Durante o período da quarentena, em que a população que não tem atividades essenciais e/ ou está nos grupos de risco tem sido orientada a permanecer em casa para evitar a contaminação pelo Covid-19, as cadeias produtivas do agro paulista se mobilizam para atender às determinações do Governo do Estado de São Paulo e continuar produzindo e, principalmente, escoando a produção para garantir o abastecimento de alimentos na mesa dos cidadãos.
No Vale do Paraíba, conhecida e importante bacia leiteira do Estado, os 600 cooperados da Cooperativa do Médio Vale Paraíba (Comevap), responsáveis pela entrega de 153 mil diários de leite, não deixaram este número cair. “A recomendação é que os produtores não mantenham contato com o transportador. Os funcionários responsáveis pela coleta do leite nas propriedades já recebem, normalmente, um treinamento feito pela Clínica do Leite (laboratório de Piracicaba, credenciado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento e que faz análise do leite) para usarem máscaras e luvas. Hoje, nosso reforço é em relação aos produtores, para que eles não mantenham contato com os coletadores, providenciem a ordenha e fiquem dentro de casa quando chegar o caminhão da coleta do leite”, afirma Aristeu Tranin, gerente responsável pela área da produção de leite da Comevap.
Na Cooperativa, sediada em Taubaté, o efetivo foi reduzido, funcionários com mais de 60 anos foram afastados, e todos os que ficaram foram treinados. Dessa forma, a captação não foi reduzida. “Além disso, as lojas de insumo estão funcionando, não vão faltar produtos para que os pecuaristas possam manter a mesma produção”, comenta Aristeu. E acrescenta orgulhoso: “Na greve dos caminhoneiros nós não paramos, não vamos parar, nenhum produtor cooperado nosso deixará de entregar a sua produção”, disse.
Muitos desses cooperados trabalham por conta própria ou contam com um empregado. É o caso do produtor José Osvaldo Junqueira. Ele e a esposa, Inês Junqueira, entregam todos os dias 120 litros de leite para a Comevap. “Não reduzimos a entrega, continuamos nosso trabalho, apenas redobramos o cuidado. Sou do grupo de risco, por ter bronquite crônica, e sei da nossa responsabilidade em entregar um alimento saudável”, afirma Zé Osvaldo.
Outro segmento que não pode parar é das hortaliças e vegetais. Os produtos estragam muito rápido seja na roça ou nas prateleiras. Já que muitas feiras livres foram suspensas, produtores estão se organizando em várias localidades do Estado para atender diretamente sua clientela. O exemplo vem de Jales e Santa Albertina, onde os produtores de orgânicos que vendiam na Feira de Orgânicos, às quartas e sábados, e também os produtores do “Comboio Jales”, de produtos convencionais, resolveram organizar um grupo no WhatsApp para que a clientela fiel possa fazer os seus pedidos.
O casal Vera Lúcia Inácio Maurício e Jean Maurício produz alface, rúcula, almeirão, cheiro-verde, pepinos caipira e japonês, tomate salada, quiabo, limão cravo e ainda fornece mandioca já descascada. “Estamos usando luvas, mantendo distância entre nós; depois de colher, nós embalamos todos os produtos com filme plástico e montamos as sacolas de acordo com os pedidos feitos via WhatsApp. Podemos entregar nas residências, mas também em algum local específico. Por enquanto nosso grupo é pequeno, apenas 10 produtores de Jales e região, como Santa Albertina, mas estamos nos organizando para aumentar esse grupo e atender a um público maior”, conta Vera. “Estamos nos adaptando a cada nova notícia, a cada dia, a única certeza é que vamos continuar produzindo para atender nossa clientela e quem mais se interessar”, afirmou.
Em Itatinga, os cerca de 80 produtores ligados à Associação dos dos Apicultores do Polo Cuesta (AAPC), continuam a produzir com todo empenho. “Como nossa atividade é a campo e as caixas de abelhas estão em uma área mais isolada, estamos trabalhando normalmente, apenas com um pouco mais de cuidado”, afirmou Joel Santiago, representante da Associação, que produz cerca de 450 toneladas de mel por ano.
A Secretaria está buscando apoiar os produtores rurais, por meio da equipe de extensionistas da Coordenadoria de Desenvolvimento Rural Sustentável (CDRS). “Nesse momento, mais do que nunca é preciso manter os canais de comunicação abertos com o produtor. É de grande valor o conhecimento e, principalmente, o relacionamento que os extensionistas das Casas da Agricultura e das Regionais já têm com os produtores, com membros de sindicatos, associações, cooperativas e prefeitos. Trata-se de um relacionamento de muitos anos e que neste momento, em especial, precisa ser fortalecido”, afirmou José Luiz Fontes, coordenador da CDRS. Além dessa comunicação, o Fale Conosco da SAA estará disponível.
“Nesse momento são muitas as questões, das mais diversas naturezas, portanto é importante que as informações sejam sistematizadas para que sejam levadas à Secretaria, sejam demandas que exigem ações rápidas e efetivas”, frisou Fontes.
Indústria
A indústria de alimentos, outro importante elo desta cadeia, também continua trabalhando em prol do abastecimento do Estado, mostrando que o segmento é vital para garantir o abastecimento, como destacou o governador João Doria: “É fundamental que a indústria continue funcionando, com os cuidados devidos aos seus funcionários. Elas não tem atendimento público, não lidam diretamente com o público, mas o seu funcionamento é vital para garantir o abastecimento da população no Estado de São Paulo e do País”, afirmou.
Um grande exemplo é a Laticínios Jussara, localizada no município de Patrocínio Paulista, que conta com 25 postos de captação de leite nos estados de São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Paraná e Goiás, e recebem, diariamente a produção de leite de de quatro mil produtores rurais.
Um dos funcionários conversou com a reportagem: “Eu sou o Edgar Aparecido da Silva, funcionário do ‘Laticínios Jussara’, falo em nome da minha equipe de produção. Estamos nos empenhando com toda a segurança para com nós e para o nosso produto, para não parar a produção e não faltar o tão sagrado leite nas casas de todos os brasileiros. Peço às pessoas que não estão nesse grupo da área da alimentação que fiquem em casa e não saiam nas ruas, para sua e nossa proteção, pois não podemos ficar doentes para não parar a fábrica. Contamos com todos, com Deus e Nossa Senhora na frente vamos vencer essa batalha”.
Pesquisa
A busca por melhores técnicas de cultivo e produção para o agro também se mobiliza neste momento. Nos seis Institutos e 11 Polos de Pesquisa da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (Apta), da Secretaria, foi feita uma análise criteriosa para que parte dos servidores fossem colocados em teletrabalho para dar continuidade aos projetos essenciais.
“Algumas atividades, porém, continuam sendo realizadas presencialmente, por servidores que se encontram fora do grupo de risco da doença, como as atividades laboratoriais e de manutenção de campos experimentais e tratamento de animais. Nossos laboratórios continuam produzindo insumos imprescindíveis para a continuidade da produção de alimentos, como os imunobiológicos, usados para diagnóstico de brucelose e tuberculose em bovinos. Também continuam mantidos os laboratórios que fazem diagnósticos de viroses em bovídeos, por exemplo”, afirma Antonio Batista Filho, coordenador da Apta.
Abastecimento
Além de apoiar a produção agropecuária paulista a Secretaria de Agricultura e Abastecimento tem atuado para garantir o escoamento desses produtos. A Secretaria, por meio da Coordenadoria de Desenvolvimento dos Agronegócios (Codeagro), tem atuado na operação de abastecimento seguro, com monitoramento da produção, escoamento e pontos de comercialização de alimentos. “Temos feito acompanhamento diário com o setor e estamos trabalhando em resoluções que possam apoiar os municípios na segurança de todos, com destaque em recomendações para as feiras livres, explica a coordenadora da Codeagro, Juliana Cardoso.
“O Brasil é uma potência na produção agropecuária, não há nenhum risco de desabastecimento. Estamos em plena safra, os frigoríficos estão produzindo, os centros de distribuição estão cheios, não há necessidade de fazer estoque”, afirmou o secretário de Agricultura e Abastecimento, Gustavo Junqueira, destacando o trabalho junto às administrações municipais para evitar interrupção, ainda que temporária, em qualquer atividade relacionada ao abastecimento de alimentos para a população. “São Paulo é o maior produtor em diversas cadeias, precisamos transportar isso para os outros Estados. Estamos atentos para manter a logística aberta e para que os funcionários de áreas essenciais possam trabalhar”, disse.