O Beef-on-Dairy está mudando a lógica da pecuária no Brasil. A prática, que consiste em inseminar vacas leiteiras com sêmen de touros de corte, vem ganhando força nas principais bacias leiteiras do país, como Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.
Segundo informações da Associação Brasileira de Angus, esse modelo híbrido agrega valor a bezerros tradicionalmente desvalorizados, reduz ciclos de engorda e melhora a qualidade da carne.
Como funciona o Beef-on-Dairy
A estratégia baseia-se no uso de sêmen sexado para as melhores vacas leiteiras — garantindo a reposição do rebanho — e na inseminação do restante com raças de corte como Angus, Hereford, Simental e Brangus.
O resultado é um bezerro mestiço de maior valor comercial, capaz de gerar renda adicional ao produtor de leite e abastecer frigoríficos e nichos premium.
Essa técnica não é nova no mundo: em países como Estados Unidos e Suíça, já responde por 20% a 50% das inseminações. No Brasil, onde leite e carne historicamente evoluíram de forma separada, a integração avança rapidamente.
Dados da CooperAliança, no Paraná, mostram que os primeiros lotes abatidos em 2024 atingiram alto padrão de marmoreio, certificados pelo programa Carne Angus Certificada.
Benefícios econômicos e éticos
Para o produtor, o impacto é direto no bolso. Um bezerro leiteiro puro costuma ter baixo valor de mercado e, em alguns casos, é descartado. Com o Beef-on-Dairy, esse animal pode valer várias vezes mais.
Nos Estados Unidos, exemplares com apenas dois dias de vida chegam a preços entre US$ 900 e US$ 1.000. No Brasil, embora os valores sejam inferiores, a lógica de valorização é a mesma.
Além do ganho financeiro, a técnica resolve um problema ético histórico: o abate precoce de machos leiteiros, prática cada vez mais rejeitada pela sociedade e pelo mercado.
Adesão da indústria e do mercado premium
Frigoríficos e exportadores estão abrindo espaço para esses cruzados. A carne proveniente de cruzamentos como Angus × Holandês apresenta maciez e suculência reconhecidas, atendendo padrões de certificação e conquistando consumidores que buscam carne premium e sustentável.
Durante a Expointer 2024, a Associação Brasileira de Angus, em parceria com empresas de genética como a Semex Brasil, lançou o Programa Beef-on-Dairy, que oferece catálogos específicos de touros adaptados a esse tipo de cruzamento.
Desafios para a adoção
Apesar do potencial, especialistas recomendam cautela. A seleção genética deve priorizar touros com facilidade de parto para evitar distocias. Além disso, manejo adequado dos bezerros, boa colostragem e integração com cooperativas e frigoríficos são fundamentais para garantir retorno econômico.
Pesquisas internacionais indicam que o impacto negativo sobre a produção de leite após o parto de mestiços é mínimo — geralmente inferior a 2% — e amplamente compensado pela valorização dos bezerros.
Perspectivas para a pecuária brasileira
A tendência é de crescimento acelerado. Estimativas do setor apontam que, em poucos anos, entre 20% e 30% das inseminações em vacas leiteiras no Brasil serão com touros de corte, seguindo o modelo já consolidado na Europa.
Com menor pressão por novas áreas, melhor aproveitamento do rebanho e redução das emissões por animal abatido, o Beef-on-Dairy não é apenas uma técnica, mas uma nova forma de fazer pecuária — mais integrada, rentável e sustentável.
*Adaptado para eDairyNews, com informações de CompreRural