O investimento foi liderado pela SP Ventures, fundo especializado em soluções de AgFoodtech na América Latina. A Farmabase, empresa brasileira de fabricação de medicamentos para aves e suínos, participou do round por meio de seu fundo de corporate venture capital.
Com sede em Ribeirão Preto (SP), a startup foi fundada em 2014 pelos biólogos Lucas von Zuben e Túlio Nunes, e o economista Filipe Dal’Bó de Andrade. Até agora, os esforços da companhia estavam direcionados para a pesquisa e desenvolvimento dos produtos. A startup trabalha com o conceito de controle biológico, no qual o controle pragas agrícolas e insetos transmissores de doenças é feito a partir do uso de seus inimigos naturais, dispensando agrotóxicos.
“São fungos que já estão na natureza e são inimigos naturais dos carrapatos – que, se não controlados, podem trazer doenças graves para os bovinos. Produzimos em larga escala e levamos para o produtor”, afirma Lucas, diretor-executivo da companhia. Segundo o especialista, essa é uma técnica bastante usada na agricultura, para o tratamento de lavouras, mas ainda pouco comum no ramo de saúde animal. “Essa é a nova fronteira tecnológica quando se trata de controle de pragas, e é o que vai substituir os produtos químicos”, considera.
A solução, afirma Lucas, é totalmente segura para os humanos. “Os produtos químicos deixam resíduos no animal, que vão parar na carne e no leite. Os produtores deveriam esperar um tempo antes de comercializar. Mas muitos não o fazem, e o veneno fica no queijo e na carne que a gente consome. No caso da Decoy, com o controle biológico, o fungo não deixa resíduos no organismo do boi ou da vaca. Isso é bom para os animais, para quem os consome e para o ambiente”, pontua.
Próximos passos
O investimento de R$ 9 milhões faz parte da 1ª rodada institucional da startup. Antes do round, a companhia captou cerca de R$ 2 milhões de investidores-anjo ao longo de sua jornada. “A partir de 2018, começamos a fazer parcerias com os produtores para fazer a pesquisa de forma remunerada, fornecendo a tecnologia e eles nos ajudando a bancar”, explica Lucas.
Em 1 ano, o faturamento da startup saltou de aproximadamente R$ 30 mil para R$ 290 mil em 2019. No ano seguinte, a cifra estava próxima de R$ 1,7 milhão e, em 2021, em torno de R$ 2 milhões. Nesse período, a Decoy estruturou sua equipe, hoje em torno de 20 pessoas.
Com o caixa reforçado, a prioridade é conseguir o registro de comercialização da solução para os bovinos. “Precisamos do registro do Ministério da Agricultura, que demora um tempo por ser burocrático. Mas já estamos no processo, com previsão de conclusão para o 1º semestre de 2023”, comenta Lucas. Com a aprovação, a startup investirá na infraestrutura da fábrica e nas áreas de marketing e comercial.
Outra parte dos recursos será usada para dobrar o número de colaboradores em 2 anos e fomentar a pesquisa e desenvolvimento. A companhia vai aprimorar a tecnologia da solução dos bovinos e lançar 2 novos produtos em 2023, um para o controle de pulgas e carrapatos em cães e gatos e outro para avicultura. As soluções também serão feitas com base no controle biológico.
Com os avanços, a startup espera faturar cerca de R$ 10 milhões em 2 anos, e conta com o apoio dos investidores para atingir esse objetivo. “A SP Ventures é o maior fundo de investimento em AgFoodtech na América Latina. A companhia tem muito conhecimento sobre os mercados de controle biológico, agtech e venture capital como um todo”, afirma Lucas. Já a Farmabase, completa o empreendedor, tem expertises importantes sobre o mercado de saúde animal e, por ser uma indústria tradicional, atende potenciais clientes para a startup.
A partir disso, a Decoy pretende expandir comercialmente sua operação para todo o território nacional, com um foco especial para o Rio Grande do Sul. “A região tem muitos bois e uma raça predominantemente europeia, que sofre mais com os carrapatos”, explica o diretor-executivo. Ele completa que o Estado tem altos números de casos de resistência das pragas aos pesticidas tradicionais, e busca alternativas para solucionar o problema.
Segundo Lucas, os principais concorrentes da startup são empresas de agrotóxicos. “Elas resolvem o mesmo problema, mas a solução é diferente. Já as companhias que adotam o controle biológico o fazem no setor da agricultura, e não na saúde animal. Esses são nossos diferenciais”, conclui o executivo.