Ao longo destas décadas, o mercado passou por várias transformações, que se refletiram em desafios para o Cepea. Mas o Centro de Pesquisas acompanhou tais evoluções, por meio de ajustes metodológicos, buscando sempre garantir a transparência da informação divulgada.
Nas principais bacias leiteiras do Brasil acompanhadas pelo Cepea, o fornecimento do leite cru ao laticínio é diário, mas o pagamento ao produtor é realizado mensalmente e sempre no mês subsequente ao da captação. Por isso, no início de cada mês, o Cepea consulta cooperativas, indústrias e produtores para saber qual foi o valor pago pelo leite cru captado no mês anterior.
De 2004 a 2018, os preços médios calculados pelo Cepea se pautaram pela coleta – via telefone – de informações agregadas dos volumes e dos valores negociados. Assim, os preços mesorregionais eram ponderados por seus respectivos volumes (este, portanto, coletado com o colaborador) para gerar médias mesorregionais, ao passo que as médias estaduais e a “Média Brasil” eram ponderadas pelos volumes indicados na Pesquisa Pecuária Municipal (PPM) e na Pesquisa Trimestral do Leite (PTL), respectivamente, ambas do IBGE. Ainda, até 2018, o Cepea divulgava os preços brutos e líquidos médios, mínimos e máximos – sempre adotando o mês de pagamento como referência para nomear a informação divulgada. Nesse sentido, um preço chamado de “agosto” se referia ao valor recebido em agosto pelo leite que foi captado em julho.
Procurando sempre o aprimoramento de suas informações, a partir de 2019 o Cepea passou a visar a obtenção de dados mais desagregados, ou seja, relacionados à negociação individual. Então, com o apoio financeiro e a parceria dos associados da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB) e da Viva Lácteos (Associação Brasileira de Laticínios), a partir de 2019, o Cepea adotou uma nova metodologia de cálculo do preço do leite ao produtor, na qual a forma de coleta de dados passou a ser realizada de modo desagregado, considerando o volume e preço de cada negociação entre produtores e laticínios. Essa coleta desagregada permite ao Cepea calcular as médias de preços de forma padronizada entre os colaboradores e agregar os dados em estratos de produção. Além disso, os cálculos das médias estaduais e da “Média Brasil” deixaram de basear-se na ponderação através de dados do IBGE e passaram a ser feitos com base no volume coletado diretamente pelo Cepea.
Também em 2019 as definições de preços mínimos e máximos foram padronizadas: os valores médios do menor estrato de produção passaram a considerar apenas os dados de produtores com captação diária menor que 200 litros de leite por dia; e, os do maior estrato de produção, aqueles com captação diária maior que 2.000 litros de leite por dia. Além disso, encerrou-se a série histórica de preços brutos e a divulgação passou a ser apenas do preço líquido, que não inclui frete e nem impostos.
A partir de setembro de 2022, visando a estreitar sua interação com seus colaboradores, o Cepea passou a publicar apenas as médias estaduais e a “Média Brasil”. Preços médios de estratos de produção específicos e os preços mesorregionais passaram a ser exclusivos para a rede de colaboradores do Cepea. A metodologia utilizada pela pesquisa do Cepea de 2019 a 2022 pode ser acessada aqui.
Finalmente, havia uma antiga reivindicação do setor leiteiro por maior clareza quanto ao período de referência da pesquisa do Cepea. A identificação dos preços do leite ao produtor pelo período de pagamento fazia com que sempre se divulgasse um dado com o mesmo nome do mês em questão. Entretanto esse pagamento se referia à captação realizada no mês anterior. Essa forma de nomear o preço não deixava claro que a pesquisa do Cepea se baseia em informações de negócios já efetuados – abrindo espaço para interpretações de que o Centro de Pesquisa estaria estimando um preço de referência para ser pago por entregas no mês subsequente.
Por esse motivo, o Cepea, a partir de janeiro de 2023, faz um novo ajuste, mas apenas na nomenclatura do preço do leite cru. No lugar de nomear a informação de acordo com o mês em que houve pagamento (como vem sendo feito desde 2004), o Cepea passará a adotar o mês de captação do leite cru como referência para nomear os dados divulgados. É importante ressaltar que essa mudança se refere apenas à nomenclatura do dado, não ao processo de coleta de informações e cálculo das médias. A metodologia utilizada pela pesquisa do Cepea a partir de 2023 pode ser acessada aqui.
Como exemplo: na Média Brasil líquida, a informação nomeada “dezembro/22”, que foi de R$ 2,5286/litro, se referia ao preço recebido pelos produtores em dezembro/22 pelo leite que foi captado em novembro/22. Com o ajuste a ser realizado em 2023, a referência para nomear o dado passa a ser o mês da captação (independentemente do mês em que o produtor recebe o pagamento), de modo que essa mesma informação (de R$ 2,5286/litro) será identificada como “novembro/22”.
Adotar o mês de captação como referência para nomear o preço do leite é importante para facilitar a compreensão do panorama do mercado, diminuir a assimetria de informação e contribuir para o processo de tomada de decisão dos agentes do setor. Com essa mudança, será possível sincronizar as nomenclaturas de preços e custos, tornando mais simples aos pecuaristas e laticínios avaliar a rentabilidade da atividade.
Dessa forma, o Cepea busca cumprir sua missão, que é contribuir com o agronegócio para o bem-estar da sociedade brasileira por meio da produção de conhecimento de base científica e da divulgação de informações relevantes que auxiliem agentes em tomada de decisão. Revisar a metodologia e adequá-la à pesquisa à evolução do mercado é tarefa permanente para que o Cepea possa continuar acompanhando o mercado e atuando como um importante difusor de informação na cadeia do leite. Ainda assim, é preciso destacar que é a confiança e a participação dos agentes da cadeia, por meio do apoio financeiro das organizações setoriais e pela adesão voluntária das empresas à rede de colaboradores do Cepea, que tornam possível ao Centro de Pesquisa registrar a memória do setor e divulgar as séries históricas de preços.
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