnicas específicas. “No início, o produtor vai ter de arcar com um investimento um pouco alto, por ser uma cultura exótica, mas, ao mesmo tempo, a rentabilidade é muito maior”, destaca.
Muitos produtores da região do Baixo Jaguaribe trocaram o abacaxi e a banana, por exemplo, pela pitaya, segundo revela o analista de mercado da Central de Abastecimento do Ceará (Ceasa), Odálio Girão. “Além disso, o valor de venda naquela época estava muito bom, em torno de R$ 25 o quilo, no atacado. Hoje o preço varia de R$ 15 a R$ 17, o que é atrativo para o produtor”. Já para o consumidor final, o quilo pode chegar a R$ 40 na Capital.
Além do Baixo Jaguaribe, a pitaya também é produzida no Sertão Central, onde tornou-se uma alternativa a outras culturas para uns e garantia de renda para outros.
Adequação
A adaptação do agronegócio é uma necessidade reconhecida pelo titular da Sedet, Maia Júnior. O secretário revela que a Pasta vem tentando aproximar os produtores da Academia através da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).
“É importante para que esse conhecimento chegue à pratica e nos garanta uma maior produtividade utilizando menos água. Ainda estamos intermediando com a indústria, para que a produção tenha para onde escoar”, revela.
De acordo com Ribeiro, um dos exemplos que melhor representam essa adequação é o ganho de espaço da palma forrageira, destinada à alimentação do gado. Ele aponta que o produto tem garantido parte da produção de leite local, totalizando mais de mil hectares de área plantada no Estado.
“A produtividade dela é impressionante. Tem gente que diz que a palma chega a dar 400 toneladas (t) por hectare (ha) ao ano, consumindo apenas cinco metros cúbicos (m³) por hectare, enquanto a banana, por exemplo, requer 20 mil m³/ha”, revela.
Maia Júnior destaca que a intermediação entre produtores, pesquisadores e o setor privado já tem dado resultados, como é o caso da cerveja Legítima, que é fabricada utilizando mandioca. “Nós articulamos os produtores para que a Ambev utilize o produto daqui. Devemos ter um exemplo parecido agora com a cana de açúcar e a instalação da Diageo”.
Além da pitaya e da palma, o secretário aponta que o cacau, trigo, romã, caqui e mirtilo estão em fase de testes e experimentação para substituírem outros cultivos. “Vão haver substituições ou não vamos ver nenhum avanço no agronegócio”, dispara o titular da Sedet.
Camarão
Além da agricultura, as atividades agropecuárias também estão sofrendo reformulações, como é o caso da produção de camarão, que tem migrado do litoral para o interior do Estado. Com rentabilidade maior, a carcinicultura tornou-se uma alternativa para pequenos e médio produtores afetados pela estiagem.
Somente a região do Baixo Jaguaribe já responde por cerca de 10% da produção de camarão no Ceará. A Expectativa é de que essa participação chegue a 20% nos próximos anos. Em Jaguaruana, a criação de camarão já é a principal atividade econômica, exercida por cerca de 500 pequenos e médios criadores.