Desde maio do ano passado, a Argentina pode exportar leite em pó o quanto quiser para o Brasil, assim como já vinha acontecendo com o Uruguai.As negociações com as indústrias argentinas começaram em 2009, quando o país vizinho começou a mandar 3,6 mil toneladas por mês. Em 2017, foi ampliada para até 5 mil toneladas, limite derrubado em 2018. “A Argentina e o Uruguai nos preocupam muito porque eles têm preços bem inferiores aos nossos e excedente de produção, por lá não ter um mercado consumidor tão grande. Eles ainda se beneficiam de acordos do Mercosul. Isso traz uma grave consequência para nossa produção, porque temos custos altos, excessiva tributação, mão de obra cara, não temos subsídios do Governo e isso faz com que o nosso custo de produção fique muito mais alto”, disse Cenyldes Moura Vieira, presidente da Calu.
Diante deste cenário, o presidente da Calu, junto a outros representantes de cooperativas de cidades mineiras, como de Patos de Minas, Prata, Unaí, Frutal e Campina Verde, esteve em reunião, na última quinta-feira (14), no Ministério da Agricultura, em Brasília, tendo como principal pauta o problema provocado pela suspensão da taxa de antidumping, anunciada no início deste mês pelo Governo Federal. Eles aproveitaram o encontro com a ministra Tereza Cristina Corrêa da Costa Dias para solicitar outras demandas para o setor leiteiro, como créditos e mudanças nas negociações com o Mercosul. “Já reivindicamos várias vezes que sejam estipuladas cotas de exportação para o Uruguai e Argentina, mas a alegação é de que da mesma forma que exportamos carros e eletrodomésticos para lá, abre-se o direito deles exportarem o leite para a gente”, afirmou Cenyldes.
Sobre as importações da Nova Zelândia e a União Europeia, Cenyldes explicou que os produtos eram vendidos com preços abaixo do praticado pelo mercado leiteiro nacional, devido ao excedente da produção ou pela data de validade próxima. E a taxa antidumping, criada em 2001, veio justamente para coibir essa concorrência desleal, o que praticamente zerou as exportações vindas dessas localidades. “Inicialmente, a União Europeia era sobretaxada em 14,8%, e a Nova Zelândia, em 3,9%. E isso [taxa antidumping] foi suficiente para coibir essas vendas. E nosso medo era de que caíssem essas tarifas e as importações voltassem. Já temos um problema enorme com o Mercosul e seria mais um problema para agravar a atividade leiteira do pais”, disse Cenyldes.
No início deste mês, o Ministro da Economia, Paulo Guedes, havia determinado o fim da tarifa antidumping. Em meio à polêmica, o presidente da República, Jair Bolsonaro, havia ordenado revogação da medida, mas, posteriormente, o Ministério da Agricultura aumentou a taxa de importação, de 28% para 42%, para compensar a mudança. A ministra de Agricultura Teresa Cristina é uma das principais defensoras, no governo, da taxa maior para importação do leite. “Estamos com uma expectativa muito boa, porque a ministra é do setor, é uma produtora rural. Ela tem uma fala mais prática das nossas necessidades. Agora, a política neoliberal do Paulo Guedes, que preza a liberdade de mercado, a liberdade de fronteiras, entra em choque com o que está sendo pregado no Ministério da Agricultura, de preservar o mercado interno em detrimento do mercado externo. Ao mesmo tempo que ela nos tranquiliza, ele nos deixa preocupados”, disse Cenyldes.
Outro grande receio do setor é que, como as novas tarifas de importação precisam ser regulamentas pela Câmara de Comércio Exterior (Camex), ainda não constituída pelo novo governo, Nova Zelândia e a União Europeia aproveitem o momento de suspensão das taxas e comecem a mandar leite em pó para o Brasil. “Se demorarem três meses para se estabelecer as tarifas, os produtos lá de fora podem entrar por estes três meses. Por isso, fomos lá em Brasília conversar e eles disseram que vão fazer tudo o mais rápido. O ex-deputado Marcos Montes é o secretário-executivo do Ministério da Agricultura, é de Uberaba, e é muito conhecedor dos nossos negócios. Ele se manifestou a favor e é preocupado com nossa causa”, afirmou Cenyldes.
POLENGHI
A expectativa do presidente da Calu, Cenyldes Moura, é que a nova fábrica da Polenghi, no Distrito Industrial, vendida pela cooperativa de Uberlândia em julho do ano passado ao grupo francês Savencia, comece a operar em abril do próximo ano. Na época, o contrato de venda incluía também o fornecimento de leite e fabricação de alimentos da Calu.
Há cerca de 15 dias, foi passada a escritura definitiva do imóvel, liberado o alvará de construção e a licença ambiental, entre outros processos burocráticos. A partir de agora, começa o processo de ampliação da planta, com a contratação da empreiteira, passando dos atuais 10 mil m² para 19 mil m². As obras estão previstas para recomeçarem em abril e serem finalizadas em um ano.
Ainda segundo o presidente da Calu, a nova empresa deve gerar de 300 a 500 novos empregos na cidade e produzir 600 mil litros de leite por dia, mas o valor de negociação não foi divulgado devido a um termo de sigilo assinado com a Polenghi. Atualmente, a Calu tem cerca de 1 mil associados, sendo que 300 desses são fornecedores de leite, que recebem R$ 1,55 por litro da bebida.