É grande a indignação de produtores de leite com o presidente Jair Bolsonaro, em quem votaram maciçamente nas eleições de 2018. Não bastasse a falta de respostas de seu governo aos pedidos de medidas de apoio ao setor, cuja crise se agravou nos últimos anos, Bolsonaro ainda postou há dois dias, em sua conta no Youtube, um vídeo em que o médico Belmiro D’Arce, de Presidente Prudente (SP), desaconselha o consumo de leite e derivados.
No vídeo, Belmiro diz que o que determina se uma pessoa morrerá ou não em consequência da contaminação pelo coronavírus é a imunidade, ou seja, “a condição em que se encontra o sistema de defesa do corpo.” Também faz algumas recomendações sobre alimentos que contribuem para aumentar a imunidade e aponta quais são prejudiciais à saúde. Entre eles, pontua Belmiro, estão leite e derivados, açúcar, massas e produtos processados.
“Todos esses [produtos] que eu citei criam no corpo um ambiente propício para a multiplicação dos vírus, além de prejudicar a imunidade”, afirma o médico do município do interior de São Paulo, que não apresentou, no vídeo, os resultados de qualquer estudo científico para embasar sua fala.
A reação à publicação de Bolsonaro nos grupos de aplicativos de produtores de leite foi imediata, aumentando a indignação do setor justamente num momento em que a maioria dos laticínios decidiu não elevar os preços do leite ao produtor no mês de maio, como indicavam as projeções feitas em abril, sob a alegação de que também enfrentam dificuldades por causa da pandemia.
“Não se pode admitir um presidente divulgar algo como isto”, escreveu uma produtora de leite. “Onde está a retratação do presidente?” cobrou outro pecuarista. “Se não há retratação, que se replique então”, acrescentou a agricultora.
Outros pediram que o vídeo não fosse replicado, temendo uma possível queda no consumo de lácteos, o que traria ainda maiores dificuldades para o setor. Os mais leais a Bolsonaro foram além: “Não replique, pois a imprensa e os esquerdistas fdp buscam desde 01-2019 alguma falha para desfazerem a imagem do capitão.”
Em um dos grupos, há a informação de que a revolta do setor foi comunicada à ministra da Agricultura, Tereza Cristina, a fim que ela pedisse ao presidente a retirada da publicação da postagem de sua conta, mas ela continua lá.
Assista ao vídeo: