O custo do leite voltou a subir em outubro e encontrou, em novembro, um mercado do leite novamente em queda, reforçando o aperto financeiro vivido pelos produtores em 2025.
A síntese desse quadro, revelada pelos boletins técnicos da Embrapa e analisada por especialistas do setor, confirma um fim de ano de margens comprimidas e de desafios crescentes para quem vive da atividade.
Na avaliação apresentada no programa No Agro é Massa, o especialista em agronegócio Fabiano Reis destacou o comportamento recente do Índice de Preços do Leite da Embrapa, que monitora a variação no custo de produção.
Depois de duas quedas consecutivas e de um pico registrado em julho, o indicador voltou a avançar em outubro, com alta de 0,3%. Embora o percentual pareça discreto à primeira vista, ele se soma a um acumulado de 2,6% no ano e 2,7% nos últimos 12 meses.
A comparação com a inflação oficial reforça ainda mais o peso dessa alta. Em outubro, o IPCA registrado pelo IBGE ficou em apenas 0,1%, muito abaixo da movimentação observada nos custos da atividade leiteira.
No acumulado de 12 meses, o índice geral chegou a 4,7%, ritmo que, mesmo maior, ainda apresenta diferença relevante quando confrontado com a dinâmica dos custos no campo.
Enquanto isso, a receita não acompanha o mesmo movimento. O preço médio nacional do leite ao produtor caiu novamente em novembro, de acordo com o boletim Indicadores Leite e Derivados, elaborado pelo CiLeite/Embrapa. O litro fechou o mês em R$ 2,44, queda de 3,8% na comparação mensal e retração de 14,8% em 12 meses. É um dos recuos mais expressivos desde o início da década, segundo observadores do setor.
O movimento é generalizado. Estados como São Paulo, Minas Gerais, Paraná, Goiás, Santa Catarina e Rio Grande do Sul registraram variações negativas semelhantes, próximas ao patamar de 4%.
As curvas regionais exibem um comportamento alinhado, sinalizando que a pressão sobre o produtor não se restringe a uma bacia leiteira específica, mas atinge o país como um todo.
Os derivados também seguiram em trajetória de queda. O agrupamento “Leite e Derivados” mostrou retração de 1,0%, e outro conjunto de produtos monitorados apresentou queda de 0,2%.
Entre os itens individuais, o leite UHT liderou as baixas, acompanhado por reduções em queijos, manteiga, creme de leite e leite condensado. Em muitos desses produtos, a coluna “Em 12 meses” evidencia quedas que refletem oferta ampla, demanda moderada e dificuldade de repasse pela indústria.
O consumo interno, por sua vez, não reage no ritmo esperado. O boletim mostra que o ticket médio de compra de lácteos no varejo oscilou entre 2023 e 2025, mas permanece, em 2025, abaixo dos níveis de anos anteriores. Apesar de uma ligeira recuperação no segundo semestre, o avanço ainda é insuficiente para equilibrar o mercado.
A oferta continua maior que a capacidade de absorção doméstica, o que mantém pressão sobre os preços ao produtor.
Para o campo, esse cenário reforça a centralidade da gestão. Custos crescentes, mesmo que moderados, exigem controle rigoroso de despesas. Itens como alimentação do rebanho, energia elétrica, medicamentos, tecnologia embarcada e eficiência de mão de obra tornam-se decisivos para evitar a perda de competitividade.
Para propriedades de menor escala, pequenas oscilações nesses insumos podem determinar a diferença entre operar no azul ou no vermelho.
A mensagem dos indicadores, somada à percepção cotidiana dos produtores, é clara: a sustentabilidade da atividade depende cada vez mais de planejamento, capacidade de negociar insumos e flexibilidade para ajustar o sistema produtivo.
Diante de uma inflação oficial relativamente controlada, mas com o custo do leite avançando acima da média e um mercado do leite enfraquecido, a atividade entra no fechamento de 2025 com margens apertadas e perspectivas cautelosas para a temporada 2026.
*Escrito para o eDairyNews, com informações de O Presente Rural e RCN67






