A palavra-chave leite surge logo no primeiro instante, porque é esse o produto em tensão central.
A Conseleite/RS — Conselho Paritário Produtores/Indústrias de Leite do Estado do Rio Grande do Sul — articula uma frente nacional que visa defender o leite brasileiro contra a concorrência externa que já deixa o setor em linha de falência.
Mobilização articulada e reivindicações explícitas
Em documento encaminhado ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ao vice-presidente Geraldo Alckmin, aos ministros da Agricultura, Desenvolvimento Agrário e Relações Institucionais, além da Conab, a Conseleite/RS formula três pedidos emergenciais:
1) benefício fiscal para indústrias que comprem leite em pó nacional; 2) compra governamental de 100 mil toneladas de leite em pó brasileiro para programas sociais e escolares; 3) sobretaxa de 50% sobre leite em pó e queijo muçarela importados da Argentina e Uruguai, válida por 36 meses.
Pressão sobre produtores e fornalha da produção
O coordenador da entidade, Darlan Palharini, alerta que “não há como competir com a avalanche de leite e queijos do Prata que está entrando no Brasil”.
A safra de leite se inicia, tradicionalmente favorecendo o aumento da oferta, mas neste momento o excesso nacional de leite — combinado com importações baratas — inviabiliza o escoamento e pressiona os preços. Informações citam que, por exemplo, o preço médio pago ao produtor em outubro no Brasil atingiu R$ 2,22 por litro, abaixo do custo de produção em muitos estados.
Indústria láctea em alerta vermelho
Além do produtor, a indústria de laticínios também sente o golpe: margens comprimidas, excesso de oferta importada, e risco concreto de fechamento de plantas.
A entidade destaca ainda que os importadores de leite em pó não são necessariamente indústrias de laticínios tradicionais, mas sim fabricantes de chocolates e pães, que optam pela matéria-prima importada mais barata para reduzir custos.
Panorama de desequilíbrio – tradições em confronto com os fluxos globais
Essa crise expõe um choque de pressão entre tradição (produção leiteira nacional, pequenas e médias propriedades, laticínios regionais) e modernidade (fluxos de comércio internacional, importações baratas, escala via países vizinhos).
O resultado: a cadeia nacional se vê fragilizada, sob risco de abandono da produção, fragilização da base rural e esvaziamento de know-how.
Impacto setorial e desdobramentos imediatos
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Para os produtores: queda de preços, excesso de oferta, custo de produção maior que o valor recebido.
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Para as indústrias: concorrência predatória, necessidade de redução de custos, risco de fechamento ou desinvestimento.
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Para o país: ameaça à soberania alimentar, ao emprego no setor lácteo, ao desenvolvimento regional e à própria identidade do setor leiteiro.
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No âmbito externo: estímulo às importações via Mercosul (Argentina/Uruguai) que entraram com volumes que desequilibram o mercado brasileiro.
Recomendaciones operativas para os profissionais do setor
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Estabelecer parcerias regionais entre produtores e cooperativas para fortalecer o poder de negociação.
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Monitorar de perto o custo de produção por litro de leite e buscar redução de custos via tecnologia, nutrição, eficiência.
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Avaliar diversificação de mercado: além de commodities, agregar valor via produtos diferenciados (queijos artesanais, nichos premium).
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Mobilizar junto às indústrias e entidades de classe para acompanhar o andamento do pacote emergencial e cobrar sua implementação.
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Mapear os concorrentes de importação: quais empresas, quais volumes estão ingressando, de onde, para ajustar estratégias de mercado.
Riscos à vista
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Se não houver resposta governamental rápida e eficaz, há risco real de fechamento de propriedade leiteiras e abandono da atividade em regiões menos competitivas.
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A falta de regulação e compensação pode levar à concentração industrial, com consequente empobrecimento das cadeias regionais.
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A dependência crescente de importados pode enfraquecer a produção nacional e tornar o Brasil vulnerável a oscilações externas.
A ofensiva da Conseleite/RS sinaliza que o leite brasileiro não está apenas em dificuldade técnica ou econômica — está em risco político e estratégico.
Proteger essa cadeia é mais do que sustentar preços: trata-se de valorizar famílias rurais, preservar a identidade de um setor que transcende balanços, e garantir que o “leite nacional” não se torne segundo-classe face às ondas de importação.
O setor brasileiro de leite exige ação — e exige que essa ação seja rápida, estruturante e de longo alcance. Se o governo ignorar esse alerta, o que parece uma batalha local no Rio Grande do Sul pode virar catástrofe nacional para o setor lácteo.
*Escrito para o eDairyNews, com informações de TV Pampa






