Cores naturais estão deixando de ser tendência para se tornarem exigência no mercado global de alimentos e bebidas, pressionando fabricantes a inovar, garantir cadeias de suprimento resilientes e atender aos rigorosos padrões de estabilidade e segurança.
Durante a feira IFT FIRST (Food Improved by Research, Science and Technology), realizada em Chicago, a gerente de marketing da California Natural Color, Dana Osborn, destacou que o setor vive um momento decisivo.
A demanda cresce rapidamente, mas acompanhar esse ritmo exige mais do que oferecer uma paleta vibrante: é preciso entregar consistência, qualidade e viabilidade econômica em larga escala.
Integração vertical e inovação em cristais
Divisão da E&J Gallo Wines, a California Natural Color conta com um diferencial estratégico: uma cadeia de suprimentos verticalmente integrada de uvas, que garante matéria-prima para produzir pigmentos a partir da casca da fruta.
Para outras cores, a empresa recorre a fornecedores nacionais e internacionais, mantendo um monitoramento constante e comunicação próxima para evitar rupturas.
Em 2010, a companhia lançou uma inovação que vem ganhando espaço: os cristais de cor, formato proprietário que complementa as opções líquidas e em pó já existentes.
Esses cristais oferecem concentração de pigmento de cinco a dez vezes superior à versão líquida, permitindo aplicações versáteis – desde bebidas esportivas e energéticas, refrigerantes e doces duros até produtos lácteos.
Segundo Osborn, o formato cristalino apresenta ainda vantagens logísticas e econômicas: não requer refrigeração, possui vida útil de até cinco anos (contra um a dois anos do formato líquido) e, dependendo da aplicação, reduz a taxa de uso, o que pode representar economia para o fabricante.
Nem sempre tão vibrante – e isso pode ser positivo
Alternativas naturais ao corante sintético Red 40, como as extraídas de rabanete vermelho ou cenoura vermelha, e pigmentos de spirulina para tons azulados e esverdeados, fazem parte do portfólio da empresa.
Apesar de, em alguns casos, não atingirem a mesma intensidade dos sintéticos, Osborn ressalta que a percepção de “produto mais saudável” muitas vezes compensa a diferença na vivacidade.
Esse apelo é especialmente relevante em categorias associadas a bem-estar, como iogurtes, bebidas funcionais e snacks premium, onde o consumidor tende a valorizar mais a origem natural do que a intensidade visual.
Avanços regulatórios da FDA aceleram adoção
O impulso ao uso de cores naturais nos Estados Unidos ganhou novo fôlego com a decisão da Food and Drug Administration (FDA) de ampliar a lista de aditivos corantes de origem natural. Nos últimos três meses, foram aprovados quatro novos pigmentos:
- Extrato de flor de ervilha-borboleta (azul)
- Extrato azul de Galdieria (alga vermelha Galdieria sulphuraria)
- Fosfato de cálcio (branco)
- Azul de gardênia
Segundo a agência, essa é a expansão mais rápida da paleta natural em anos.
A FDA classifica esses pigmentos como “aditivos de cor isentos de certificação”, em contraste com os sintéticos, que são “aditivos de cor certificados”.
Para os naturais, cabe ao fabricante assegurar a conformidade com os padrões de identidade, composição e pureza, sem a necessidade de submeter cada lote à certificação da agência – embora todos estejam sujeitos à fiscalização.
Prazos e pressão no setor
Enquanto algumas empresas de alimentos e bebidas já vinham retirando corantes sintéticos de seus portfólios, outras terão até 15 de janeiro de 2028 para se adequar às metas da FDA de eliminação gradual de certos pigmentos artificiais.
Esse prazo pressiona o setor a encontrar soluções que unam desempenho, custo-efetividade e escalabilidade.
Para Osborn, a chave será combinar diversificação de fornecedores, tecnologia de processamento e formulação inteligente.
“Estamos contratando especialistas em gestão de cadeia de suprimentos e reforçando o monitoramento para assegurar resiliência e rastreabilidade.
O futuro das cores naturais dependerá da capacidade da indústria de equilibrar inovação e segurança no abastecimento”, afirmou.
Impacto para o setor lácteo
No caso dos produtos lácteos, a busca por cores naturais se cruza com tendências de consumo saudável e clean label.
Iogurtes coloridos com frutas, bebidas lácteas enriquecidas e sobremesas geladas artesanais são exemplos de categorias que podem se beneficiar das novas opções da FDA e das tecnologias de cristal desenvolvidas por empresas como a California Natural Color.
Além de atender às demandas do consumidor, a adoção de pigmentos naturais está alinhada a estratégias de diferenciação de marca e posicionamento premium, sobretudo em mercados que valorizam transparência e sustentabilidade.
*Adaptado para eDairyNews, com informações de Dairy Reporter