Calorias viraram tema central para gigantes do setor alimentício no Brasil.
Recentemente, a rede de milkshakes Milky Moo e a multinacional Danone se viram no centro do debate público ao anunciarem mudanças em seus produtos, em resposta direta à pressão crescente de consumidores e autoridades de saúde por maior transparência e reformulação nutricional.
O caso que mais chamou atenção nas redes sociais foi o do milkshake sabor Estrela, da Milky Moo, que em sua tabela anterior exibia quase 3.000 kcal em um único copo.
A cifra equivale praticamente à ingestão calórica diária recomendada para um adulto médio, segundo a Direção-Geral de Saúde (DGS), que orienta um consumo entre 1.800 e 3.000 kcal por dia.
O episódio levantou questionamentos sobre a regulação de produtos ultracalóricos e trouxe à tona se seria necessária a implementação de advertências mais severas em cardápios.
Em nota oficial, a Milky Moo declarou ter realizado uma revisão minuciosa de toda sua tabela nutricional. A rede afirmou que a maioria de seus milkshakes varia entre 1.000 kcal e 1.500 kcal, reforçando o compromisso com a atualização transparente das informações disponibilizadas aos clientes.
Apesar da correção, a polêmica expôs a dificuldade das marcas em lidar com consumidores cada vez mais atentos ao impacto da alimentação na saúde.
Já no caso da Danone, a discussão se concentra na redução do teor de açúcar, especialmente em linhas voltadas ao público infantil. O exemplo mais emblemático é o Danoninho, produto tradicional no mercado brasileiro há décadas, que vem passando por um processo contínuo de reformulação nutricional.
Segundo a própria empresa, o Danoninho reduziu em mais de 50% o teor de açúcares ao longo dos últimos 25 anos.
De forma mais recente, a Danone acelerou esse processo a partir de 2016, ao estabelecer metas internas alinhadas às diretrizes da Organização Mundial da Saúde (OMS), que recomenda que o açúcar não ultrapasse 10% das calorias ingeridas diariamente.
A nova fórmula do petit suisse chega ao mercado brasileiro em setembro, agora com 10 g de açúcares totais a cada 100 g de produto.
Em nove anos, a redução acumulada foi de 31% no açúcar do Danoninho, segundo a empresa. A reformulação, contudo, foi feita sem o uso de adoçantes artificiais, uma decisão estratégica para reforçar a imagem de naturalidade da marca.
Esse movimento da Danone também acompanha mudanças no posicionamento de seus produtos. Além da reformulação, a empresa anunciou novas embalagens licenciadas com personagens da Disney, como Stitch, Toy Story, Spidey e Frozen, reforçando sua aposta no público infantil ao mesmo tempo em que comunica um avanço nutricional.
O debate sobre calorias e açúcar em produtos lácteos não é exclusivo do Brasil. A própria OMS e autoridades nacionais de saúde vêm pressionando empresas a reduzir o uso de açúcares, gorduras saturadas e sal em alimentos industrializados.
Um estudo da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) apontou que mais da metade dos produtos alimentícios brasileiros destinados a crianças estão entre os que apresentam maiores teores de energia por açúcar e gordura, reforçando o alerta para políticas públicas mais rigorosas e práticas industriais mais responsáveis.
Nesse contexto, tanto Milky Moo quanto Danone exemplificam como grandes marcas vêm se adaptando a uma realidade em que consumidores exigem mais transparência, e autoridades reforçam a necessidade de equilíbrio nutricional.
Para os especialistas, a tendência é que o setor de alimentos, especialmente o de lácteos e derivados, continue investindo em reformulações que conciliem sabor, conveniência e saúde.
O desafio será equilibrar expectativas: de um lado, atender ao apelo por indulgência, como no caso dos milkshakes; de outro, responder à demanda por redução de excessos nutricionais, sobretudo para crianças.
A pressão é clara: calorias e açúcar estão na mira da sociedade, e marcas que não se adaptarem correm o risco de perder espaço num mercado cada vez mais consciente e exigente.
*Adaptado para eDairyNews, com informações de Diário do Litoral