O agronegócio brasileiro é um dos mais potentes do mundo, mas enfrenta um desafio crucial: comunicar-se de forma eficiente com a sociedade urbana.
Enquanto na Nova Zelândia a integração entre campo e cidade é parte da cultura, no Brasil ainda existe um abismo na percepção do setor.
Essa é uma das principais conclusões trazidas por Diana Jank, publicitária e diretora de marketing da marca Letti A², após sua visita ao país da Oceania como bolsista do programa Nuffield International Farming Network.
Nova Zelândia: um país pequeno, mas com lições gigantes
Com apenas 5,3 milhões de habitantes e território 32 vezes menor que o do Brasil, a Nova Zelândia exporta até 90% de sua produção agropecuária. Apesar de apenas 15% da população viver em áreas rurais, o campo está presente na vida de todos.
Vacas pastando à beira das estradas são parte do cotidiano e reforçam o vínculo entre consumidor e produtor.
Essa realidade ajuda a explicar por que a imagem do agronegócio neozelandês é tão positiva, especialmente nos mercados internacionais, como a Ásia, que valoriza o storytelling de produção sustentável e bem-estar animal.
O país investe fortemente em programas educativos, como o Farmer Time for Schools e o Garden to Table, que conectam estudantes à vida no campo desde cedo.
Educação e comunicação: a ponte que falta no Brasil
No Brasil, a distância entre campo e cidade tem gerado percepções distorcidas sobre o agronegócio.
Para Diana Jank, o setor precisa assumir o protagonismo na comunicação, mostrando não apenas o impacto econômico, mas também os avanços em sustentabilidade, bem-estar animal e tecnologia.
Ela defende que a educação é a base para essa transformação. “Não existe comunicação sem educação. É urgente criar acessos”, afirma.
O modelo neozelandês demonstra que quando a população entende o papel do agro, a relação com o setor se torna mais positiva e colaborativa.
Exemplos de inovação observados na Nova Zelândia
Durante sua viagem, Jank visitou:
- Fazenda de leite em Matamata com 600 vacas, onde tecnologia e manejo sustentável se destacam;
- Projeto de agroturismo em Rotorua, que recebe até 1.000 visitantes por dia;
- Produção verticalizada de leite de ovelha, transformado em fórmula infantil de alto valor agregado e exportada para a Ásia;
- Produtores de abóbora que investiram em branding e conquistaram espaço no mercado japonês;
- Única produção de frango orgânico do país, integrada a pomares, que aposta em marketing diferenciado.
Essas experiências evidenciam como inovação, branding e proximidade com o consumidor são pilares estratégicos para o sucesso do agro neozelandês.
Sustentabilidade: de diferencial a obrigação
Outro ponto observado por Jank é a centralidade do debate sobre emissões de metano na pecuária da Nova Zelândia.
A indústria, produtores e consumidores estão alinhados na busca por soluções que conciliem produção e meio ambiente. Sustentabilidade, antes vista como diferencial, tornou-se requisito para competir globalmente.
Para o Brasil, o desafio é comunicar essa complexidade sem cair em comparações simplistas. O país possui seis biomas, climas diversos e sistemas produtivos distintos, o que exige uma narrativa própria, baseada em sua realidade.
O papel estratégico da indústria
A indústria tem um papel decisivo na construção dessa comunicação. Cabe a ela conectar o produtor ao consumidor, investir em inovação, premiar boas práticas e contar histórias verdadeiras que valorizem o setor.
“Não se trata apenas de práticas sustentáveis, mas do que devolvemos à terra e do impacto positivo que o agro pode gerar”, destaca Jank.
Ao final de sua análise, ela reforça que o Brasil não precisa copiar modelos estrangeiros, mas sim inspirar-se neles para criar sua própria narrativa. “Temos tudo para ser protagonistas, sem comparações.
Precisamos apenas contar nossas histórias”, conclui.
*Adaptado para eDairyNews, com informações de Forbes