Pode-se dizer que o Brasil retrocedeu 36 anos.
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O presidente Jair Bolsonaro e o ex-presidente José Sarney, ambos com governos intervencionistas / Imagem: UOL

Vivemos uma situação semelhante à de 1986, quando o presidente de então, José Sarney (PMDB), resolveu abolir as regras da economia e apontar outros, que não o governo, como culpados pelo aumento do custo de vida para os pobres. Em 1986, com o fracasso do Plano Cruzado, dispararam os preços da carne e do leite. Sarney culpou pecuaristas que estariam escondendo os bois no pasto.

Como Sarney, o atual presidente, Jair Bolsonaro, também costuma intervir sobre as leis da economia e jogar sobre os ombros de outros a culpa pelos aumentos dos preços.

Bolsonaro já abriu guerra contra os governadores e conseguiu até baixar na marra impostos sobre combustíveis e energia, segurando o preço na bomba para a gasolina e -um pouco- para o diesel.

Graças à baixa no preço dos combustíveis e da energia, teremos agora um período de inflação sob controle. Neste mês de julho, segundo o IBGE, o Brasil teve até deflação, de 0,68% no computo geral.

O problema é que isso, só, não basta para garantir a reeleição do atual presidente da República. Os preços em geral baixaram, mas os gastos com alimentos continuam em alta. Especialmente a carne, as frutas, legumes e… o leite!

A turma do andar de baixo continua comendo osso e tomando soro de leite. Os alimentos são o item que mais pesam no bolso da população de baixa renda, ou seja, da grande maioria dos eleitores.

O levantamento do IBGE sobre o mês de julho revelou preços mais altos em seis dos nove grupos de produtos e serviços verificados. O maior impacto individual veio do leite longa vida, com um aumento de 25,46% em apenas um mês. Resultado não só da sazonalidade como também do aumento no preço da produção e das rações para as vacas.

Por essas e outras o movimento de alta do grupo “Alimentação e bebidas” passou de 0,25% para 1,16% neste mês de julho, ou seja, quatro vezes maior que os 0,25% do mês anterior. Além dos 25,46% do longa vida, os produtos lácteos em geral aumentaram bastante: requeijão, 4,74%; manteiga, 4,25%; e queijo, 3,22%.

O grupo “Alimentação e bebidas”, como disse, é o que mais pesa sobre os mais pobres, que representam 52% do eleitorado. Tem o maior impacto inflacionário: 0,25 ponto percentual sobre o resultado geral da inflação de julho.

Deixou a turma da campanha eleitoral de Bolsonaro de orelha em pé, apesar de publicamente tentar aparentar o contrário.

Para Bolsonaro continuar nos levando ao Brasil de 36 anos atrás só falta, agora, ele colocar a culpa nos produtores de leite e mandar o que chama de “minha Polícia Federal” caçar as vacas no pasto.

Para Sarney, aquela política deu temporariamente certo, mas acabou se tornando um dos maiores desastres da história econômica e política do país.

O centrão de então —que era o PMDB— conseguiu eleger os governadores dos principais estados e quase dois terços da Câmara dos Deputados, do Senado e a esmagadora maioria das Assembleias Legislativas.

Não se sabe se Bolsonaro e seu centrão de agora (PP, PL, PR, etc.) terão o mesmo sucesso. Reeleito ou não, o fato é que Bolsonaro deixará, como Sarney, uma herança maldita para para a gestão do próximo governo.

Seis dias depois daquelas eleições, com a economia ainda pior do que antes do Plano Cruzado, o governo federal teve que lançar o Plano Cruzado 2 com um pacote fiscal de arroxo. Acabou o congelamento artificial e vieram vários aumentos de preços.

Num só dia: foram reajustados em 60% o preço da gasolina; 120%, os telefones e a energia; 100%, o preço das bebidas; 80%, nos automóveis; e 45% a 100%, os cigarros.

Houve protestos generalizados. Uma manifestação em Brasília, já no dia 27 de novembro, ficou conhecida como “badernaço”, com saques, depredações e incêndios.

O Cruzado 2 não resistiu. Em 25 de junho de 1987, uma multidão apedrejou o ônibus de Sarney quando em visita ao Rio de Janeiro e sobreveio a hiperinflação. Torçamos que a história não se repita, nem como farsa, nem como tragédia.

Companhia do interior de São Paulo deve faturar mais de R$ 1 bilhão e descarta boatos de venda; mirando um eventual IPO, o plano é crescer com M&As, com dois negócios já no gatilho.

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