Conhecido nacionalmente pela produção artesanal de queijos, o município de Morada Nova, no Ceará, também é destaque quando o assunto é produção de leite. De acordo com dados da Pesquisa da Pecuária Municipal divulgada na última semana pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a cidade foi responsável pela produção de 107,6 milhões de litros de leite em 2023.
O volume coloca Morada Nova como a segunda maior cidade produtora do Nordeste, atrás apenas de Poço Redondo, em Sergipe (109,8 milhões de litros), e a décima primeira no País.
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Veja o ranking das cidades com a maior produção de leite do Ceará
- Morada Nova: 107,6 milhões
- Quixeramobim: 73,2 milhões
- Iguatu: 51,1 milhões
- Acopiara: 40,1 milhões
- Jaguaretama: 38,6 milhões
- Jaguaribe: 38,4 milhões
- Milhã: 33,7 milhões
- Limoeiro do Norte: 29,3 milhões
- Quixelô: 27,6 milhões
- Solonópole: 26,2 milhões
A perspectiva se baseia no fato de que o Ceará, apesar de ter um município entre os maiores produtores de leite do País, ter um mercado consumidor ainda dependente de laticínios de outros estados. “Temos condições de fazer isso, mas é preciso investir e qualificar para que haja concorrência no setor industrial”, pontua.
Para ele, há outras cidades com potencial para ampliação da produção leiteira, contribuindo para que o Ceará alcance o patamar de 2 bilhões de litros diariamente. “Quixeramobim, Milhã, com certeza”, exemplifica o primeiro vice-presidente do Sindilaticínios-CE.
Dos estados, o Ceará é o 10º maior produtor de leite, segundo o IBGE, mas importa leite e laticínios de outros estados. Metade do leite consumido em Fortaleza, por exemplo, não é produzido no Ceará, segundo o Sindilaticínios.
Regularização de laticínios
Ele lembra que, atualmente, há mais de dois mil laticínios cearenses, mas a maior parte não possui as devidas licenças. “A regularização vai fazer com que o mercado se abra, saindo um pouco da clandestinidade. Existe um universo muito positivo de novos mercados, de supermercados e também restaurantes, como pizzarias que demandam muito o queijo muçarela”, avalia Prado.
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A análise é a mesma feita por Amílcar Silveira, presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado do Ceará (Faec). Segundo ele, a ausência de uma política de regularização de laticínios cearenses faz com que os consumidores busquem outros mercados, em geral, de maior valor agregado: “Nossa demanda é tentar regularizar novos laticínios no Ceará”, pondera.
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“Temos muitos laticínios aqui que não têm inspeção sanitária, que não conseguem ingressar em mercados consumidores. Esse mercado consumidor, por vez, compra em outro mercado, como o de queijos finos”, completa Amílcar.
Concorrência com o mercado nacional
Mesmo com uma “mercadoria mais barata” em relação ao Sudeste e com altas sucessivas na produção de leite, como explica o presidente da Faec, somente metade do que é consumido do alimento no Ceará é produzido no Estado.
Para Amílcar Silveira, a grande questão está como esse leite é utilizado no território cearense. Boa parte do alimento é processado e transformado em leite em pó, e o Ceará tem apenas uma empresa local capaz de fazer essa produção, ainda bem abaixo da demanda do mercado consumidor.
Temos um negócio que nos é caro e não temos: capacidade produtiva para beneficiar leite. A gente importa muito leite de outros estados, em sua grande maioria, em pó. Só tem a Betânia no Ceará que beneficia algo em torno de 160 mil litros de leite por dia, e a nossa demanda é muito maior do que essa. Para ter uma ideia, a Itambé coloca 10 milhões de litros de leite por mês no Ceará. Existe uma demanda muito grande de leite em pó, e não temos capacidade produtiva.
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Uma das saídas encontradas foi o melhoramento genético das vacas-leiteiras, que tem o processo de avançar de gerações acelerado buscando fornecer mais leite. Amílcar conta que, em parceria com o Sebrae, a Faec disponibiliza anualmente 2 mil animais para produtores agropecuários do Estado.
“Uma bezerra dessas que nascem in vitro tem um avanço de sete gerações. Nossa ideia é que daqui a uns quatro, cinco anos, a gente acrescente até 400 mil litros de leite só com essas vacas”, projeta.