O Sudoeste do Paraná, assim como o Oeste de Santa Catarina viveram uma verdadeira “Revolução do Leite” nas últimas duas décadas. São hoje, as duas maiores regiões produtoras de leite em seus Estados e há 20 anos atrás o leite mal aparecia como atividade econômica na maioria das propriedades. A “revolução” foi uma alternativa encontrada por organizações de produtores, organizações não governamentais e empresas públicas dessas regiões para incluir as famílias que foram expulsas do modelo de tecnificação intensiva da suinocultura.
Baseado em sistemas de produção de leite a base de pastagem perene e em pequenas organizações da agricultura familiar o modelo fez sucesso. Entre os modelos da cadeia leite no Sudoeste do Paraná, um tem ganho destaque no município de Francisco Beltrão: a Comunidade do Assentamento Missões, que é um polo de produção leiteira. Essa comunidade de assentados da reforma agrária deve estar produzindo quase 20% do leite do município em, aproximadamente, cem propriedades das quase 1500 que produzem leite no município. Ali o leite é de longe a principal atividade econômica nessas pequenas propriedades de dez ou doze hectares. As famílias se diferenciaram: algumas famílias investem muito, outras investem pouco e outras produzem muito, mesmo investindo pouco. Uma pequena parte das famílias originalmente assentadas, entre 10 e 15%, venderam e foram embora, e a maioria se arrependeu. As que compraram estavam mais dispostas a investir e produzir sobretudo na atividade leiteira.
E tudo ali, vinte e cinco anos atrás, era apenas uma fazenda desmatada, com algum gado e muita dívida no banco. O assentamento Missões é um caso de sucesso de assentamento da Reforma Agrária. E para explicar esse sucesso na produção leiteira, há um que as famílias apontam claramente: o apoio técnico recebido. Seja em diferentes projetos financiados pelo INCRA, que tinha verba para assistência técnica, ou também por meio da assistência técnica privada e das empresas de laticínios, que por lá são mais de meia dúzia que competem pelo leite dessas famílias.
Esse exemplo no Paraná confirma o que é observado também em Santa Catarina: independentemente do tamanho da propriedade, a assistência técnica é fundamental para a evolução da atividade leite, em especial o modelo de produção a base de pastagens perenes. Esse modelo é relativamente novo e a maioria das tecnologias estão sendo geradas pela pesquisa estadual e sendo diretamente aplicadas nas propriedades.
Outra questão fundamental é a organização das famílias. Em um assentamento a organização já faz parte da sua formação, mas o exemplo do assentamento Missões pode e deve ser repetido em comunidades rurais onde ocorram vários produtores de leite, que via organização recebam acompanhamento técnico conjunto. Sejamos inteligentes!