Governo retirou tarifas adicionais cobradas sobre o produto importado da Nova Zelândia e da União Europeia

A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) pretende pedir ao governo medidas compensatórias da retirada das tarifas antidumping sobre o leite importado da Nova Zelândia e da União Europeia, publicada na quarta-feira (6/2). O presidente da Comissão Nacional de Pecuária de Leite da CNA, Rodrigo Alvim, disse que a intenção é discutir uma revisão da Tarifa Externa Comum (TEC) que incide sobre produtos lácteos de países de fora do Mercosul.

Alvim explica que a lista de exceções da TEC inclui 11 produtos lácteos, sobre os quais incide uma taxa de importação de 28%. No caso da União Europeia, eram somados os 14,8% referentes à medida antidumping. Para o leite trazido da Nova Zelândia, eram mais 3,9%. A ideia é reivindicar uma TEC maior para compensar o que deixará de ser cobrado pelo produto importado.

“A ideia é tentar aumentar a TEC. Estamos nos organizando e fazendo as notas técnicas necessárias. Vamos ver se o ministro vai concordar”, diz ele, referindo-se ao ministro da Economia, Paulo Guedes. “Não acreditávamos que fosse verdade a ameaça de não se prorrogar”, protesta, ressaltando que a revisão das medidas começou em março de 2018.

A tarifa antidumping contra Nova Zelândia (3,9%) e União Europeia (14,8%) vigorava desde 2001 a pedido da própria CNA. Na resolução publicada na quarta-feira (6/2), o governo federal, comparando volumes e valores do leite importado com o mercado interno, concluiu que não estava mais ocorrendo a prática considerada ilegal, o que justifica a retirada da sanção.

“Não houve comprovação da probabilidade de retomada de dumping nas exportações da União Europeia e da Nova Zelândia para o Brasil de leite em pó, integral ou desnatado, não fracionado e do dano à indústria doméstica decorrente de tal prática, no caso de extinção da medida antidumping em questão”, diz o comunicado, publicado no Diário Oficial da União.

Reforçando a surpresa com a decisão, o presidente da Comissão Nacional de Pecuária de Leite da CNA reconhece que os dados, da forma como foram apresentados, não mostram a prática de dumping. Rodrigo Alvim reclama, no entanto, que o governo mudou a metodologia de avaliação de seus efeitos sobre o mercado brasileiro.

“Nós fizemos toda a argumentação nos mesmos princípios das revisões anteriores. No meio do curso da revisão, mudaram a sistemática. Mas com o ministro do Brasil, Paulo Guedes, não tem discussão. Eles não sabem mensurar o que isso pode trazer de dano ao país”, protesta Alvim.

Para dar uma ideia, ele argumenta que, desde 2001, quando as sanções foram aplicadas, o Brasil passou de “grande importador” para autossuficiente e gerador de excedente exportável de lácteos em um período de dez anos. O fim da sanção, diz ele, traz um “desestímulo brutal” à produção nacional.

“A questão é ainda mais grave. Se a Europa vai colocar leite subsidiado aqui dentro pelo preço que ela quiser, acabam as exportações da Argentina e do Uruguai para o Brasil, porque não vão dar conta de concorrer com o Tesouro da União Europeia”, diz Alvim.

Outras demandas

Representante dos laticínios do Rio Grande do Sul, o Sindicato das Indústrias de Laticínios do Estado (Sindilat-RS) também considera encerrada a questão das medidas antidumping contra Nova Zelândia e União Europeia. O secretário executivo da entidade, Darlan Palharini, pontua que análise feita pelo governo restringiu-se aos números, que são difíceis de contestar.

Ele também acredita que uma revisão da Tarifa Externa Comum do Mercosul ajudaria a compensar o fim da tarifa antidumping. “O antidumping é praticado por poucos países e nessa questão, o Brasil fica caminhando contra um livre comércio. Sou muito mais aumentar a TEC. O antidumping, pela justificativa do governo, não há mais argumentos”, avalia.

Palharini espera, no entanto, que o governo acolha outras demandas da indústria de lácteos, como apoio à comercialização. Uma opção seria a adoção de Prêmio de Escoamento de Produto (PEP), que não seria visto como subsídio e poderia compensar, por exemplo, o custo do frete marítimo para exportar.

“Acabamos ficando fora de alguns mercados, não pela qualidade, mas pelo custo de produção. O prêmio de escoamento poderia ajudaria empresas maiores a mandar produtos para países onde temos condições de entrar no mercado”, argumenta, reconhecendo que a questão é complexa.

Em janeiro, governo e setor privado se reuniram, em Brasília (DF), para tratar da criação de uma política nacional de incentivo à cadeia produtiva leiteira. “Esperamos avançar em demandas que o Sindicato já pleiteia há algum tempo”, diz ele.

O secretário executivo do Sindilat-RS acredita que a situação gerada pelo fim das medidas antidumping contra europeus e neozelandeses deve levar a cadeia produtiva sentar-se à mesa e discutir seus problemas. Um deles é o menor nível de produtividade por propriedade rural no Brasil em relação a concorrentes internacionais.

Segundo Palharini, a produção média nacional está em torno de 40 mil litros por propriedade rural ao ano. Na Argentina, chega a um milhão de litros. No Uruguai, 500 mil litros ao ano. Na União Europeia, a média chega a 112 mil litros por propriedade e na Nova Zelândia 1,8 milhão.

Ele acrescenta que, entre os anos de 2012 e 2017, a produção brasileira acumulou um crescimento de 3,72%. No mesmo período, a União Europeia registrou 10,17% de aumento e a Nova Zelândia cresceu 12,77%.

“Temos um problema muito maior que precisa ser discutido. A retirada do antidumping é preocupante, mas talvez seja uma maneira de fazer uma discussão mais ampla para que se tenha condições de concorrer com o mundo ou pelo menos manter o mercado interno”, diz Palharini.

Bryce Cunningham, um produtor de leite escocês, proprietário de uma fazenda orgânica em Ayrshire (Escócia), lançou um produto lácteo para agregar valor ao leite de sua fazenda, que é um produto de ótima qualidade, sem aditivos, e é um exemplo de economia circular.

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