Em 1973, a produção no Brasil não chegava aos 8 bilhões de litros anuais, com produtividade média por vaca inferior a 700 litros por ano. Atualmente, a produção nacional de leite já supera a marca dos 35 bilhões de litros e a produtividade média do rebanho é mais de três vezes superior à registrada 50 anos atrás.
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Embrapa Gado de Leite chega então à maturidade tendo respondido à questão inicial e impactar na produção leiteira no Brasil.
Na década de 1970, o Brasil enfrentava crises de abastecimento de diversos produtos agrícolas. Era comum, os consumidores formarem grandes filas para comprar feijão, arroz, carne, entre outros produtos alimentícios.

Com o leite, não era diferente. Em 1973, a produção nacional não chegava aos 8 bilhões de litros anuais, com produtividade média por vaca inferior a 700 litros por ano.

Atualmente, a produção nacional de leite já supera a marca dos 35 bilhões de litros e a produtividade média do rebanho é mais de três vezes superior à registrada 50 anos atrás.

Resultado especialmente da pesquisa científica, esse grande salto na produção e na produtividade leiteira brasileira permitiram que a quantidade de leite disponível por habitante aumentasse quase 100 litros nesse período, passando de 75 litros para 170 litros recentemente.

O início da evolução da atividade coincidiu com a criação da Embrapa Gado de Leite, então Centro Nacional de Pesquisa em Gado de Leite (CNPGL), em 26 de outubro de 1976.

Àquela época, os desafios de pesquisar, desenvolver e transferir tecnologias para uma atividade presente em praticamente todos os municípios brasileiros e com diferentes graus de tecnificação, eram enormes.

E a missão inicial da unidade de pesquisa era “viabilizar o aumento de consumo de leite e derivados pelo aumento de sua oferta”.

O programa de implantação da unidade determinava que os estudos deveriam estar ancorados na implantação de sistemas de produção que permitissem a focalização integral dos problemas que deveriam ser resolvidos pela pesquisa.

Para atender a essas questões foi instalado em 1977, na própria Embrapa, o “Sistema de Produção de Gado Mestiço”, com um rebanho de composição genética mestiça entre Holandês e Zebu, criado predominantemente a pasto, com escala de produção e modelo de exploração de média tecnologia, que representava grande parcela das fazendas produtoras de leite do Brasil naquela época.

De forma complementar foi criado o Projeto de Acompanhamento de Fazendas, trabalho pioneiro de prospecção dos problemas da atividade e de transferência de tecnologias.

Foram realizadas ações de acompanhamento do desempenho de sistemas de produção de leite, a princípio em propriedades de Minas Gerais e Rio de Janeiro, e em seguida nos demais estados brasileiros.

Foi naquele momento que o problema inicial se deriva para as raças bovinas e tem início as pesquisas do mestiço leiteiro brasileiro e de estratégias de cruzamentos, com a finalidade de produzir uma raça leiteira reunindo as características de produção elevada inerentes ao Bos taurus (entre eles, a raça Holandesa), com a adaptabilidade às condições tropicais, característica do Bos indicus (entre eles, a raça Gir).

Estavam ali as bases para os programas de melhoramento animal para produção de leite em condições tropicais, coordenados pela Embrapa em parceria com as associações nacionais de criadores, em um modelo de parceria público-privada de sucesso, que teve a raça Gir Leiteiro como pioneira, em 1985, seguida da raça Guzerá (1994), e da raça tropical brasileira, o Girolando (1997), que conferiram um grande avanço de produtividade permitindo a disseminação de genética superior adaptada às diferentes regiões do País.

A pesquisa também atuou na avaliação genética nas raças Holandesa (2003) e mais recentemente no Jersey (2022).

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É necessário lembrar que, até o início da década de 1980, a pecuária nacional não contava com critérios objetivos e precisos para organizar a reprodução.

De maneira empírica, pecuaristas realizavam cruzamentos entre animais que apresentavam características de interesse, como boa produção leiteira, mas que nem sempre geravam descendentes com o mesmo desempenho.

Para resolver o problema, a Embrapa Gado de Leite traçou o perfil genético de reprodutores e organizou o primeiro sumário com o valor genético de animais para orientar e organizar a reprodução.

A ação não somente profissionalizou a cadeia produtiva do leite ao mostrar o valor reprodutivo de cada animal, por meio da genética, como foi a pioneira nesse trabalho no país. Após a iniciativa, viriam os sumários para gado de corte e outras criações animais.

Melhorando o pasto

Outra vertente de destaque na atuação da Embrapa Gado de Leite é o melhoramento genético vegetal. 

Até início da década de 1980, os sistemas pecuários no Brasil eram predominantemente extensivos, baseados no uso de pastagens de gramíneas pouco produtivas e de baixo valor nutricional, o que resultava em reduzidas taxas de lotação e desempenho animal.

Atualmente, as cultivares melhoradas associadas ao manejo adequado das pastagens se expandiram por todos os biomas nacionais.

A Embrapa Gado de Leite atuou no desenvolvimento de diversas forrageiras, tendo início com o capim-elefante Pioneiro, destinado ao pastejo em sistemas rotacionados, seguido do capim elefante anão para pastejo BRS Kurumi (2012) e do capim-elefante para corte e silagem BRS Capiaçu (2016).

A Unidade também disponibilizou ao mercado, forrageiras de inverno como os azevéns BRS Ponteio (2007), BRS Integração (2017) e BRS Estações (2022).

A entrega mais recente nessa área foi a BRS Integra, única cultivar da espécie forrageira Urochloa ruziziensis (syn. Brachiaria ruziziensis) desenvolvida para as condições de clima e solo brasileiros, destinada a sistemas integrados de produção.

A última década do milênio marca a mudança de assinatura do CNPGL, que passou a se chamar “Embrapa Gado de Leite” e a mudança para nova sede em Juiz de Fora-MG (até então, a unidade era baseada em Coronel Pacheco – MG, onde hoje fica o Campo Experimental José Henrique Bruschi; que juntamente com Campo Experimental Santa Monica, em Valença – RJ completam as bases físicas da unidade).

A Unidade teve participação ativa na criação e implantação do Programa Nacional de Melhoria da Qualidade do Leite, que permitiu alinhar os padrões nacionais de qualidade aos adotados internacionalmente, ação que juntamente com a adoção de boas práticas de produção e o adequado controle sanitário dos rebanhos, resultaram na disponibilização de produtos de maior qualidade e mais seguros para a população.

Estudos econômicos realizados pela Embrapa também tiveram papel importante na organização da cadeia de produção do leite e no aumento de sua competitividade, balizando a formulação de políticas públicas e fornecendo subsídios à tomada de decisão dos agentes da cadeia.

Em meados de sua quarta década de existência, a Embrapa Gado de Leite chega então à maturidade tendo respondido à questão inicial e impactar na produção leiteira nacional.

Hoje a unidade continua em busca de respostas para questões que podem afetar a atividade no futuro, utilizando-se de novas abordagens na fronteira do conhecimento científico mundial.

Como exemplos, o uso da seleção genômica nas raças Gir Leiteiro e Girolando tem sido um marco, colocando o Brasil na liderança mundial em melhoramento genético tropical.

A pecuária de precisão também é uma realidade, com o uso de sensores que permitem mensurar indicadores produtivos, fisiológicos e comportamentais em tempo real e auxiliam na tomada de decisão mais assertiva.

A nanotecnologia, as geotecnologias, as biotécnicas reprodutivas e a bioenergética também são exemplos de novas áreas de pesquisa aplicada que têm sido utilizadas para a busca de soluções inovadoras para o setor.

Agora a Embrapa Gado de Leite se lança para auxiliar na superação de novos desafios relacionados à área da sustentabilidade, em todas as suas vertentes, que pode ser sintetizada na bioeficiência dos sistemas de produção.

Esse conceito busca aliar a eficiência produtiva e econômica, com os princípios de descarbonização dos sistemas, eficiência hídrica, bem-estar animal, preservação da biodiversidade, adoção de práticas regenerativas e agenda ESG (ambiental, social e governança).

Assim, a Embrapa continuará atuando, de forma alinhada com toda a cadeia, de modo a contribuir para que a pecuária leiteira nacional continue entregando um alimento de excelente qualidade, atrelado a serviços ecossistêmicos essenciais ao bem estar da humanidade.

 

 

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