A crise do leite no Brasil ganha contornos dramáticos. Caravanas de produtores do Paraná se dirigem a Brasília para um encontro crucial com autoridades, marcado para o dia 4 de novembro, às 14h, no Plenário 6 do Anexo II da Câmara dos Deputados, segundo informou o deputado federal Valdir Cobalchini (MDB-SC). O objetivo é buscar soluções concretas para conter o colapso econômico que ameaça milhares de famílias rurais em um dos polos mais tradicionais de produção de leite do país.
Paraná e Santa Catarina, juntos, representam uma das maiores regiões produtoras de leite do Brasil, mas têm sofrido intensamente com a queda do preço pago ao produtor, o aumento dos custos de produção e a concorrência desigual com o leite importado. Cobalchini alerta: “O produtor está à beira do colapso. Não dá mais para esperar. Ou encontramos uma saída agora, ou milhares de famílias vão abandonar a atividade.”
A audiência contará com a presença de ministros de peso, como Carlos Fávaro (Agricultura e Pecuária) e Alexandre Padilha (Relações Institucionais), além de representantes da Embrapa, Anvisa, Fiocruz e diversas organizações de produtores. A expectativa é alinhar estratégias e cobrar do governo federal ações que assegurem a competitividade e a sobrevivência da produção nacional de leite.
Um dos pontos centrais do debate será a entrada de leite reconstituído no país, proveniente de Nova Zelândia, Austrália e Holanda, processado em Uruguai e Argentina antes de chegar ao Brasil. O produto chega a preços significativamente mais baixos, pressionando o mercado interno. Para os produtores, trata-se de concorrência desleal, que exige medidas urgentes de defesa comercial, como políticas antidumping.
O presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), deputado Pedro Lupion (PP-PR), reforça a gravidade da situação: “A crise é nacional. Estamos vendo vacas sendo enviadas para o abate, transformando leite em carne na mesa do brasileiro. Isso é resultado da ausência de medidas eficazes para conter o leite importado barato.”
Para Luciano Avatar, representante da Aperoleite, a audiência é uma oportunidade de unir forças e exigir uma resposta rápida. “É hora de erguer a voz e fazer um pedido de socorro. Se nada for feito, muitos produtores vão abandonar a atividade, e o Brasil corre o risco de perder uma de suas cadeias produtivas mais tradicionais”, afirmou.
O cenário econômico reforça a urgência. Segundo dados do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), o preço do leite cru fechou setembro com queda de 4,2% em relação ao mês anterior, atingindo R$ 2,44 por litro. Em comparação com setembro de 2024, a desvalorização chega a 19% em termos reais, descontada pela inflação medida pelo IPCA. Este foi o sexto recuo consecutivo nas cotações no campo, e a tendência é que a desvalorização continue até o fim do ano, dado o abastecimento elevado no mercado doméstico.
No acumulado de janeiro a setembro, as importações recuaram 4,8% frente a 2024, mas ainda somaram R$ 1,65 bilhão, pressionando ainda mais os produtores brasileiros. O impacto é sentido principalmente por pequenas e médias propriedades, que veem seus custos de produção superarem o valor recebido pelo litro de leite.
A mobilização das caravanas do Paraná simboliza não apenas um pedido de ajuda, mas a resistência de famílias que mantêm a tradição leiteira do país. É um chamado à ação do governo federal, à sociedade e ao mercado: sem medidas rápidas, a produção nacional de leite corre risco de retração histórica, com consequências econômicas e sociais profundas.
A audiência em Brasília promete ser um momento decisivo. Deputados, líderes do setor e representantes governamentais devem definir estratégias para garantir que o leite produzido em terras brasileiras continue competitivo, preservando empregos, tradições e a história do agronegócio no Paraná e em Santa Catarina. Para os produtores, cada litro conta, cada vaca preservada é uma vitória contra a crise.
*Escrito para o eDairyNews, com informações de O Paraná – Jornal de Fato






