O Brasil está se empenhando para romper o monopólio da Austrália na exportação de gado vivo para a Indonésia, um mercado promissor para a pecuária nacional. Embora poucos detalhes do plano de importação de 100.000 cabeças de gado leiteiro tenham sido divulgados, o valor total estimado é de impressionantes IDR 4,5 trilhões (equivalente a A$ 4,3 bilhões). Informações publicadas pelo site Beef Central indicam que a ambiciosa promessa do novo presidente da Indonésia, Prabowo Subianto, de fornecer leite e refeições gratuitas a todas as crianças em idade escolar está servindo como um catalisador para que o Brasil finalmente tenha acesso ao vasto mercado de importação de gado vivo do país.
Essa iniciativa pode abrir novas oportunidades para os produtores brasileiros, consolidando sua presença no competitivo cenário asiático. O Ministério da Agricultura da Indonésia informou à mídia local que os dois países assinaram um memorando de entendimento, que prevê a importação de 100.000 cabeças de gado leiteiro tropical do Brasil. Esse plano busca apoiar a nova política de fornecimento de leite gratuito nas escolas.
Essa movimentação não apenas pode diversificar as fontes de fornecimento de gado para a Indonésia, mas também representa uma oportunidade estratégica para o Brasil expandir sua presença no mercado asiático, que tem demonstrado uma demanda crescente por carne bovina. O Brasil, já um dos principais exportadores de carne do mundo, vê nessa iniciativa a chance de solidificar sua posição como um fornecedor confiável e competitivo, contribuindo para o fortalecimento da sua balança comercial e a promoção do agronegócio nacional.
Embora poucos detalhes do plano tenham sido divulgados, o valor total estimado da operação gira em torno de IDR 4,5 trilhões (equivalente a A$ 4,3 bilhões).
Até o momento, a Austrália, que fica a apenas 4 ou 5 dias de viagem marítima, tem sido a principal fornecedora de gado vivo para a Indonésia. O país tem enviado entre 300.000 e 600.000 cabeças de gado tropical por ano para serem confinadas em instalações indonésias na última década.
O Brasil, por sua vez, ainda não tinha conseguido acesso ao mercado indonésio devido à presença de febre aftosa em seu rebanho bovino. No entanto, no início deste ano, o Brasil se declarou livre da doença sem a necessidade de vacinação. Atualmente, o governo brasileiro aguarda o reconhecimento formal desse status pela Organização Mundial de Saúde Animal, o que está previsto para ocorrer em maio de 2025.
Outra barreira que o Brasil enfrenta no desenvolvimento de um comércio de exportação para a Indonésia é o alto custo e o longo tempo de transporte marítimo, que pode levar de cinco a seis semanas.
Esses custos poderiam ser reduzidos com o uso de grandes embarcações transportando um volume elevado de gado, mas isso também pode gerar problemas logísticos com congestionamento portuário e dificuldades nas quarentenas na Indonésia.
Por outro lado, o gado brasileiro não precisaria seguir o rígido sistema de garantia de bem-estar e rastreabilidade conhecido como ESCAS (Exporter Supply Chain Assurance Scheme), ao qual o gado australiano está sujeito. Isso poderia abrir portas para uma clientela mais ampla e com custos de manejo reduzidos.
A política de leite e almoço escolar gratuitos foi uma promessa central da campanha de Prabowo, que garantiu que o governo destinaria verbas substanciais para apoiar essa iniciativa e também para fortalecer a meta da Indonésia de autossuficiência alimentar.
Caso os primeiros carregamentos de gado leiteiro comecem a sair do Brasil para a Indonésia, existe a expectativa de que também haja envios de gado de corte.
O Ministro da Agricultura da Indonésia, Amran Sulaiman, declarou à mídia local que o investimento visa aumentar a produção de leite no país, e que a presença de gado brasileiro pode contribuir para que a Indonésia alcance a autossuficiência tanto em carne quanto em leite.
Amran afirmou que o objetivo é suprir as necessidades internas de proteína bovina e leite por meio da produção local, sem depender de importações.
O Dr. Michael Patching analisou essa tendência em seu último Relatório sobre Carne Bovina do Sudeste Asiático, publicado no Beef Central na semana passada. Ele destacou que o governo indonésio anunciou revisões nas regulamentações de importação de gado e produtos de origem animal, evidenciando sua urgência em estabelecer negócios com o Brasil o quanto antes.
“Embora o plano inclua a possibilidade de importar gado leiteiro do Brasil, a escolha surpreendeu alguns observadores”, escreveu o Dr. Patching.
“O clima tropical do Brasil favoreceu o sucesso na criação de gado leiteiro, e as autoridades indonésias acreditam que essa experiência será valiosa. As raças da Nova Zelândia têm enfrentado dificuldades no país.”
“No entanto, ainda não está claro se o sucesso brasileiro poderá ser replicado na Indonésia, onde a produtividade leiteira é historicamente baixa. No país, as vacas produzem de 12 a 15 litros de leite por dia, em comparação com os 40 a 50 litros das vacas europeias ou australianas.”
Uma reunião bilateral entre a Indonésia e o Brasil ocorreu recentemente após a participação do Ministro Amran na Reunião Ministerial da Agricultura do G20 no Brasil. Amran afirmou que o governo indonésio está comprometido em continuar transformando os sistemas agrícolas e alimentares de maneira holística.
O Brasil exportou 583.000 cabeças de gado vivo em 2023, principalmente para a Turquia (64%) e outros países do Oriente Médio. A previsão para 2024 é de exportar 475.000 cabeças, segundo estimativas do USDA.
Alternativa ‘duvidosa’ é promovida
Em outra reviravolta inesperada, a Indonésia também sugeriu o uso de “leite de peixe” como parte de seu programa de refeições escolares gratuitas. A mídia indonésia citou o diretor-presidente da empresa local ID Food, Apik Wijayanto, afirmando que estão sendo realizados estudos para avaliar alternativas ao leite de vaca.
Além da curiosidade de como seria possível produzir “leite” a partir de peixe, muitos indonésios nas redes sociais questionaram se esse produto é real ou apenas uma invenção. O “leite de peixe” seria, na verdade, uma bebida proteica produzida a partir do hidrolisado de proteína de peixe, com valor nutricional semelhante ao leite de mamíferos.
A bebida estaria disponível em sabores como chocolate e morango, sem gosto de peixe, segundo as reportagens. Com grande disponibilidade de pescado, o leite de peixe está sendo considerado uma alternativa viável, de acordo com a imprensa local CNA.