De acordo com com estudos do Cepea/USP, a elevação do dólar tende a favorecer o agronegócio, porque o setor exporta mais do que importa e tem sido superavitário nos últimos 25 anos.
O agronegócio brasileiro não tem motivos para se preocupar com a alta do dólar, já que historicamente a desvalorização do real tem impactos positivos para os produtores rurais do país. A opinião é do coordenador científico do Cepea/USP (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada da Universidade de São Paulo), Geraldo Barros.
De acordo com o professor, estudos do Cepea/USP mostram que a elevação do dólar tende a favorecer o agronegócio, porque o setor exporta mais do que importa e tem sido superavitário pelo menos nos últimos 25 anos. “Para o produtor agrícola, uma alta do dólar atua via dois canais: eleva os custos por causa do aumento dos preços dos insumos importados e incrementa a renda bruta porque aumenta a receita das exportações convertida em reais. Mas, como regra, sabe-se que o aumento da renda supera a elevação de custos”, afirma Barros em artigo publicado no site do Cepea/USP.
Desde o ano 2000, segundo o estudo do Ipea, o valor real do dólar (descontada a inflação brasileira) acumulou queda próxima de 50%. “Em outras palavras, se nossa moeda (o Real) não tivesse se valorizado em termos reais, o faturamento das exportações transformado em reais seria o dobro do atual”, explica o professor.
Ainda de acordo com Barros, os preços em dólares dos produtos do agronegócio brasileiro subiram 124%, de 2000 até 2011. Desde então, vêm caindo, mas mantém atualmente alta de 53% em relação ao ano 2000. Quando esses preços são convertidos para reais estão 27% abaixo de seus valores em 2000 se descontada a inflação, segundo Barros.
O coordenador do Cepea acrescenta que, mesmo com a valorização do real no longo prazo, o agronegócio tem aumentado a competitividade e exportado cada vez mais. “Atualmente, o agronegócio exporta um volume de produtos 3,6 vezes maior do que em 2000. Como isso tem sido possível? Pelo aumento da produtividade”, complementa Barros. Ele lembra ainda de estudos do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento mostraram um crescimento da produtividade agrícola de 78%, de 2000 a 2017, compensando com sobra a queda dos preços em reais, quando descontada a inflação.
O professor diz ainda que o agronegócio brasileiro deve concentrar suas preocupações é “nos conflitos comerciais e na imagem do país no que se refere a questões ambientais e sanitárias” e não na alta atual do dólar.