ESPMEXENGBRAIND
24 jun 2025
ESPMEXENGBRAIND
24 jun 2025
Esse cenário em transformação apresenta tanto oportunidades quanto riscos para os processadores australianos de lácteos. China
Esse cenário em transformação apresenta tanto oportunidades quanto riscos para os processadores australianos de lácteos.

O setor lácteo da Austrália passa por um reequilíbrio discreto, mas significativo. Embora a China continue sendo o maior destino individual das exportações de lácteos australianos, sua dominância já não é a mesma de antes.

Pela primeira vez em mais de uma década, os embarques para a China representam menos de um quarto do total exportado — um recuo expressivo em relação aos anos de pico, marcados pelo forte acúmulo de estoques no período pós-pandemia.

De julho de 2024 a março de 2025, a Austrália exportou mais de 710 milhões de dólares australianos em produtos lácteos para a China (excluindo Hong Kong), segundo os dados mais recentes da Dairy Australia.

Embora o número siga robusto, ele revela uma mudança estrutural no padrão comercial do país: o Sudeste Asiático e o Japão estão ganhando protagonismo no mapa das exportações de lácteos.

O Japão despontou como o segundo maior destino, com a aquisição de 417 milhões de dólares australianos em lácteos no mesmo período de nove meses, seguido pela Indonésia, com 255 milhões.

Malásia, Vietnã, Cingapura, Filipinas, Nova Zelândia, Coreia do Sul e Taiwan completam o ranking dos dez principais destinos — uma lista agora dominada por economias asiáticas em rápido crescimento, cujas classes médias em expansão estão impulsionando a demanda por alimentos ricos em proteínas.

Diversificação da Demanda

“A tendência de diversificação fica mais clara a cada ano”, afirma Madelyn Irvine, analista da Dairy Australia. “No acumulado da temporada, o volume total de exportações cresceu 5,4%, com alta de 14% para o Sudeste Asiático e 21% para o Japão.”

A desaceleração chinesa não se deve apenas a uma queda da demanda. A produção interna de lácteos na China tem crescido de forma constante nos últimos anos, enquanto os estoques acumulados durante a pandemia — quando houve uma corrida agressiva por leite em pó — ainda estão sendo consumidos.

Além disso, a maior concorrência dos Estados Unidos, que também voltou sua atenção para o Sudeste Asiático e para a Austrália como mercados de escoamento, tem pressionado os preços para baixo.

Complexidade Competitiva

Esse cenário em transformação apresenta tanto oportunidades quanto riscos para os processadores australianos de lácteos. Stewart Carson, CEO da Burra Foods, empresa australiana focada em exportação, falou recentemente no Fórum Anual de Situação e Perspectivas da Dairy Australia.

“É arriscado tentar prever o futuro”, disse ele. “Como uma empresa de ingredientes e exportadora, atuamos em uma plataforma global. As dinâmicas estão mudando o tempo todo.”

Carson destacou que a produção local de leite está em queda — tendência influenciada, em parte, pela variabilidade climática e pelo aumento dos custos de insumos agrícolas. No entanto, para os negócios voltados à exportação, o maior desafio segue sendo a volatilidade de preços e a capacidade de se adaptar às mudanças nos sinais de demanda.

O Cenário Pós-China

Nos anos da pandemia, entre 2020 e 2021, o apetite da China por leite em pó e ingredientes lácteos sustentou os aumentos globais de preços no índice Global Dairy Trade (GDT).

Contudo, os preços se enfraqueceram em 2022 e caíram drasticamente ao longo de 2023, comprometendo a competitividade da Austrália — especialmente em relação à Nova Zelândia, que se beneficia de acordos comerciais antigos e vantagens logísticas nos mercados asiáticos.

Essa nova era exige agilidade estratégica. Os produtores australianos de lácteos precisam lidar com um mercado ao mesmo tempo mais amplo e mais fragmentado do que nos anos de centralidade chinesa.

O crescimento em mercados emergentes é bem-vindo, mas traz novas exigências: sensibilidade ao preço, demanda por produtos personalizados e cadeias de suprimentos resilientes.

Uma Visão Ampliada

O futuro do setor lácteo australiano não será, necessariamente, menor — mas certamente será mais complexo.

O afastamento da dependência da China reflete tanto as dinâmicas globais dos lácteos quanto o esforço da Austrália em preparar sua estratégia comercial para o futuro. Como resume Irvine: “O objetivo agora não é apenas volume, mas valor, sustentabilidade e parcerias de longo prazo.”

Nesse contexto, a diversificação não é apenas uma boa gestão de riscos — pode ser a chave para garantir relevância em um mercado global de lácteos cada vez mais competitivo.

Te puede interesar

Notas Relacionadas