A produção de caseína a partir de soro de leite é uma realidade industrial, uma conquista inédita que promete revolucionar a indústria láctea global.
A francesa Standing Ovation, em parceria com o grupo Bel, alcançou a produção em larga escala de proteínas caseínas a partir de um subproduto da fabricação de queijos: o soro ácido.
Tradicionalmente, a caseína — a proteína mais abundante do leite — é obtida diretamente do leite. Existem três tipos principais: alfa S1, alfa S2 e beta. Produzi-las a partir do soro, que normalmente é considerado um resíduo, parecia impossível. Mas a inovação tecnológica da fermentação de precisão tornou isso viável.
Como o soro vira caseína
O processo da Standing Ovation utiliza microrganismos patenteados que consomem o soro como alimento e produzem as três principais caseínas. “O líquido restante é difícil de valorizar.
Com nosso processo patenteado, conseguimos reintegrá-lo ao ciclo produtivo e dar uma segunda vida às proteínas altamente funcionais”, explica Romain Chayot, cofundador e CSO da empresa.
O soro utilizado vem de queijos do grupo Bel, criando um sistema de ciclo fechado, onde resíduos se tornam matéria-prima valiosa.
“A capacidade de gerar caseínas a partir de um co-produto da fabricação de queijo representa uma verdadeira revolução tecnológica e um passo significativo em nosso compromisso com uma transição alimentar sustentável”, afirma Anne Pitkowski, diretora de pesquisa e aplicações do Bel Group.
Benefícios ambientais do ciclo fechado
A análise do ciclo de vida do processo mostra impactos ambientais expressivos: redução de 74% nas emissões de CO2, 99% menos uso de terra e 68% menos consumo de água em comparação com a caseína tradicional de origem animal.
Esses números reforçam o potencial da inovação para o setor lácteo, historicamente intensivo em carbono, e fortalecem a meta do Bel de alcançar neutralidade de carbono até 2050. O contraste é evidente: de um subproduto pouco valorizado a uma proteína de alto valor funcional, reduzindo impactos ambientais — tradição e modernidade se encontram.
Desafios para o mercado
Embora a produção industrial já esteja em andamento, obstáculos regulatórios e econômicos ainda existem. Nos Estados Unidos, pelo menos uma instância de GRAS (Generally Recognised as Safe) foi concedida para caseínas de fermentação de precisão. Na Europa, onde Bel e Standing Ovation têm sede, as aprovações ainda estão pendentes.
O preço também é crucial. Chayot confirma que a produção industrial já começou e que a expansão com outros grandes players lácteos está em curso, mas não revela se a caseína já é competitiva no mercado. É provável que a entrada em produtos comerciais só ocorra quando a regulamentação e a viabilidade econômica forem alinhadas.
Um marco na história láctea
Este avanço une raízes tradicionais da produção de queijos franceses à tecnologia de ponta, transformando o que antes era um resíduo em uma proteína sustentável e funcional. Para os consumidores, isso significa produtos mais ecológicos, com menor pegada ambiental, mas sem abrir mão da funcionalidade e qualidade do leite.
O feito de Bel e Standing Ovation é também uma demonstração clara de como a inovação pode transformar o setor lácteo global: locais e familiares, mas com soluções que impactam o mundo inteiro. O que antes era desperdício agora alimenta a próxima geração de queijos e produtos lácteos, provando que sustentabilidade e lucro podem caminhar lado a lado.
Em resumo, a indústria láctea testemunha uma virada histórica: do soro descartado à caseína funcional, em escala industrial, com impactos ambientais reduzidos e potencial para transformar toda a cadeia. A história de inovação de Bel e Standing Ovation é um exemplo de futuro possível para o setor lácteo global.
*Escrito para o eDairyNews, com informações de Dairy Reporter






