Outro diferencial segundo criadores do zebuíno sindi, é presença de caseína A2 no leite, que diminui o risco de alergia
Milk gallon, in a brazilian rural region, with someone behind it.

Criador de gado sindi há oito anos, Ângelo Mario Tibery herdou do pai o olhar e a perseverança para selecionar e consolidar a raça zebuína de alta qualidade.

Ângelo é filho de Orestes Prata Tibery Júnior, cuja marca OT da raça nelore é reconhecida em todo o país. Orestinho, como era conhecido, morreu em 2012, após dedicar-se a aprimorar o zebu por 50 anos.

A fazenda de Ângelo fica em Três Lagoas (MS). O criatório acompanha a evolução acelerada da raça sindi nos últimos tempos. Cresce tanto o número de registro de animais e criadores como o de leilões. “Está difícil dar resposta à forte demanda”, diz o pecuarista.

Para se ter ideia, são 50 as doadoras de elite da Fazenda São João. Pelo menos 200 animais nascem a cada ano, a partir da tecnologia de transferência de embriões, sendo que 60% das crias são machos e 40% fêmeas.

Ângelo já realizou dois leilões. Em ambos, a liquidez foi boa, e as médias igualmente corresponderam. Em agosto do ano passado, por exemplo, a receita foi de R$ 1,7 milhão. As vendas de fêmeas obtiveram média próxima de R$ 30 mil. No arremate de machos, chegou a quase R$ 12 mil.

 

“Foi movimentado esse pregão. Ficou evidente o interesse que o sindi desperta, pois havia interessados de vários Estados”, afirma Ângelo. Segundo ele, a quantidade de leilões da raça tem aumentado.

No balanço relativo a 2018, o sindi fechou o ano com a oferta de aproximadamente 1.200 animais em 18 eventos comerciais. Detalhe: em cada um desses remates, pelo menos cinco novos criadores iniciaram a lida com a  raça. As estatísticas de 2019 ainda não estão fechadas, mas os criadores adiantam que os números de 2018 devem ser superados.

O empenho na seleção do gado tem garantido à Fazenda São João o reconhecimento na disputadíssima pista de julgamento da ExpoZebu, realizada em Uberaba (MG). Nas exposições de 2017 e 2018, Ângelo conquistou o cobiçado título de melhor expositor da raça.

 

Milenar

A raça sindi começou a ser criada e selecionada no Brasil perto da virada do século XX, mas deve-se contar no currículo do gado de cor vermelha nada mais, nada menos, que outros 7 mil anos de evolução natural a partir de sua origem numa das regiões mais inóspitas e desafiadoras do planeta: o deserto de Sind, território indiano posteriormente anexado ao Paquistão.

Lá, foram forjados animais extremamente resistentes, versáteis, adaptados e prolíficos, com capacidade de se manter eficientes na produção e na reprodução sob o clima quente dos trópicos – caso do Brasil.

Ronaldo Bichuette (Foto: Divulgação)

“Visitei muitas fazendas no Nordeste e fiquei impressionado com a capacidade de adaptação e sobrevivência da raça”

Ronaldo Bichuette, presidente da Associação Brasileira dos Criadores de Sindi

Por aqui, núcleos importantes da raça foram fixados nas regiões Nordeste e Sudeste a partir das primeiras importações. Os animais são, em geral, de pequeno porte. Assim, a raça é menos exigente e adequada para regiões de poucos recursos alimentares, onde seria difícil a manutenção de animais de grande tamanho.

O sindi é de dupla aptidão, corte e leite – outra vantagem. A criação é muito utilizada no nordeste brasileiro. É que, além de extremamente rústica, é fértil produtora de leite. Assim, fornece leite e carne para o sertanejo e sua família.

Crescimento

Por alguns anos, a raça ficou meio esquecida, porém, despertou muita atenção a partir de 2005, quando voltou à pista de julgamento da ExpoZebu, pelas mãos do criador Adaldio Castilho, de Novo Horizonte (SP).

Em 2019, foi um show. No palco principal das raças zebuínas, a ExpoZebu, os criadores de sindi apresentaram 300 animais em leilões, pistas de julgamento e concursos leiteiros, e a cor vermelha deu o tom.

A animação com os resultados da raça tem refletido no banco de dados da Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ), onde o sindi é registrado. A lista de criadores que registram esse gado tem cerca de 400 nomes – era bem menor há alguns anos. Mais: entre 2010 e 2017, o registro de nascimentos cresceu, em média, 13% ao ano e chegou a um acumulado de 120%.

“São números expressivos. E o melhor é que representam uma tendência, à medida que os leilões, por exemplo, aumentaram bastante nos últimos anos e há muita liquidez”

Ronaldo Bichuette, presidente da Associação Brasileira dos Criadores

Ronaldo Bichuette, presidente da associação brasileira da raça, sediada em Uberaba e que tem um quadro de 60 criadores, diz que a demanda por sindi é derivada da sua performance nos cruzamentos, seja com o zebuíno, como nelore, ou mesmo com os taurinos, como o angus.

A propriedade de Ronaldo fica em Veríssimo, cidade localizada no Triângulo Mineiro e bastante próxima a Uberaba. O rebanho atual é formado de 200 cabeças, entre mamando e caducando. Outra informação importante: o sindi produz uma quantidade acima da média de leite tipo A2, que reduz o risco de alergia e ajuda na prevenção de diabetes.

O produtor diz que experiência conduzida pela associação presidida por ele constatou uma produção de 85% a 90% de proteína A2 no leite do sindi, outro mercado de fôlego aberto para a raça e em franca expansão.

 

Bryce Cunningham, um produtor de leite escocês, proprietário de uma fazenda orgânica em Ayrshire (Escócia), lançou um produto lácteo para agregar valor ao leite de sua fazenda, que é um produto de ótima qualidade, sem aditivos, e é um exemplo de economia circular.

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