ESPMEXENGBRAIND
28 out 2025
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Conseleite/SC define novo valor de referência para o leite entregue em outubro, refletindo a pressão da oferta interna e das importações elevadas.
Valor de referência de novembro mostra pressão no setor lácteo. Conseleite
Valor de referência de novembro mostra pressão no setor lácteo.

O Conseleite Santa Catarina divulgou, em 24 de outubro de 2025, os novos valores de referência do leite para o mês de novembro. A decisão, tomada em reunião realizada em Chapecó, reflete o cenário de forte pressão sobre os preços pagos aos produtores, num momento em que a produção estadual cresce, mas o mercado interno ainda não reage.

Santa Catarina, reconhecida como o quarto maior produtor de leite do Brasil, vive um contraste marcante entre sua tradição cooperativista e os desafios de competitividade impostos pela conjuntura atual. Segundo o Conseleite/SC, o cálculo do preço de referência segue o que determina o artigo 15 do Estatuto do Conselho, considerando os períodos de 1º a 28 de setembro e de 29 de setembro a 19 de outubro.

O leite padrão utilizado como base de cálculo é aquele que apresenta entre 3,50% e 3,59% de gordura, 3,11% a 3,15% de proteína, com 450 a 499 mil células somáticas por mililitro e 251 a 300 mil unidades formadoras de colônias (ufc/ml) na contagem bacteriana. O volume considerado é de até 50 litros por dia, e o Conselho não precifica produtos com qualidade inferior à do leite abaixo do padrão.

Esses parâmetros técnicos são fundamentais para garantir transparência e equidade nas negociações entre produtores e indústrias, um dos princípios centrais do Conseleite desde sua criação.

Um mercado sob pressão

O setor lácteo catarinense enfrenta um cenário de desequilíbrio. De acordo com informações do Conseleite/SC, o aumento na captação de leite e a estabilidade da demanda doméstica mantêm os preços em patamares baixos. A situação é agravada pelas importações elevadas, que seguem impactando a formação de preços no campo.

Esse quadro de sobreoferta nacional tem dificultado a recuperação da renda do produtor, que já vinha pressionado pelo aumento dos custos de produção nos últimos anos. Mesmo com o recuo de alguns insumos, como o milho e a soja, a margem do produtor segue apertada, especialmente nas pequenas e médias propriedades que sustentam a base da cadeia.

Tradição e modernidade em contraste

Com mais de 100 mil famílias envolvidas na atividade leiteira, Santa Catarina consolidou ao longo das décadas uma vocação produtiva enraizada na agricultura familiar. Regiões como o Oeste catarinense são reconhecidas pela integração entre produtores e cooperativas, que historicamente garantiram o crescimento e a qualidade do leite local.

Hoje, porém, essa tradição convive com novos desafios. A necessidade de modernização tecnológica, o avanço de grandes indústrias e a concorrência global estão transformando o perfil da produção. O equilíbrio entre tradição e modernidade é um dos maiores dilemas da pecuária leiteira catarinense neste início de década.

“Temos volume, qualidade e história, mas precisamos garantir rentabilidade para continuar produzindo”, é o tipo de relato recorrente entre os produtores da região, que veem no preço de referência uma ferramenta importante para negociações mais justas.

Transparência como caminho

A divulgação dos valores de referência, explica o Conseleite/SC, serve como base técnica para as negociações entre produtores e laticínios. Não se trata de um preço fixado, mas de uma referência orientadora, construída a partir da média de mercado e ajustada aos parâmetros de qualidade definidos pelo Conselho.

Essa metodologia tem sido fundamental para reduzir conflitos comerciais e dar maior previsibilidade ao setor. Em um mercado volátil, marcado por oscilações no consumo e nas importações, a transparência é um valor cada vez mais estratégico.

O desafio do equilíbrio

O principal desafio, no entanto, continua sendo recompor o equilíbrio entre produção, consumo e importações. Segundo o Conseleite, o aumento contínuo da produção interna, sem o correspondente crescimento da demanda, mantém o mercado pressionado.

A expectativa é de que os próximos meses tragam ajustes sazonais com a chegada do verão, período em que o consumo tende a crescer. Ainda assim, as lideranças do setor alertam para a importância de políticas que estimulem o consumo de lácteos nacionais e controlem as importações, garantindo sustentabilidade à cadeia produtiva.

Enquanto isso, o produtor catarinense segue enfrentando o cotidiano do campo com resiliência e esperança. Entre tanques, ordenhas e contas apertadas, ele carrega a certeza de que o leite continua sendo um símbolo de identidade e sustento para milhares de famílias — e que sua valorização depende de um esforço coletivo de toda a cadeia.

*Escrito para o eDairyNews, com informações de Diário do Iguaçu

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