Crise do leite volta a ser tema central no Paraná, onde produtores, parlamentares e autoridades locais se mobilizam para conter os impactos da concorrência com o leite em pó importado.
Uma reunião realizada nesta terça-feira (23) na Assembleia Legislativa do Paraná (Alep) reuniu dezenas de agricultores, prefeitos, vereadores e deputados estaduais para discutir medidas que possam amenizar a queda de preços enfrentada pelo setor.
O ponto de maior destaque foi o projeto de lei apresentado pelo deputado Luis Corti (PSB), que propõe proibir a reidratação de leite em pó importado no estado.
Segundo o parlamentar, essa prática tem sido uma das principais causas da desvalorização do leite pago ao produtor, principalmente durante a entressafra de inverno, quando os custos de produção aumentam e a oferta diminui.
“Nosso projeto de lei proíbe a reidratação do leite importado. Depois de aprovado, o leite em pó que entrar no Paraná não poderá mais ser transformado em leite líquido.
E, não sendo reconstituído, não concorrerá com a produção local. Como consequência, não haverá queda no preço do leite”, destacou Corti durante o encontro. Ele acrescentou que a proposta já passou pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) e agora aguarda análise da Comissão de Agricultura.
A iniciativa foi recebida com expectativa por parte dos produtores rurais, que alegam sofrer com margens cada vez mais apertadas e incertezas no mercado. Para eles, limitar a concorrência desleal com produtos importados é fundamental para manter a sustentabilidade da atividade leiteira no estado.
O presidente da Alep, deputado Alexandre Curi (PSD), reforçou o compromisso da Casa com a defesa da cadeia produtiva do leite. Ele lembrou que o setor tem peso significativo na economia paranaense, gerando emprego, renda e garantindo a sobrevivência de milhares de pequenas propriedades.
“Nosso papel é assegurar que o produtor tenha condições de continuar na atividade. Já tomamos medidas importantes, como o aumento do imposto sobre o leite importado, e seguiremos buscando soluções em parceria com as lideranças do setor”, afirmou.
Outro ponto em debate foi a necessidade de políticas públicas voltadas à valorização da produção local. A deputada Luciana Rafagnin (PT), líder do Bloco Parlamentar da Agricultura Familiar, defendeu que o governo estadual amplie a compra direta de leite produzido no Paraná para abastecer creches, escolas e hospitais.
A medida, segundo ela, garantiria preços justos aos agricultores e fortaleceria a economia regional.
“É preciso que o poder público reconheça a importância social e econômica da produção de leite no Paraná. Ampliar a aquisição institucional de leite não apenas valoriza o produtor, como também assegura alimentação de qualidade para milhares de famílias atendidas por programas públicos”, destacou Rafagnin.
A parlamentar também sugeriu a criação de uma comissão especial dentro da Alep para acompanhar de perto a crise do setor, avaliar seus impactos e propor soluções conjuntas entre produtores, governo e entidades representativas.
A discussão sobre a crise do leite no Paraná ocorre em um cenário de forte pressão nacional. O Brasil tem registrado aumento significativo na entrada de leite em pó importado, especialmente de países do Mercosul, que conseguem oferecer preços mais baixos devido a condições de produção distintas e subsídios.
Esse movimento tem afetado diretamente a remuneração do produtor brasileiro, que enfrenta custos elevados com alimentação animal, energia e mão de obra.
Para os representantes do setor presentes no encontro, a valorização da cadeia produtiva não depende apenas de medidas legislativas, mas também de uma articulação mais ampla entre União, estados e municípios.
Eles defendem que o país adote estratégias mais rígidas de controle de importações, além de políticas de incentivo à industrialização e ao consumo do leite nacional.
No Paraná, estado que figura entre os maiores produtores de leite do Brasil, a crise preocupa não apenas os agricultores, mas também toda a cadeia ligada à indústria de laticínios, transporte e comércio.
Manter o equilíbrio entre competitividade e valorização da produção local será, segundo os parlamentares, o desafio central nos próximos meses.
A expectativa é de que o projeto de lei apresentado por Corti avance nas próximas etapas dentro da Assembleia Legislativa, enquanto novos debates sobre políticas de apoio ao setor devem ocorrer.
A mobilização de deputados, produtores e entidades sinaliza que a crise do leite se consolidou como tema prioritário na agenda política e econômica do estado.
*Adaptado para eDairyNews, com informações de Folha de Curitiba
