A captação de leite deverá crescer 4,3% este ano no país em relação aos 33,6 bilhões de litros de 2018, segundo estimativa da Viva Lácteos, associação que reúne os principais laticínios do país. Caso a projeção se concretize, o volume poderá chegar a 35 bilhões de litros.
A captação, que começou o ano em baixa por causa da menor oferta da matéria-prima, ganhou fôlego no segundo trimestre após a entrada da safra do Sul do país e foi impulsionada pelos preços ao produtor, que subiram nos seis primeiros meses do ano em razão da oferta restrita. Nos sete primeiros meses do ano, esses preços subiram 11,5%, em termos reais, segundo relatório do Cepea/Esalq.
“Começamos o ano com uma expectativa de reaquecimento da economia. Então, nesse período houve aumento das importações e maior demanda por parte das indústrias – o que gerou um aquecimento no preço do mercado interno e estimulou a produção”, afirma o diretor executivo da Viva Lácteos, Marcelo Costa Martins. Como a economia não reagiu conforme a expectativa, as importações caíram a partir de abril e houve uma estabilização da oferta interna, com alta de 6,5% na captação no primeiro semestre.
O crescimento projetado para a captação também leva em conta uma base menor de comparação, uma vez que no ano passado a greve dos caminhoneiros interrompeu a coleta de leite por 11 dias. “Se excluirmos o efeito greve, o crescimento seria 2,9% neste ano”, diz Martins.
“Neste segundo semestre, os preços da matéria-prima ao produtor começam a recuar no mercado interno, o que deverá deixar o produto brasileiro mais competitivo e reduzir as importações”, avalia Valter Galan, analista do MilkPoint.
De janeiro a julho, as importações brasileiras de produtos lácteos somaram 87,67 mil toneladas, aumento de 10% ante ao mesmo período do ano passado. “Há quem diga que as importações deverão recuar, mas acho que deverão encerrar o ano em linha com 2018”, estima Martins, da Viva Lácteos. Ele projeta compras de 150 mil toneladas, ou US$ 480 milhões. Em 2018, o Brasil importou 152,62 mil toneladas, por US$ 485,75 milhões.
Nos primeiros seis meses do ano, as exportações brasileiras de produtos lácteos somaram 14,15 mil toneladas, alta de 24,5% ante ao mesmo período do ano passado. Para Martins, as exportações deverão encerrar o ano com avanços de 10% em volume, para 25,4 mil toneladas, e 5% em receita, para US$ 61 milhões.
Ainda assim, o país deverá, mais uma vez, ter déficit na balança comercial de lácteos. No primeiro semestre, o déficit foi de US$ 215 milhões. Martins estima que o déficit anual será de US$ 419 milhões, ante US$ 427,5 milhões em 2018.
Para Galan, a abertura do mercado chinês e o acordo com o Mercosul deverão levar algum tempo para se refletirem nas exportações brasileiras. “A abertura do mercado chinês é uma tremenda vitória, mas leva tempo para se fazer um ajuste de custo de produto e de qualidade para que isso se transforme em um impacto relevante”, afirma.
No caso da União Europeia, o acordo, que ainda precisa ser ratificado pelo parlamento europeu, prevê uma cota de 10 mil toneladas para as exportações de leite em pó e de 30 mil toneladas de queijos, exceto a muçarela.
Por outro lado, o acordo também prevê uma redução progressiva na Tarifa Externa Comum (TEC), atualmente em 28%, para importação de produtos lácteos europeus. “Esse processo vai nos exigir uma maior competitividade e temos dez anos a partir da assinatura do acordo para isso”, diz Martins. Segundo ele, a preocupação maior é gerar demanda. “Ou criamos um ambiente de competitividade para aumentar o consumo e ampliar as exportações, ou vai aumentar a pressão de seleção no setor”.