Um casal de produtores de leite de Xanxerê, município do Oeste de Santa Catarina, dá exemplo de gestão da propriedade e consegue algo difícil de imaginar na atividade

Um casal de produtores de leite de Xanxerê, município do Oeste de Santa Catarina, dá exemplo de gestão da propriedade e consegue algo difícil de imaginar na atividade: tirar férias ao longo do ano. O método é australiano e oportuniza inúmeras vantagens para toda a família e eficiência na mão de obra dentro da fazenda.

Celis Gasparetto é natural da CapiGestionar grupostal do Milho e André Rego é de Santa Fé do Sul, São Paulo, mas foi na Austrália, durante um intercâmbio que o casal se conheceu. Lá, o método de trabalho é o que a família adotou na propriedade herdada após o falecimento do avô e do pai da médica veterinária.

“Por ter conhecido o sistema de produção de leite na Austrália, já estava em nossos planos de que quando estivéssemos com o rebanho formado, iniciássemos a estação de monta. Começamos do zero, não contávamos com nenhuma estrutura. Anteriormente uma parte da terra era arrendada para lavoura, então iniciamos com plantio de pastagens perenes, construção de cercas e aos poucos fomos adquirindo animais. A ordenha era em local improvisado. Tínhamos de pegar um trator emprestado, conseguir recursos de investimentos no banco, construir a sala de ordenha, tudo aos poucos”, destaca a produtora.

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Foto: Arquivo pessoal

O projeto inicial do casal era trabalhar com 50 vacas de lactação, utilizando toda a área de 12 hectares da propriedade. Com o passar tempo todo o processo foi ajustado. Atualmente, são 40 vacas e 14 novilhas, com uma produção de 200 mil litros de leite ao ano.

“Projetamos para ser eficiente, para ordenhar nove vacas ao mesmo tempo e através de um sistema automático as vacas já receberem ração enquanto ordenham. O resfriador possui capacidade para armazenar dois mil litros e utilizamos a área total da propriedade mais alguns hectares arrendados”, salienta Celis.

Estação de monta

A estação de monta, que permite que as vacas fiquem prenhas na mesma época, facilita o trabalho e evita que eles precisem de empregados para dar conta de todas as atividades. A produção é sincronizada, ou seja, o processo reprodutivo do rebanho ocorre no período pré-determinado do ano.

“Limitamos a inseminação das fêmeas entre 20 de junho a 30 de agosto, para a parição acontecer em abril e maio, assim o período seco de dois meses pré-parto, que toda vaca tem, se dá em fevereiro e março”, conta Celis.

A propriedade busca constante evolução, sempre com foco em tecnologia e maior produtividade. Os produtores não se cansam de elencar as principais vantagens do método adotado.

“A grande vantagem é a concentração e uniformidade dos lotes em cada categoria.
Na maior parte do ano temos um único lote, das vacas lactantes. Dois lotes só temos quando inicia a secagem até o dia de secar 100% das fêmeas, em torno de 30 dias, e depois, quando começam a parir tem o lote das lactantes e das vacas secas, que fica por 60 dias. Isso facilita o fornecimento de alimentos e otimização da mão de obra. Também o lote das novilhas por terem idade bem próxima facilita o fornecimento de alimentos e todos os manejos até chegar a reprodução todas juntas. Então várias vantagens ocorrem ao longo do ano e cada serviço fica concentrado. Uma grande vantagem vivenciamos ano passado com o índice de mortalidade de bezerras igual a zero, pois o vazio sanitário no bezerreiro nos permitiu o maior controle de patógenos. Também tivemos uma evolução no valor pago pelo leite, já que vendemos um maior volume no inverno quando o leite teve a maior cotação do ano e no verão quando produzimos um volume bem menor o preço teve uma queda significativa, mas com toda certeza, a qualidade de vida é a vantagem pessoal que resulta de todo este conjunto de fatores”, destaca a produtora.

Período de férias e rotina

Com o método adotado, a família consegue tirar férias da propriedade, neste período, André aproveita para fazer uma visita aos seus familiares em São Paulo.

“No período pré-parto, em março, todas as fêmeas estão prenhas no período seco. É o período em torno de 30 dias que podemos ter as nossas férias. O manejo nesse tempo se resume em trocá-las de piquete, verificar água, sal mineral, tratar as novilhas. Portanto, podemos contratar mão de obra para tal serviço e sair viajar”.

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Foto: Arquivo pessoal

A rotina na propriedade é sempre adaptada. André, é o responsável pelo manejo. Já Celis, cuida dos filhos, Valentin e Martin, e da parte mais burocrática da fazenda.

“A rotina muda a cada mês. Por exemplo, maio é o mês mais agitado já que tem vacas e novilhas recém-paridas. Tem em torno de 15 bezerras para alimentar, vacas ainda parindo, realizamos o manejo reprodutivo com ultrassonografia, o trato diário com volumoso. O André ordenha alimenta as bezerras. Eu cuido da casa e dos meninos. À tarde, eu trato as bezerras. Fazemos manejos e trato dos animais. Parte de gestão de planilhas, software, controles e financeiro eu faço. A ordenha o ano todo geralmente André faz sozinho. Leva em torno de 40 minutos. Eu faço a ordenha quando precisa. A rotina no inverno muda, pois as bezerras são desmamadas. O tempo gasto com elas é menor. Nesse período também ocorre a estação de monta, onde tem o manejo reprodutivo. Após a última ultrassom, em outubro, não há mais manejos. A rotina fica bem mais leve, onde fazemos mais atividades com a família. Então até tiramos uns dez dias para viajar. Então de outubro a março é bem tranquilo”, frisa a produtora.

A propriedade é uma unidade de referência técnica em Santa Catarina e recebe visitantes de diversos municípios e estados. No local, já esteve também um fazendeiro Neo Zelandês que possui a fazenda Kiwi Farm no Brasil.

“Recebemos para visita técnica produtores de Santa Catarina e outros estados também. O modelo se torna uma opção para quem está iniciando na atividade ou quer modificar o manejo para ter mais qualidade de vida e eficiência na mão de obra”, conclui Celis.

Bryce Cunningham, um produtor de leite escocês, proprietário de uma fazenda orgânica em Ayrshire (Escócia), lançou um produto lácteo para agregar valor ao leite de sua fazenda, que é um produto de ótima qualidade, sem aditivos, e é um exemplo de economia circular.

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