Captação de leite dos maiores laticínios do Brasil avançou apenas 0,7% em 2024, para 10,8 bilhões de litros, mas os dados do 28º Ranking da Abraleite revelam uma virada estrutural: menos produtores entregando, porém com maior produtividade e escala.
O volume das empresas listadas equivale a cerca de 41% da produção formal brasileira (25,4 bilhões de litros, segundo o IBGE).
Menos fornecedores, mais litros por fazenda
Entre as 17 companhias participantes, 12 reportaram queda média de 2,9% no número de fornecedores. Ainda assim, a produtividade por produtor subiu 6,5%, de 508 para 541 litros/dia. O quadro reforça a concentração e o ganho de eficiência nas propriedades.
Para Geraldo Borges, presidente da Abraleite, o movimento já aparece também dentro das fábricas: a capacidade ociosa caiu de 32% em 2014 para 22% em 2024, o que tende a reduzir custos industriais e, por consequência, impactar o preço ao consumidor. Já o vice-presidente Roberto Jank lembra que o levantamento cobre cerca de 43% da produção formal, servindo como bússola para decisões estratégicas do setor.
Quem lidera a captação
- Lactalis Brasil – 2,7 bilhões de litros (+1,3%). Reduziu o número de produtores (de 9.840 para 9.129) e elevou a média individual de 603 para 638 litros/dia. A companhia já investiu R$ 710 milhões no Paraná e prepara novas ampliações em Londrina e Carambeí. Em Uberlândia (MG), destinará R$ 291 milhões até 2027 para uma planta de queijo prato (10 milhões de litros/mês) e para ampliar a linha de manteiga.
- Grupo Piracanjuba (Laticínios Bela Vista) – 1,9 bilhão de litros (+9,5%). Mesmo com menos fornecedores, a média por produtor saltou 28%, de 415 para 531 litros. Completando 70 anos em 2024, opera sete fábricas com capacidade diária de 6 milhões de litros e recebeu R$ 499 milhões do BNDES para erguer uma nova unidade em São Jorge d’Oeste (PR), focada em whey protein, lactose em pó, queijos e manteiga.
- Unium (Frísia, Castrolanda e Capal) – 1,4 bilhão de litros (-2,6%). Cortou o número de produtores (de 872 para 746), mas elevou a produtividade média de 3.236 para 3.978 litros por fornecedor.
Metodologia e ausências relevantes
Das 17 participantes, oito são cooperativas e nove, empresas privadas. Seis grandes marcas – Italac, Alvoar Lácteos, Vigor (Lala), Damare, Santa Clara e Tirol – foram convidadas, mas não reportaram dados.
O estudo contou com apoio de CNA, Embrapa Gado de Leite, OCB, G100, Viva Lácteos e patrocínio da ABS Brasil.
Por que importa
O retrato de 2024 é claro: captação de leite quase estável, porém com fazendas mais produtivas e indústrias mais cheias.
A combinação de escala na porteira, menor ociosidade industrial e investimentos bilionários em diversificação (de queijos a whey protein) aponta para um setor que busca competitividade via eficiência, em um mercado cada vez mais pressionado por custos e por consumidores mais exigentes.
*Adaptado para eDairyNews, com informações de O Presente Rural