Pesquisas em andamento do Cepea indicam que, na “Média Brasil”, o preço do leite ao produtor em abril (referente à captação de março) deve manter a tendência de alta. Já o valor do leite captado em abril, que, por sua vez, será pago em maio aos produtores, pode se enfraquecer, pressionado por incertezas relacionadas à crise decorrente da pandemia do novo coronavírus (Covid-19). Este é o cenário vivido pelo setor leiteiro, segundo a analista Natália Grigol, da equipe de leite do Cepea, da Esalq/USP.
Em análise divulgada no Boletim do Leite de abril, do Cepea (clique aqui para acessá-lo), Natália diz que os impactos da pandemia no consumo de lácteos ocorreram a partir de 17 de março, quando a pesquisa diária do centro de estudos, realizada com o apoio financeiro da OCB, registrou choque de demanda para o leite UHT.
“Redes atacadistas e varejistas intensificaram a procura pelo derivado, diante da forte demanda de clientes, que queriam fazer estoques por conta das recomendações de isolamento em decorrência da pandemia. Com a menor disponibilidade do produto, o preço médio do UHT registrou forte alta 22,7% na segunda quinzena de março e de 24,8% no acumulado do mês”, observa a analista.
Paralelamente, com fechamento de redes de serviço e alimentação, o consumo de lácteos refrigerados como queijos foi muito prejudicado, constata Natália. A pesquisa diária do Cepea, acrescenta, mostrou que o preço médio da muçarela recebido pelas indústrias em negociações no estado de São Paulo teve queda acumulada de 0,97% em março.
“Ressalta-se que dificuldades no escoamento de queijos colocam em risco o faturamento de pequenas e médias indústrias. Algumas, inclusive, já paralisaram suas atividades e suspenderam a compra de leite no campo em regiões onde o sistema agroindustrial leiteiro é menos desenvolvido”, pontua a analista do Cepea.
Spot
Apesar do desempenho ruim da muçarela, assinala Natália, o leite spot (negociado entre indústrias) havia registrado alta nas duas quinzenas de março, ficando, na média, quase 5% maior do que em fevereiro em Minas Gerais. “Assim, o pagamento ao produtor em abril deve se manter na tendência altista.”
No entanto, enfatiza a analista do Cepea, a fragilidade do mercado de queijos e a instabilidade do consumo geraram um efeito em cadeia, provocando queda no preço do leite spot. Em Minas Gerais, o preço médio do leite spot caiu 7,3% e 11,7% nas primeira e segunda quinzenas de abril, respectivamente.
“A elevada incerteza da atual conjuntura tem impactado a decisão dos agentes em recompor estoques, dado o contexto em que não há boas perspectivas para o consumo de longo prazo, devido à diminuição da renda da população. A pesquisa diária do Cepea mostrou que, de 1º a 15 de abril, os preços médios do UHT e da muçarela registraram quedas acumuladas de 4% e de 4,2%, respectivamente.”
Maio
As negociações em queda dos derivados e do spot durante abril indicam um cenário ruim para o preço ao produtor de maio, alerta Natália. Segundo ela, as indústrias lácteas poderão se deparar, em poucas semanas, com um cenário de baixo faturamento, o que certamente será transmitido aos produtores.
“Ao mesmo tempo, a queda na receita dos produtores, num momento de alta nos custos de produção e próximo ao período típico de entressafra no Sudeste e Centro-Oeste, pode refletir em aumento do abate de fêmeas e na saída de pecuaristas de leite da atividade”, saliente.
De acordo com a analista do Cepea, o momento é delicado, pois privilegia decisões focadas no curto prazo, o que pode trazer consequências negativas no longo prazo – ainda mais para uma atividade tão complexa quanto a produção de leite.