ESPMEXENGBRAIND
18 out 2025
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Rejeitado pela Select Sires em 1974, Charlie Will construiu o império genético da raça Holstein e redefiniu a criação leiteira global.
Charlie Will (à esquerda) com Brian e Wendy Fust, criadores de Fustead Emory BLITZ, na Select Sires. Atrás deles, o próprio Fustead Emory BLITZ se destaca como prova do olhar de Charlie para "diamantes brutos" — um touro que venderia mais de 1.52 milhão de unidades para a Select Sires, um recorde da empresa.
Charlie Will (à esquerda) com Brian e Wendy Fust, criadores de Fustead Emory BLITZ, na Select Sires. Atrás deles, o próprio Fustead Emory BLITZ se destaca como prova do olhar de Charlie para "diamantes brutos" — um touro que venderia mais de 1.52 milhão de unidades para a Select Sires, um recorde da empresa.

Em 1974, quando a Select Sires lhe disse “obrigado, mas não”, Charlie Will não imaginava que aquele “não” seria o primeiro passo para revolucionar a genética Holstein.

Rejeitado pelo maior império de inseminação artificial do setor, o recém-formado em Ciências do Leite pela Universidade de Illinois poderia ter desistido. Mas decidiu fazer diferente.

Décadas depois, a Associação Nacional de Criadores de Animais anunciou Charlie como o vencedor do Prêmio Pioneiro da NAAB 2025 — um reconhecimento a quase 40 anos de contribuição que moldaram o DNA da indústria leiteira moderna.

Da fazenda ao império genético

Filho do sul de Illinois, Charlie aprendeu cedo o valor do trabalho na fazenda familiar de Holstein. Aqueles dias de ordenha, o cheiro da silagem e o barulho das vacas foram seu primeiro laboratório. Depois de uma série de negativas das empresas de IA, uma pequena cooperativa — a MABC, afiliada à Select Sires — ofereceu-lhe uma vaga modesta em vendas no oeste de Indiana.

Foi ali, percorrendo fazendas e conversando com produtores, que Charlie construiu o que mais tarde se tornaria sua assinatura: ouvir o campo antes de decidir a genética.

Em 1978, a Select Sires finalmente abriu uma vaga. O diretor Dick Chitester arriscou — e contratou aquele rapaz que antes havia sido rejeitado. O resultado? Um dos maiores legados genéticos da história da raça Holandesa.

A virada com BLACKSTAR

O primeiro grande acerto veio em 1988, com To-Mar BLACKSTAR. Quando as provas genéticas começaram a sair das impressoras, o touro simplesmente explodiu nos rankings mundiais. Forte, equilibrado, produtivo — BLACKSTAR virou referência e consolidou Charlie na equipe.

Foi o fim do período de “liberdade condicional” e o início da era dos touros de um milhão de doses.

O dom de encontrar diamantes brutos

Charlie nunca se guiou por pedigrees perfeitos ou catálogos bonitos. Seu talento estava em ver potencial onde outros não viam.

Um exemplo clássico foi Emprise Bell ELTON (7H2236). A mãe, apenas “Good Plus”, não chamava atenção. Mas Charlie viajou até Minnesota, observou as filhas do touro e percebeu algo extraordinário: úberes profundos, estrutura sólida e pés prontos para durar.

ELTON se tornaria pai de DURHAM (5.039 filhas excelentes) e avô materno de OMAN, que superou 1 milhão de unidades vendidas e transformou a genética mundial.

Outros nomes — MATHIE, INTEGRITY, BLITZ — também ultrapassaram o milhão de doses. BLITZ, aliás, segue como recordista da Select Sires com mais de 1,52 milhão.

O professor que ensinou o mundo

Nos anos 90, Charlie se tornou muito mais que um selecionador de touros. Ele virou educador global, ministrando palestras em 49 estados e 18 países.

Sua filosofia era simples: “Genética não é sobre catálogos. É sobre resolver problemas reais na fazenda.”

Com uma didática única, transformava dados complexos em decisões práticas para produtores — mostrando, por exemplo, como um simples +2.0 em profundidade de úbere significava duas lactações a mais por vaca.

Quando a genômica mudou tudo

Em 2008, a chegada da genômica virou o setor de cabeça para baixo. Muitos veteranos resistiram. Charlie, perto dos 60 anos, foi um dos primeiros a abraçar a mudança.

Ele alertava: “Se todos escolherem os mesmos touros de alto índice, perderemos a diversidade genética.”
Sob sua liderança, a Select Sires passou a equilibrar índices com diversidade de pedigrees — uma decisão ética e estratégica que garantiu sustentabilidade à raça Holstein.

Os resultados falam por si: a genômica agregou US$ 50 por vaca por ano, somando US$ 4 bilhões em valor genético entre 2008 e 2019.

O legado vivo de Charlie Will

Outubro de 2025. O preço do leite gira em torno de US$ 17,19/cwt, e a indústria enfrenta margens apertadas e desafios globais. Mas nas pistas de exposição, as vacas Holstein modernas — mais equilibradas, eficientes e produtivas — carregam traços claros da visão de Charlie.

Na World Dairy Expo, a vaca Golden-Oaks Temptres-Red-ET, campeã suprema e primeira Red & White em 20 anos, é prova viva disso.

O segredo? Pessoas e propósito

Charlie sempre resumiu seu sucesso em três princípios:

  1. Encontre as pessoas certas – genética é feita por gente que entende de fazendas.
  2. Trabalhe em equipe – decisões genéticas afetam o sustento de famílias.
  3. Adote novas ferramentas – genômica, sêmen sexado, FIV, o que vier.

Acima de tudo, mantenha o foco no cliente. “Eu não escolho touros para catálogos, mas para estábulos”, dizia.

Uma rejeição que virou revolução

Do garoto do sul de Illinois ao homem que redefiniu a genética Holstein global, Charlie Will provou que o sucesso nasce da persistência. A carta de rejeição da Select Sires poderia ter sido o fim — em vez disso, virou o início de uma era.

Hoje, em cada vaca Holandesa que produz mais, vive mais e custa menos ao produtor, há um traço do seu legado.
Um touro de cada vez.

 

*Adaptado para eDairyNews, com informações de The Bullvine

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