O chocolate com leite completa em 2025 150 anos de história, consolidado não apenas como um dos doces mais consumidos do planeta, mas também como um dos símbolos mais reconhecidos da identidade suíça.
Ao lado do relógio de pulso e do canivete multifuncional, o produto se transformou em um verdadeiro embaixador cultural e econômico do país alpino.
A criação do chocolate com leite é atribuída ao industrial suíço Daniel Peter, que iniciou seus experimentos em outubro de 1875, em sua fábrica na cidade de Vevey. O processo, no entanto, esteve longe de ser imediato. Foram necessários mais de dez anos de testes, ajustes e tentativas até que a fórmula atingisse a estabilidade e a textura adequadas para a produção em escala comercial.
Segundo registros históricos preservados pela indústria suíça, o grande desafio técnico enfrentado por Peter era combinar dois elementos naturalmente incompatíveis: o cacau, uma substância rica em gordura, e a leite, um líquido com alto teor de água. A solução exigiu inovação e paciência. Parte essencial do trabalho foi reduzir ao máximo a umidade da leite, garantindo que a mistura mantivesse consistência e sabor sem comprometer a durabilidade do produto.
Inicialmente, Peter utilizou leite condensada, outro avanço tecnológico da época — ainda que de origem norte-americana — para viabilizar suas experiências. Esse detalhe revela como o chocolate com leite nasceu em um contexto de intensa transformação industrial e científica, no qual diferentes setores da alimentação começavam a dialogar entre si.
O ambiente ao redor também foi decisivo. Ao lado da fábrica de Peter operava a empresa de Henri Nestlé, fundador do grupo que viria a se tornar o maior conglomerado de alimentos do mundo. O primeiro sucesso de Nestlé havia sido a farinha lacteada, uma combinação de leite e cereais, voltada à nutrição infantil. Para historiadores da companhia, essa proximidade pode ter inspirado Peter a explorar novas aplicações do ingrediente lácteo.
Quando finalmente lançado no mercado, o produto foi comercializado com o nome “Gala Peter” — “gala” significa leite em grego. O impacto foi imediato. O chocolate com leite rapidamente conquistou consumidores e jurados em exposições universais no final do século XIX e início do XX, período marcado pela chamada revolução industrial da alimentação.
O sucesso não foi apenas sensorial, mas também econômico. Ao incorporar leite e açúcar, o chocolate com leite reduziu a proporção de cacau nas tabletes, tornando o produto mais acessível e ampliando seu público consumidor. Esse fator foi decisivo para a democratização do consumo de cacau, até então restrito a camadas mais altas da sociedade.
A expansão foi tão rápida que outros fabricantes suíços passaram a reproduzir a fórmula em pouco tempo. Entre eles estava a tradicional Cailler, fundada em 1819 e considerada a marca de chocolate mais antiga do mundo ainda em atividade. A relação entre as famílias empresariais se estreitou, inclusive no plano pessoal, consolidando alianças que ajudaram a estruturar a indústria chocolateira suíça.
Hoje, o chocolate com leite figura como a segunda maior exportação alimentar da Suíça, atrás apenas do queijo, reforçando o papel estratégico do setor lácteo na economia do país. Para marcar o aniversário de 150 anos, o grupo Nestlé, que ao longo do século XX incorporou os negócios de Peter e outros fabricantes, abriu seus arquivos históricos, revelando cadernos, rascunhos e anotações originais do inventor.
Em Broc, nos Alpes suíços, a fábrica-museu da Cailler recebe anualmente cerca de 1,2 milhão de visitantes e preparou uma exposição especial em homenagem a Daniel Peter. Para a direção da instituição, o chocolate com leite vai muito além de um produto: ele faz parte do imaginário coletivo associado às montanhas, às vacas, aos Alpes e à própria ideia de Suíça.
Após um século e meio, o chocolate com leite segue combinando tradição, inovação e indulgência — um exemplo de como leite e cacau moldaram não apenas um sabor, mas uma identidade reconhecida no mundo inteiro.
*Escrito para o eDairyNews, com informações de EFE






