Enquanto já atua em campanha para tentar reeleger-se no ano que vem, o presidente Donald Trump mantém erguida na política externa sua bandeira de “América, primeiro”. Mas o perigo é que neste campo ações duras, imprevisíveis, típicas do trumpismo, têm efeitos globais.
Na semana passada, o principal inquilino da Casa Branca anunciou uma taxação adicional de 10% sobre US$ 300 bilhões de importações da China, a vigorar a partir de setembro, enquanto os dois países negociavam a superação dos desentendimentos comerciais, instalados pelo próprio Trump.
Os chineses têm respondido da mesma forma, com taxações, mas na segunda-feira acionou o câmbio, arma de grande letalidade numa economia globalizada. Pequim permitiu uma desvalorização da sua moeda, o yuan, até chegar à taxa de sete por dólar, a primeira vez em mais de dez anos.
Com isso, a China indicou ser capaz de compensar barreiras tarifárias de Washington tornando suas exportações mais baratas.
O governo americano logo tachou o país de “manipulador cambial”, e os mercados oscilaram com força, diante das incertezas ampliadas por este contra-ataque.
Se ao uso de tarifas na guerra comercial entre as duas maiores economias do mundo — já motivo de ampla insegurança — for acrescentada a arma do câmbio, cujos efeitos se propagam em velocidade eletrônica, estabelecem-se as condições para uma efetiva recessão global. Que refletirá a grande insegurança diante do que virá. E a guerra comercial já produz uma tendência de desaceleração no planeta.
Houve mesmo motivos, portanto, para os mercados mergulharem na segunda-feira: Nova York, menos 2,98%; Londres, queda de 2,4%; São Paulo, retrocesso de 2,5% etc. No Brasil o dólar voltou a ficar próximo dos 4 reais.
A economia americana também tem sido afetada por tarifas chinesas e redução de compras de alimentos (soja, laticínios etc.) pelo país. Para compensar a queda nas exportações de soja, o governo americano já distribuiu US$ 28 bilhões de subsídios entre produtores.
Este é um problema que deve preocupar o presidente Trump, porque tem muitos eleitores nas regiões produtoras.
E as perspectivas não são boas, diante do uso que Trump faz deste tipo de conflito para manter e aumentar o eleitorado. Um erro de medida nesta estratégia de ataques e recuos pode produzir um desastre global.