A Cosulati volta a movimentar o setor lácteo do Rio Grande do Sul após três anos de silêncio industrial.
A Justiça do Trabalho autorizou a reativação da usina de beneficiamento de leite no Capão do Leão, encerrando uma longa disputa judicial e abrindo caminho para o pagamento de R$ 49 milhões em dívidas trabalhistas e a geração de até 200 empregos diretos.
A decisão, assinada pela juíza Ana Ilca Harter Saalfeld, atende ao pedido do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias e Cooperativas da Alimentação de Pelotas e Região e da OZ Earth Participações, vencedora do leilão da planta realizado no fim de 2024.
“É uma esperança enorme. Depois de tanta incerteza, finalmente vemos um novo começo”, declarou Lair de Mattos, presidente do sindicato, em entrevista à RádioCom Pelotas.
Justiça põe fim a uma novela de anos
Segundo Lair, a carta de arrematação encerra uma disputa que travava o destino da cooperativa. “Tentaram anular o leilão, mas os recursos foram negados. A juíza entendeu que não havia mais razão para postergar”, explicou.
Com a autorização, a OZ Earth poderá iniciar obras, estudos e aquisição de maquinário para reativar o complexo, evitando a deterioração da estrutura e restabelecendo a função social e econômica da unidade.
Dinheiro e dignidade voltam a circular
O impacto da decisão vai além das máquinas. O pagamento de R$ 49 milhões será destinado a ex-funcionários que aguardam há anos suas rescisões. “Muitos saíram sem ver um centavo. Agora poderão receber o que é deles por direito”, disse Lair.
Ele destacou que o dinheiro “vai circular na região, movimentando o comércio, os serviços e os pequenos negócios”. Em um cenário de estagnação, a reativação da Cosulati traz fôlego à economia da Metade Sul gaúcha, tradicionalmente dependente do agronegócio.
Leite em pó abre caminho para o renascimento
A retomada das operações começará pela linha de produção de leite em pó, a mais moderna e preservada. “É o setor que resistiu melhor ao tempo, com equipamentos de aço inox”, explicou o sindicalista.
Outras áreas, como a casa de máquinas, precisarão de investimentos significativos. Mesmo assim, o plano da empresa é ambicioso: retomar produtos icônicos da Cosulati, como manteiga, queijo, iogurte e leite UHT — todos intensivos em mão de obra e com forte identidade regional.
Da tradição ao futuro sustentável
A OZ Earth Participações, fundo focado em produção sustentável e alimentos orgânicos, aposta no potencial do leite da região. “O leite daqui é naturalmente superior, pelo clima, pastagem e genética do rebanho”, destacou Lair.
Ele recordou a famosa manteiga Damby, símbolo da Cosulati. “Era amarela de verdade, por causa do leite, não de corante. Nunca mais encontramos uma igual”, lamentou. Mesmo com preços mais altos, os produtos da marca sempre tiveram alta demanda e qualidade reconhecida.
Cadeia do leite regional ganha novo fôlego
A reabertura da planta representa um marco para os produtores do Sul do país, que enfrentavam altos custos logísticos. “Hoje, muitos enviam leite a mais de 300 km de distância. Isso encarece e causa perdas, principalmente no verão”, explicou Lair.
Com a reativação, o leite voltará a ser processado localmente, fortalecendo parcerias com instituições como a Embrapa, que realiza pesquisas em pecuária leiteira na região. “Sem uma usina próxima, até o trabalho técnico da Embrapa ficava comprometido”, acrescentou.
Primeiros passos já começaram
Mesmo antes do início da produção, a OZ Earth já assumiu a segurança da planta, que vinha sofrendo com furtos e sucateamento. As próximas etapas incluem reformas, novas contratações e compra de equipamentos.
A expectativa é que o movimento econômico seja sentido antes mesmo do retorno das linhas de produção. “Só com os serviços de manutenção e materiais, o impacto já será grande”, afirmou Lair, confiante de que a Cosulati voltará a ser sinônimo de qualidade e desenvolvimento regional.
*Escrito para o eDairyNews, com informações de Radiocom 104.5 FM