Mas, ao longo do tempo, com aumentos nos custos de produção e diversificação de culturas no campo, vários produtores goianos abandonaram a pecuária de leite, de forma que a bacia leiteira de Goiás perdeu espaço para outras regiões do país.
Estado-sede de grandes companhias do setor de laticínios como Piracanjuba e Italac, Goiás já foi o segundo maior produtor de leite do Brasil entre o fim dos anos 1990 e o começo dos anos 2000.
Agora, o estado é o sexto maior produtor nacional, atrás de Minas Gerais, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e São Paulo.
Contudo, a julgar pelos esforços da Centroleite, a Cooperativa Central de Laticínios de Goiás, que reúne 22 cooperativas de todas as regiões goianas, o estado tem tudo para avançar mais uma vez posições no xadrez do cenário nacional do leite.
Somente no ano passado, a Centroleite alcançou um faturamento líquido de R$ 763 milhões, alta de 31% em relação a 2023, quando havia obtido uma receita de R$ 585,2 milhões – os números representam a soma do total faturado pelas cooperativas e negociado pela central.
“A cada mês e a cada ano que passa, o aumento de produção está sendo bem visível na central”, diz Pedro Barbosa Oliveira, diretor-presidente da Centroleite.
A Centroleite registrou o maior aumento percentual no volume de produção entre todos os laticínios no levantamento anual feito pela Associação Brasileira dos Produtores de Leite (Abraleite), tradicional ranking do setor, que constatou que a cooperativa captou 270 milhões de litros no ano passado.
Com esse volume de produção, a cooperativa central goiana aparece à frente de outros grandes nomes do setor, como a paranaense Frimesa e a multinacional Danone, e próxima da Tirolez, de Minas Gerais – ainda que figure distante das líderes Lactalis (2,7 bilhões) e Piracanjuba (1,9 bilhão), ambas com atuação nacional.
A meta da Centroleite agora, segundo Barbosa, é alcançar 1 milhão de litros de leite produzidos por dia neste ano. “Hoje essa média é de cerca de 800 mil por dia, totalizando 25 milhões de litros por mês. Queremos ampliar isso”, afirma.
Como forma de ampliar o volume de captação, a cooperativa está prestes a filiar mais quatro cooperativas singulares.
No mundo das cooperativismo agropecuário, as singulares são aquelas que operam de forma totalmente independente, caso de Coamo, Comigo e Cotrijal, para citar três exemplos relevantes.
Já as cooperativas centrais são as que reúnem três ou mais cooperativas singulares em uma só, fazendo negócios entre si e trabalhando em prol dos associados – Aurora Coop, de Santa Catarina, e Frimesa, do Paraná, são as referências mais conhecidas.
A principal função da Centroleite é auxiliar os cooperados na hora de vender seu produto, que é comercializado com grandes empresas do setor, cujos nomes Barbosa prefere não revelar. “São parceiros de primeira linha”, se limita a descrever.
Unidas na central, as cooperativas conseguem ter mais poder, na avaliação de Barbosa. “Se as vinte cooperativas forem negociar separadamente, não vão ter tanta força igual a uma central tomando frente dessa negociação”, diz.
Outra frente da Centroleite para fazer a produção crescer é dar assistência técnica às cooperativas singulares filiadas, diz Barbosa. “A gente tem um técnico que acompanha para ver as dificuldades, os problemas que eles têm, o que pode ser melhorado.
Trabalhamos no sentido de orientar para que eles abraçam essa ideia de crescer, de aumentar, melhorar o rebanho e a genética”, afirma.
As cooperativas que formam a Centroleite têm um faturamento, em geral, abaixo de R$ 100 milhões, segundo Pedro Barbosa – que também é presidente da maior delas, a Cooper Agro, localizada em Rubiataba, cidade do centro-norte do Goiás, localizada a 220 quilômetros da capital, Goiânia.
Veterana em seu segmento, fundada desde 1971 e com 1,2 mil associados, a Cooper Agro faturou, no ano passado, R$ 138 milhões, receita vinda da produção de leite e de lojas agropecuárias.
Barbosa, há 19 anos à frente da presidência da Cooper Agro e há sete no comando da Centroleite, diz que os preços do leite estão melhores agora, após certa volatilidade nos últimos anos.
“Em 2023, o leite teve picos de alta e baixa. Não foi bom para nós, produtores. Já o ano passado foi bem equilibrado, com o preço mais ou menos estável. Não houve reclamação dos produtores quanto ao preço do leite”, afirma Barbosa.
Em relação aos preços deste ano, o presidente da Centroleite pontua que os valores estão positivos, com comportamento semelhante ao do ano passado. “Hoje está na faixa de R$ 2,80 a R$ 3 o litro, o que é muito bom”, afirma.
Mesmo com preços melhores e um aumento na quantidade de associados e de volume de leite produzido, a Centroleite não pretende, pelo menos por enquanto, começar a processar o produto das cooperativas em uma fábrica própria.
Há oito anos, a central chegou a estudar um empreendimento do tipo, mas desistiu após fazer um estudo de mercado, segundo Barbosa.
“Para montar uma fábrica dessa, o investimento é muito alto. Você tem que disputar mercado com gigantes à frente. Achamos melhor esperar e encorpar mais a ideia, que não está totalmente descartada”, diz o presidente da Centroleite.