Ao contrário de uma DOP, denominação de origem protegida, a STG não protege o produto pela ligação com seu território, mas sim uma receita.
Rótulo com duas certificações: leite de feno e agricultura biológica. FOTO: Débora Pereira/Profession Fromager
“Este leite tem muitas vantagens para o queijo”, diz Denis Géré, diretor da Fromagerie d’Entrammes (em Mayenne), que pertence à cooperativa de leite orgânico Lait Bio du Maine. “Não temos mais medo de contaminações típicas de alimentos fermentados que podem levar a defeitos de fabricação, como inchaços e olhaduras indesejáveis. Nossos cooperados excluíram completamente o uso de silagem”.
Tomme de leite cru de vaca curada com mucor, com selo STG leite de feno. FOTO: Débora Pereira/Profession Fromager
Vacas comem é capim
No Brasil, outros alimentos fermentados como cevada e polpa cítrica são dados aos animais. São sobras de indústrias de cerveja e de suco de laranja vendidos a baixo custo, que se popularizam como alternativa alimentar. O leite produzido por animais que comem esses alimentos não é indicado para fazer queijo artesanal de leite cru, causam inúmeros defeitos sensoriais e visuais. E podem provocar intoxicações e cirrose nas vacas.
Vacas que não comem silagem são mais felizes e saudáveis. FOTO: Débora Pereira/Profession Fromager
De acordo com Lucie Quilleré, assistente da associação, “numerosos estudos científicos mostraram que a nutrição baseada no feno melhora a composição de ácidos graxos e a proporção ômega-3 / ômega-6 do leite. Vacas são feitas para digerir capim nos seus quatro estômagos. A silagem de milho degrada a composição do leite e tem impactos na saúde dos animais e no meio ambiente”.
Áustria é pioneira mundial no leite de feno
A associação francesa promoveu um dia de campo para apresentar seus resultados. A reunião foi em um celeiro equipado com grandes ventiladores quentes para secar a erva, o que exalava um odor delicioso de pasto.
Karl Neuhofer, presidente da Consórcio Heumilch (leite de feno) da Áustria há quinze anos, foi o convidado de honra. O país é pioneiro em produção de leite de feno. “Na Áustria, 90% da população sabe o que significa Heumilch. O leite de feno é tão conhecido quanto a Coca-Cola!”, disse ele.
Áustria exporta tecnologia de secagem de feno para os franceses. FOTO: Débora Pereira/Profession Fromager
Para Karl, o sucesso econômico do leite de vacas que só comem feno se deve à coerência entre o bem-estar animal, a proteção da natureza e a necessidade de produzir um leite de melhor qualidade. “Esse é um tópico muito atual para os consumidores. As vacas são ruminantes, não gostam muito de grãos, o feno é positivo para a pegada de carbono, precisamos parar de importar grãos do Brasil!”, conta.
A Áustria tem 8 mil fazendas certificadas, com uma média de 14 vacas por fazenda, 85% localizadas nas montanhas. Esse volume permite que cerca de 60 empresas produzam 600 produtos certificados com a STG leite de feno. 85% do leite é transformado em queijo. Metade da produção é vendida para a Alemanha. O preço do litro de leite certificado pode chegar a 60 centavos de euro.
Produção de leite é bom para a natureza
Celeiro de secagem de feno na Normandia. FOTO: Débora Pereira/Profession Fromager
A União Europeia tem apoiado a iniciativa e financiado associações e fazendeiros que valorizam o leite de feno. “80% do nosso investimento é destinado à comunicação e educação dos clientes. Contamos uma história simples, pois o consumidor não quer saber muitos detalhes. O objetivo é distanciar dessa imagem mundial do leite, que hoje é negativa, para demonstrar que nossa produção é boa para a natureza”, conta Karl. A associação austríaca pretende agora lançar sua filosofia fora da Europa. “Inclusive no Brasil!”