A gigante láctea uruguaia CONAPROLE enfrenta uma crise sindical após anunciar o fechamento de sua planta em Rivera, departamento que faz fronteira com o Brasil.
A decisão, justificada pela cooperativa como parte de uma estratégia para “aumentar a competitividade frente à entrada de leite brasileiro”, gerou forte repúdio dos trabalhadores, que denunciaram a falta de diálogo e a proposta “lamentável e irresponsável” de transferência para instalações a 400 quilômetros de distância.
A Cooperativa Nacional de Produtores de Leite (CONAPROLE), fundada em 1936, controla mais de 70% do setor lácteo uruguaio e exporta para 60 países.
Apesar de sua sólida posição no mercado — incluindo vendas recordes de mais de US$ 1 bilhão em 2023 —, a decisão de encerrar as atividades na planta de Rivera foi recebida com indignação por sindicatos e autoridades locais.
Segundo a Associação de Operários e Empregados de CONAPROLE (AOEC) e a Federação dos Trabalhadores da Indústria Láctea (FTIL), a empresa se recusou a negociar em uma mesa tripartite com representantes do governo e trabalhadores.
“Disseram que conosco não sentariam. Isso fala mais sobre eles do que sobre nós”, afirmou Enrique Méndez, presidente da FTIL.
O fechamento afeta diretamente uma das regiões mais vulneráveis do país. Rivera registra uma taxa alarmante de 49,21% de sua população em situação de informalidade, subemprego ou desemprego.
Para os trabalhadores, a retirada da planta agrava ainda mais esse cenário. “Falamos em melhorar a gestão da unidade, não em fechá-la”, reforçou Méndez.
Apesar da disposição dos ministérios da Pecuária, Trabalho e Indústria em buscar alternativas para manter a unidade aberta, a cooperativa mantém sua posição, argumentando que a medida visa garantir a sustentabilidade frente à crescente concorrência com os produtos lácteos brasileiros.
Estrutura e liderança de mercado
CONAPROLE opera atualmente oito plantas de processamento, com capacidade total para até 8 milhões de litros de leite por dia, e atinge picos de produção com 80% a 85% da capacidade.
Seu portfólio diversificado abrange mais de 300 produtos, incluindo leites, iogurtes, sobremesas e sorvetes.
A cooperativa, que participa com cerca de 3% do comércio internacional de lácteos, tem no Brasil, China e Argélia seus principais destinos de exportação, seguidos por Rússia, Cuba e México.
Cerca de metade de sua receita vem do mercado internacional.
O modelo de negócios da cooperativa se baseia em seus cerca de 1.900 produtores associados, que fornecem a matéria-prima.
Parte do valor pago pelo leite é retido como aporte de capital e empréstimo à cooperativa, compondo um fundo de produtividade.
Conflito em escalada
Com o impasse, os sindicatos organizam medidas de força. Estão previstas assembleias nos dias 21 e 24 de julho e uma mobilização nacional no dia 30.
O setor sindical insiste no diálogo como única via possível para manter os empregos e garantir justiça social para Rivera.
Enquanto isso, a imagem de CONAPROLE, tradicional símbolo da indústria láctea uruguaia, começa a se desgastar por priorizar ajustes de eficiência à custa da estabilidade de comunidades inteiras.
*Adaptado para eDairyNews, com informações de Agencia Noticias Argentinas