A Comissão Técnica (CT) de Bovinocultura de Leite do Sistema FAEP se reuniu de forma híbrida (parte presencial, parte online), nesta terça-feira (26), para tratar dos temas centrais da cadeia paranaense de lácteos. A reunião aconteceu na sequência de uma visita do embaixador a Nova Zelândia à sede do Sistema FAEP, em Curitiba. O país da Oceania é o maior produtor de leite do planeta.
A reunião foi conduzida pelo presidente da CT de Bovinocultura de Leite da FAEP, Eduardo Lucacin e pelo coordenador técnico do colegiado e presidente da Comissão Nacional de Pecuária de Leite da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Ronei Volpi.
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As atividades tiveram início com uma rodada conjuntural na qual cada participante trouxe um relato da realidade produtiva de cada região e os dirigentes da comissão informaram sobre o andamento de questões de impacto mais abrangente na atividade. Participaram da reunião cerca de 20 produtores.
Segundo Lucacin, uma das grandes preocupações dos produtores brasileiros continua sendo a entrada maciça de produtos lácteos de países do Mercosul no mercado brasileiro. Para enfrentar essa questão, a CNA encampou um processo de antidumping contra a competição desleal do produto importado.
“Foi comprovado o dumping, mas ainda carecemos de uma série de processos legais. A FAEP e a CNA estão trabalhando e investindo muito dinheiro nesta ação, que poderá trazer resultados no futuro”, afirmou.
Outro ponto abordado pelo dirigente da CT foi o trabalho para que o leite possa ser negociado no mercado futuro. “A CNA está fazendo um trabalho junto à indústria e à Embrapa para a criação de um contrato futuro para leite. Isso traz previsibilidade. Já foi feito contato com a B3 [Bolsa de Valores do Brasil] e o encaminhamento é muto bom. Talvez num futuro próximo teremos mais uma ferramenta para a negociação do leite”, adiantou Lucacin.
Alternativas e oportunidades
Com objetivo de apresentar aos participantes uma nova perspectiva do setor lácteo, o CEO da Cia do Leite, empresa da área de assistência técnica em bovinocultura de leite de Minas Gerais, Ronaldo Carvalho, apresentou a palestra “Alternativas e oportunidades para melhorar a relação comercial entre produtores e indústrias”.
O CEO promoveu diversas reflexões entre os integrantes da comissão. Em uma delas, ele comparou o faturamento entre diferentes atividades rurais, como produção de soja, milho, bovino de corte, café e leite, provando que esta última pode ser a mais rentável entre todas. “O gargalo não está na produção de leite em si, mas na forma como a atividade é conduzida”, apontou.
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Entre os problemas mais comuns identificados nas propriedades leiteiras, o especialista destacou falhas técnicas e/ou gerenciais graves, a exemplo do consumo do caixa para o crescimento do negócio, como aquisição de animais e equipamentos, e uma escala de produção na propriedade incompatível com os resultados esperados.
“O segundo ponto é o mais grave. Querer crescer utilizando a margem que sobra é muito difícil. Para melhorar o caixa, primeiro é preciso adequação técnica, depois um plano de negócio para saturar a capacidade de crescimento do produtor. Por fim, o uso do capital de terceiros para capital de giro para produção de volumoso”, elencou.
Segundo Carvalho, o pequeno produtor precisa de uma escala mínima, senão, em um futuro próximo, estará fora do negócio. “[O leite] é o único produto que aquele que tem mais para vender, recebe mais”, observa. “Na base de produtores de Cia do Leite, a variação entre o valor pago aos pequenos e grandes produtores é de um real”, completou.
Sobre as relações com os laticínios, o dirigente apontou que, hoje, a média ociosidade das plantas industriais é de 50% no país, ou seja, falta matéria-prima para ser processada. Na avaliação de Carvalho, é preciso repensar as relações entre produtores e indústrias. “Precisamos adensar as vacas nas áreas de influência dos polos produtores”, pontuou.
Dessa forma, a indústria não teria que percorrer grandes distâncias para buscar o produto e poderia contribuir para que os pequenos produtores adquirissem novos animais, ampliando, assim, a produção. “É muito melhor para a indústria investir no pequeno produtor da sua bacia do que buscar leite no mercado spot”, sentenciou.