Pela aparência e tamanho, eles até assustam. Alguns machos alcançam 1500 kg, o equivalente ao peso de um automóvel sedã. Mas quem cria búfalos garante que eles são dóceis, não dão coice nem cabeçada.

Pela aparência e tamanho, eles até assustam. Alguns machos alcançam 1500 kg, o equivalente ao peso de um automóvel sedã. Mas quem cria búfalos garante que eles são dóceis, não dão coice nem cabeçada. E, de quebra, produzem carne e leite com propriedades cada vez mais valorizadas pelos consumidores.

“É uma carne comprovadamente mais magra que a carne bovina, com baixo índice de colesterol, alto teor de proteína e ferro”, assegura o médico veterinário Caio Vinícius Rossato, de Pilar do Sul, interior de São Paulo, que também preside a Associação Brasileira de Criadores de Búfalos.

O carro-chefe da bubalinocultura, no entanto, está na produção de queijo muçarela, que já movimenta R$ 1 bilhão por ano no Brasil. Com sabor suave e acentuada cor branca, a muçarela de búfala possui 48% mais proteína e 59% mais cálcio do que sua congênere de vaca, segundo a Embrapa. Para completar o pacote “saudável”, o leite de búfala é naturalmente do tipo A2A2, ou seja, não contém a beta-caseína A1, associada a reações alérgicas.

Do ponto de vista dos criadores, fatores econômicos e facilidade de manejo vêm chamando atenção para o búfalo, ainda que o plantel nacional represente fração de menos de 1% do rebanho bovino, atualmente em 213 milhões de cabeças. Antes restrito à Ilha de Marajó – que concentra quase 40% da população de 1,5 milhão de búfalos no país – hoje os animais podem ser encontrados em quase todos os estados brasileiros, incluindo as terras mais frias do Rio Grande do Sul.

Couro grosso e fertilidade
Régis Gonçalves, presidente da associação de criadores gaúchos, diz que muitos pecuaristas se interessam pela espécie devido à capacidade de ganhar peso rapidamente. O paladar do búfalo também não é dos mais exigentes. “Ele se adapta muito bem aos campos mais grossos e áreas com declive, produzindo alta qualidade de proteína onde os bovinos têm baixa eficiência”, diz. Some-se a isso o alto índice de fertilidade e longevidade das fêmeas, que dão crias por até 20 anos, o dobro da média das vacas. Por fim, o couro grosso dos animais também é um diferencial para resistir aos carrapatos que tiram o sono de criadores das raças bovinas europeias mais comuns no Sul do país.

Algumas características industriais desejáveis para o leite, como teor de proteína e gordura, também são diferenciais das búfalas. Em média, o teor de gordura é quase o dobro do leite de vaca (até 6,5%) e o índice de proteína fica entre 4,5% a 5%, contra 3,5% da concorrência. Devido a esses atributos, são necessários apenas 5 a 6 litros de leite de búfala para fazer 1kg de muçarela, contra 10,5 litros do leite de vaca.

E foi justamente a muçarela de búfala que conquistou o pecuarista Geraldo Pedro de Oliveira Neto, de Parauapebas, no Pará. Até seis anos atrás ele era apenas um dono de pizzaria incomodado com o preço do queijo. “Fui investigar e descobri que o queijo muçarela, em sua origem, na Itália, se refere apenas ao queijo de búfala. Resolvi fazer meu próprio queijo e percebi que tinha um alto valor nutritivo, muito mais saboroso do que o bovino. Decidi que seria mais negócio deixar de vender pizza e me dedicar ao queijo”, conta Geraldo, que hoje cria 100 búfalos e produz uma linha de queijos de marca própria (Cosa Nostra).

Docilidade é uma das características dos búfalos, como demonstra o criador Geraldo de Oliveira Neto em sua propriedade rural em Parauapebas, no Pará| Divulgação / Arquivo pessoal
“O principal tchan do negócio”, diz Geraldo, “é mesmo o rendimento do leite de búfala”. “Se der a mesma alimentação, uma búfala vai produzir muito mais. Para fazer um quilo de queijo de vaca gasta-se de 10 a 12 litros de leite, e o preço de venda fica em R$ 15. Bastam 5 a 6 litros de leite para fazer um quilo de muçarela de búfala e o preço alcança de R$ 40 a R$ 50”. O foco do ex-pizzaiolo, agora, é melhorar a eficiência genética do rebanho, recorrendo à inseminação artificial, e melhorar a qualidade dos pastos, com irrigação.

Em relação à carne, até há pouco tempo os cortes de búfalo eram vendidos nos açougues de forma indistinta à dos bovinos. Atualmente, já levam um selo próprio, mas o preço pago ao criador ainda é igual ou mais barato. “É uma carne com 55% menos calorias e 40% menos colesterol. Isso faz diferença para o consumidor. Lançamos na última Expointer (feira agropecuária do Rio Grande do Sul) a linguiça de búfalo. E estamos lançando agora o hambúrguer. O grande desafio é passar a informação das vantagens da carne de búfalo para o consumidor e conseguir refletir isso no valor do novilho, na rentabilidade ao produtor”, aponta Régis Gonçalves.

Para José Ribamar Felipe Marques, pesquisador da Embrapa Amazônia Oriental, em Belém (PA), o grande apelo do búfalo está no fato de o animal se dar bem “em regiões marginais, de onde não se extrai praticamente nada comestível e com total sustentabilidade”. “Todos os experimentos científicos comprovam que os búfalos são exímios ganhadores de peso, atingindo, em condições de pastagens nativas ou cultivadas, pesos de 450 a 500 kg, entre 18 e 24 meses”.

Com todas essas virtudes, então por que o búfalo não ocupa um espaço maior na pecuária brasileira? “Eles são explorados como animais de zootecnia há pouco mais de 50 anos, e os bovinos estão aqui há mais de 500 anos!”, diz José Ribamar. “A quantidade não é um ponto problemático, pois o búfalo deve compor um portfólio alternativo de produção animal, com carne e leite diferenciados”, conclui.

 

Consumidores brasileiros têm se surpreendido com a alteração do nome do queijo nas embalagens. Essa mudança foi definida em um acordo entre União Europeia e Mercosul.

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